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Um voto pela proteção da ciência brasileira 

Primeira Brigada Universitária de Produtos Perigosos do Brasil do CCS/UFRJ é finalista em concurso de inovação da Enap. Público pode votar até dia 1º/10 no site

Um projeto desenvolvido dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está entre os finalistas do Concurso Inovação no Setor Público 2025, realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap). A responsável por gerar mais esse orgulho para a Minerva é uma iniciativa pioneira em segurança, desenvolvida pelo Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ. Trata-se da Primeira Brigada Universitária de Produtos Perigosos do Brasil, que está concorrendo na categoria Inovação em Processos Organizacionais no Poder Executivo Federal, Estadual e do Distrito Federal, juntamente com outros cinco projetos oriundos de Minas Gerais, Ceará, Distrito Federal e Paraná. A votação popular já está aberta e ficará disponível até o dia 1º/10 na página oficial do concurso. 

Durante quase três décadas, a premiação da Enap busca reconhecer e valorizar equipes de servidores que atuam de forma inovadora em benefício do interesse público. A partir dessa premissa, é fácil compreender o porquê da trajetória da referida Brigada ter se tornado uma das favoritas na 29ª edição do concurso. Funcionando 24 horas por dia, nos sete dias da semana, a equipe sempre está a postos para atender ocorrências, que vão desde incêndios e seus princípios até emergências com produtos químicos e biológicos. O grupo também age em casos de intoxicação, incidentes com animais peçonhentos e prestação de primeiros socorros. Os serviços são direcionados para toda a comunidade do CCS e também aos transeuntes, que passam pelo local: 

“Votar na Brigada é votar para proteger vidas humanas, anos de pesquisa e a infraestrutura do nosso país. Vivemos um momento na geopolítica global em que a ciência é fundamental para o futuro do Brasil. Vencer este concurso trará a visibilidade necessária para que o nosso modelo seja replicado em outras universidades e institutos federais. Portanto, um voto na Brigada é um voto para proteger a ciência brasileira”, enfatiza o idealizador da ação e coordenador do Inova CCS, Lucas Pinho. 

Idealizador da Primeira Brigada Universitária de Produtos Perigosos do Brasil do CCS/UFRJ, Lucas Pinho, durante treinamento de voluntários | Foto: Renato Mariz (CCS/UFRJ)

Acender ideias, prevenir incêndios

Desde 2015, o trabalho do grupo passou a ter duas frentes de ação: a Brigada Voluntária de Incêndio (BVI) que, em seus primeiros anos, atuou em 90 princípios de incêndio e em 11 incêndios; e a Brigada Voluntária de Produtos Perigosos (BVPP), que atendeu e resolveu 39 situações de emergência química. De lá para cá, os resultados só ratificam a importância da iniciativa para a comunidade universitária. Conforme Pinho, atualmente é raro a ocorrência de algum acidente químico ou incêndio no CCS, mas, caso ocorra, há uma certeza: a de que a equipe dará uma resposta rápida e eficiente.  

“O mais significativo não foi o alto número de atendimentos, mas a nossa evolução para um trabalho focado na prevenção. Com o tempo, conseguimos zerar essas emergências. O ano de 2024 foi o nosso primeiro com zero princípios de incêndio. Já em 2025, tivemos apenas uma ocorrência, que a equipe conseguiu debelar em somente três minutos.” 

Com esse histórico, uma década após sua criação, a Brigada Universitária de Produtos Perigosos do Brasil segue arrancando elogios de quem observa no cotidiano os impactos da iniciativa. O decano do Centro de Ciências da Saúde, Luiz Eurico Nasciutti, por exemplo, expressou o significado para o CCS de a Brigada estar entre os finalistas do Concurso da Enap:   

“Essa classificação nos deixa muito felizes e demonstra, mais uma vez, o protagonismo e a excelência do desenvolvimento e do funcionamento do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, o qual tem um número de quase 400 laboratórios de pesquisa, que utilizam os mais diferentes insumos e materiais, muitos deles perigosos e que precisam ter um controle realmente efetivo. A presença desta Brigada só nos orgulha e mostra que podemos trabalhar com segurança nos nossos experimentos, na nossa rotina diária. Esperamos que ela seja a vencedora!”, torce. 

