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UFRJ: Tradição em Vestibulares

Por tradição, o vestibular da UFRJ é o concurso de seleção para cursos de graduação mais respeitado do país, e o deste ano chega ao seu fim com um balanço positivo, tanto para os candidatos quanto para seus organizadores. Com pequenas mudanças em relação ao concurso do ano anterior, mas ainda bem similar, prova-se, mais uma vez, que tudo o que é feito tem critério científico e é analisado antes da realização.

agencia977T.jpgPor tradição, o vestibular da UFRJ é o concurso de seleção para cursos de graduação mais respeitado do país, e o deste ano chega ao seu fim com um balanço positivo, tanto para os candidatos quanto para seus organizadores. Com pequenas mudanças em relação ao concurso do ano anterior, mas ainda bem similar, prova-se, mais uma vez, que tudo o que é feito tem critério científico e é analisado antes da realização.
Segundo Luiz Otávio Teixeira Mendes Langlois, professor do Instituto de Matemática e coordenador da Comissão Executiva do Vestibular, o modelo é basicamente o mesmo, houve apenas uma inversão em relação às datas. Neste ano, os candidatos começaram fazendo as provas específicas. Tiveram, no primeiro dia de prova, português, redação e uma disciplina específica, enquanto as não específicas foram feitas no segundo dia de prova. Tivemos que começar fazendo a prova de português, para dispormos de tempo hábil para corrigir as questões discursivas e a redação. Do ponto de vista acadêmico, nada mudou. Luiz Otávio acredita que as duas provas funcionaram bem, no sentido de que cumpriram seu papel: souberam discriminar bons alunos dos excelentes. “De modo geral, fiquei satisfeito com os resultados. – declara o coordenador.
Um dos maiores problemas que os vestibulandos reclamam, os zeros nas provas, principalmente nas de física, também foi abordado pelo professor. Para ele, dificuldades com física e química sempre existem, em especial quando são matérias não específicas. A percentagem de notas zero em física é assustadora, e isso é impressionante porque independe do grau de dificuldade da prova, destaca Luiz Otávio. Certamente há uma quantidade muito grande de alunos que sequer teve professor de física. São oriundos de escolas públicas, na maioria das vezes, e não têm preparação ideal para fazer a prova. Luiz Otávio comenta que “os professores são muito fracos, o desestímulo é muito grande. Uma série de aspectos que fazem física e química se tornarem um problema muito sério para os vestibulandos. Eu fico sempre imaginando uma maneira de contornar isso.”
Uma das saídas propostas é não mais cobrar como eliminatórias as disciplinas mais problemáticas, no que se refere a cursos em que elas são não-específicas, como nos de música, em que o mais importante é o aluno ser avaliado pelo seu trabalho apresentado no Teste de Habilidade Específica (THE). No caso de matérias como história e geografia, Luiz Otávio acredita que elas devem continuar eliminatórias, pois compõem parte do que se chama de cidadania. Afirma ainda que a não cobrança de determinadas disciplinas nos exames de acesso à Universidade poderia levar a desobrigação dos colégios de ensino médio comprometendo a formação do estudante e não lhe dando base para se identificar com alguma área.
O vestibular é uma coisa muito cansativa. Os alunos ficam muito estressados, é um concurso atrás do outro. Eu sou a favor que cada universidade faça o seu concurso. Deve-se aperfeiçoar o nosso modelo, que já é muito bom. Eu sempre disse, com muito orgulho, que a UFRJ faz o melhor vestibular do país, sendo muito respeitada por isso. Qualquer mudança deve ser feita com muito cuidado, opina o professor.
Atualmente, quem coordena o que vai ser cobrado e como isso será feito é o Conselho do Ensino de Graduação (CEG).
Uma suspeita que assusta vários dos futuros candidatos a alunos da UFRJ é a possibilidade afirmada por alguns professores na mídia de que conhecimentos de filosofia e sociologia seriam cobrados nas próximas provas. O professor se mostra radicalmente contra, porque o ensino médio não oferece aulas de filosofia e de sociologia. Qualquer proposta neste sentido só irá beneficiar alunos das escolas que podem manter professores destas áreas de conhecimento, especialmente as escolas particulares. Criaria-se novamente um mecanismo que só atenderia àqueles alunos que já são bem atendidos. Para Luiz Otávio qualquer proposta neste sentido, sem articulação com o ensino médio é um desastre na certa.

Democratização do acesso
O professor não deixa claro qual o sistema a ser implantado, mas fala que não seria o sistema de cotas. A entrada na Universidade pelos alunos de classes mais baixas não desconsideraria o mérito deles. Em biologia, as notas de alunos oriundos de escolas públicas eventualmente são maiores do que as notas apresentadas pelo melhores alunos dos melhores colégios particulares, ou seja: não se pode desmerecer a inteligência e o conhecimento de um candidato apenas pela sua origem escolar.
A UFRJ sempre tratou o vestibular com muito cuidado, estudando possibilidades antes da implantação de outros sistemas. A única vez em que houve uma mudança brusca foi quando, em 1988, ela se desvinculou do vestibular unificado e estabeleceu concurso de seleção independente, constituindo, assim, num desafio vencido pela Universidade. Segundo o professor, toda e qualquer mudança no concurso será ancorada em estudos e pesquisas, como já é costume da UFRJ.