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Auxílio a crianças portadoras de AIDS no IPPMG

O Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), o Hospital Infantil da UFRJ, mantém há cerca de 14 anos um Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP-Imuno) de assistência a crianças portadoras do vírus da AIDS que é uma referência no Estado do Rio de Janeiro e um dos melhores do mundo.

agencia818T.jpgO Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), o Hospital Infantil da UFRJ, mantém há cerca de 14 anos um Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP-Imuno) de assistência a crianças portadoras do vírus da AIDS que é uma referência no Estado do Rio de Janeiro e um dos melhores do mundo. Na verdade, apesar de ser um hospital pediátrico, o IPPMG tem um Programa de Assistência Integral à Gestante HIV Positiva, realizando um pré-natal especial – com prevenções para o vírus não ser transmitido para o feto. Por isso, além de tratar as crianças comprovadamente infectadas, o programa faz o acompanhamento de bebês cujas mães infectadas tiveram o pré-natal realizado no IPPMG, até ser definido se ele conseguiu ficar imune à doença.
Coordenado pela professora Susie Andries Nogueira, atualmente aposentada pela UFRJ, mas que mantém o acompanhamento voluntário para atendimento às gestantes, este programa de prevenção feito durante a gravidez para que a mãe portadora do vírus HIV não contamine seu filho tem tido resultados expressivos. A taxa de transmissão no Brasil está em torno de 40% – ou seja, de cada 100 mães infectadas, 40 transmitem o vírus para seu bebê. Com estes tratamentos preventivos realizados pelo IPPMG, a taxa de transmissão dentro do Hospital Infantil da UFRJ é em torno de 1%. Tudo isso graças ao atendimento de pré-natal integrado entre o serviço de obstetrícia e o serviço de infectologia, no qual a mãe recebe medicamentos anti-retrovirais e tem seu trabalho de parto adequado às recomendações do Ministério da Saúde.
Para manter o bebê que foi exposto ao vírus longe da infecção mesmo depois de nascido, o ambulatório DIP-Imuno, que é chefiado pelo Dr. Ricardo Hugo Oliveira, fornece leite artificial para que não ocorra a transmissão através da amamentação e AZT xarope durante um mês e meio de vida. Depois disso, a primeira tentativa de diagnóstico é no primeiro ou segundo mês, quando é medida a carga viral. Aos 4 ou 5 meses de idade, é feita a segunda medição, cujo resultado negativo traz o afastamento da possibilidade de infecção.
No entanto, esta criança é acompanhada até um ano e meio de idade. Isso porque ela recebe leite até um ano e porque ela pode ter anticorpo da mãe em seu organismo (passado pela placenta) até esta idade (18 meses). Ou seja, para ter certeza absoluta de que a criança não tem infecção e para tranqüilizar a família, é feita uma pesquisa constante do anticorpo anti HIV (ELISA), pois, se ela não perdê-los depois de perder todos os da mãe, é porque ela tem a infecção. Caso ela não possua mais estes anticorpos, ela recebe alta.
Além das crianças que nascem dentro da UFRJ, o ambulatório DIP-Imuno recebe crianças portadoras do vírus da AIDS – de qualquer classe social ou região do Brasil – de até 12 anos que são acompanhadas até os 16/17 anos, quando ela é transferida para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Até porque, atualmente, no Brasil e no mundo, mais de 95% das crianças se infectam pela transmissão vertical, isto é, elas são filhas de mães que têm o vírus. É extremamente incomum a transmissão por transfusão de sangue, já que este é muito bem controlado, mas é possível encontrar crianças que foram infectadas ou pelo uso de drogas injetáveis ou por abuso sexual.
“Muitas crianças chegam aqui infectadas porque as mães não fizeram o pré-natal. Mas existe o problema que, muitas vezes, a mãe faz o pré-natal em outro lugar e não é solicitado o exame anti-HIV – o que é um absurdo. Hoje em dia a gente tem o que oferecer a essas mães, é diferente da situação de antigamente em que só se sabia quem tinha ou não o vírus, mas não se sabia o que fazer com isso”, ressaltou a Dr. Thalita Abreu, professora assistente do Departamento de Pediatria da UFRJ.
Uma criança infectada, depois de ter algum sintoma da doença, precisa ser tratada como os adultos: com coquetel, normalmente usando-se duas ou três drogas anti-retrovirais que vão garantir que o vírus não se replique e vão proteger a imunidade dela. Este tratamento é feito de acordo com as normas do Ministério da Saúde: ou quando elas têm indicação clínica (momento em que ficam doentes) ou quando elas têm indicação laboratorial (se o CD4 – linfócito contado para saber como anda a imunidade – começa a cair). Para isso, é preciso ser feito um acompanhamento regular – as crianças são consultadas a cada dois ou três meses, a fim de que sejam medidas sua carga viral e sua taxa de CD4.
Toda esta medicação aplicada a estas crianças é fornecida pelo Ministério da Saúde gratuitamente. Na verdade, o Ministério da Saúde fornece anti-retroviral para todo Brasil – nenhuma criança e nenhum adulto precisam gastar dinheiro para fazer o tratamento da AIDS em nosso país. Fato que o diferencia do resto do mundo, pois somos o único país que fornece esta medicação gratuita universalmente, e facilita o acesso ao tratamento, já que um kit básico mensal dos coquetéis custa cerca de mil reais.
O IPPMG atende hoje entre 400 e 500 crianças que foram expostas ou infectadas pelo vírus da AIDS. Embora seja certo o fato de que as crianças que realmente possuem o HIV um dia virão a desenvolver algum sintoma da doença, com todo este acompanhamento especial, elas podem ter uma vida normal. Desde sua alimentação, passando pela prática de esportes e pela vida escolar, até sua vacinação (excetuando o reforço da BCG), estes meninos e meninas podem ser crianças saudáveis. Eles vão ter uma infância natural, com um pouco de infecções a mais e tomando algumas medicações diferentes, mas nada que os diferencie das demais crianças, assim como acontece com crianças diabéticas, por exemplo, que precisam tomar insulina para o resto da vida.
E a UFRJ vem se esforçando, cada vez mais, para estar sempre buscando aprimoramentos no tratamento das crianças portadoras do vírus HIV. “O IPPMG tem desenvolvido, inclusive, pesquisas internacionais com o patrocínio do governo americano há cerca de 4 anos, com o intuito de produzir avanços nas tecnologias de diminuição da transmissão de mãe para filho e, de maneira geral, tratar melhor as crianças portadoras da doença”, enfatizou o Dr. Ricardo Hugo Oliveira.
É claro que, num programa como este, ajuda de qualquer gênero é sempre bem-vinda. Já existe o suporte feito pela ONG – Associação dos Amigos do Programa de Assistência Integral à Gestante HIV Positiva, cuja renda é revertida para a compra de medicamentos para as gestantes (sem ser anti-retrovirais), fornecimento de leite integral às crianças e enxovais para o bebê. Quem se interessar em fazer contribuições, pode acessar o site www.amigosgestantecomhiv.org.br.