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Seminário 64+40: Golpe e Campo(u)s de resistência

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agencia1078T.jpgAlguém já definiu um acontecimento como uma mudança no curso da história que marca de modo indelével a posteridade. O golpe militar de 1964 foi um acontecimento dessa natureza. Não foi uma revolução, caso mais comum de ruptura desse teor, mas, exatamente, seu inverso. Uma contra-revolução que bloqueou uma pauta de mudanças estruturais de democratização da sociedade brasileira.
Quarenta anos depois do 1º de abril de 64, os temas que foram bloqueados, visando a este acontecimento, se mantêm atuais. Estão postas com urgência nas disputas políticas de hoje questões como a reforma agrária, a reforma do ensino – e universitária -, a sangria das remessas de lucros após um desastrado processo de privatização, a soberania nacional etc. As modernizações sem a democratização da sociedade e do Estado são um eterno retorno na dinâmica política nacional. O sentido profundo do golpe foi instaurar essa continuidade num contexto em que se fazia possível seu inverso. Deste aspecto decorre o seu sentido traumático e emblemático que se faz necessário discutir, para que aquilo que ele representou nunca mais se repita. Este é o nosso compromisso. O CFCH da UFRJ promove um grande evento para discutir o sentido do golpe 64 e os elementos autoritários que permanecem na sociedade brasileira. A grandeza desse evento, como requer a reflexão sobre um acontecimento de tal envergadura, se espalhará em uma programação, ao longo de 5 dias (29 de março a 2 de abril), pelo Campus da Praia Vermelha, com uma diversidade de manifestações que vão do debate ao testemunho, do teatro à poesia, do cinema à universidade e à imprensa.
O objetivo é produzir um vasto painel que recupere as diferentes formas como foram vividos os 21 anos de ditadura. Desde a reflexão dura da política e da historiografia, em meio aos depoimentos ternos do endurecimento que foi necessário para resistir ao horror autoritário, até a ternura da poesia, do teatro e do cinema e sua dura denúncia do arbítrio e apurada reflexão – como nunca mais se repetiu em nossa história – sobre o Brasil e seus dilemas.
Acreditamos que a forma desse grande evento, ao misturar sentimentos ainda fortes com reflexões ousadas daqueles acontecimentos, pode mostrar o quanto nos falta e o quanto nos calou profundamente a história do país nestes últimos 40 anos.
A falta que nos faz, por exemplo, os que morreram na luta pela resistência; a falta que nos faz as suas grandes idéias, que traduziam em empenhos generosos o sonho de uma nação justa e democrática. Se houve momentos memoráveis de resistência, queremos recuperá-los com seus atores, que conseguiam ser tão grandes quanto suas idéias. Ao homenageá-los, queremos sugerir que grandes projetos precisam de homens e mulheres capazes de se desprender do cotidiano amedrontado da atualidade.
A maior universidade federal do Brasil não poderia se furtar deste papel, principalmente num momento em que se abrem novamente as veredas para se redefinir os grandes temas bloqueados em 64. Ela, um campo que semeou momentos inesquecíveis da resistência democrática, precisa agora, novamente, chamar para si esse relevante papel de aglutinar e pensar os grandes problemas nacionais e as novas resistências.
É isso o que temem os que preferem que o conhecimento e o saber se mercantilizem generalizadamente. Contra isso convidamos todos para participarem deste evento cuja construção comum do que foi nos permite melhor definir o que queremos.

Maiores detalhes sobre o evento entrar na página http://www.cfch.ufrj.br/64mais40/