Equipe diversa e igualitária a postos

Uma das peculiaridades da Brigada é a diversidade em sua composição: técnicos administrativos em educação, docentes, alunos de graduação e pós-graduação, funcionários terceirizados, prestadores de serviços, além de bombeiros profissionais civis, que há dois anos aderiram ao trabalho, aumentando de maneira considerável o poder de resposta da equipe. E a representatividade não para por aí, já que a Brigada tem paridade de gênero, sendo igualmente integrada por homens e mulheres. 

Preparação, na prática, para integrar a Brigada do CCS | Foto: Ana Marina Coutinho  (SGCOM/UFRJ)

Em meio aos 150 voluntários na Brigada de Incêndio e 100 na Brigada de Produtos Perigosos, chegamos à coordenadora do Núcleo de Biossegurança do Instituto de Ciências Biomédicas (NuBio-ICB), Andréa Maria Fantinatti. Em 2014, a servidora participou da primeira formação da Brigada Voluntária de Incêndio do CCS, passando por treinamento teórico e prático em campo de provas, com direito a casa de fumaça, mangueiras e outras simulações emergenciais: 

“Quando comecei na UFRJ, já possuía 11 anos de trabalho fora do serviço público. Como atuava na área de Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional, sempre prestei atenção a esses temas e busquei me envolver com os mesmos aqui no CCS. Assim, desde o início, atuei voluntariamente junto às destinações de resíduos químicos no CCS, vindo também a participar dos treinamentos oferecidos para prevenção e combate a princípio de incêndio”, afirma a técnica de Laboratório/Química, que segue como integrante do grupo acompanhando informes e  comunicando possíveis situações geradoras de riscos, a fim de melhorar condutas no ambiente de trabalho. 

Brigada acadêmica 

Além de ser a primeira resposta que garante a segurança do campus, a Brigada contribui igualmente como um polo de formação, pesquisa e inovação tecnológica dentro da Universidade. O grupo colabora com cursos de graduação e pós-graduação e, em 2022, ainda foi contemplado pelo edital Conexões para Inovação. Desde então, a equipe desenvolve pesquisas em parceria com a Petrobras, fazendo uso de simuladores de realidade virtual para treinamentos e estudos em prevenção. 

A própria experiência de Pinho na condução da Brigada também tornou-se base para sua tese de doutorado, que será defendida em breve. A produção acadêmica está sob a orientação do professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ Pedro Lagerblad, um dos primeiros docentes a ingressar no grupo voluntário, em 2015. Na ocasião, ele lembra que o comprometimento dos servidores para preservar a UFRJ, no que diz respeito à segurança pessoal e patrimonial, foi o que mais o impressionou e comoveu:  “Não havia nenhuma espécie de adicional, era só um plus a mais de trabalho, mas as  pessoas estavam ali se doando e reafirmando a necessidade de proteger a instituição”. 

Treinamento e ação

Lagerblad relatou duas ocorrências que marcaram sua trajetória como brigadista. Em uma delas, um laboratório chegou a ser destruído, mas a ação do grupo conseguiu diminuir a intensidade do incêndio, impedindo que se alastrasse para outras dependências, antes da chegada do Corpo de Bombeiros. “O outro episódio foi no subsolo da Microbiologia. Realizamos a evacuação do bloco inteiro, identificamos e interrompemos o vazamento de gás. Foi uma situação que poderia gerar um acidente de proporções gravíssimas.” 

 Iniciativa pode ser modelo para outras instituições | Foto: Ana Marina Coutinho  (SGCOM/UFRJ)

Todos os procedimentos utilizados em ações como essa são precedidas pelo treinamento, que é a porta de entrada para o projeto. Anualmente, é previsto o oferecimento de um curso de formação para a Brigada de Incêndio e outro para a Brigada de Produtos Perigosos, de acordo com os recursos disponíveis. A participação em uma das turmas é indispensável para fazer parte da equipe. Mas, para quem já quer contribuir com o reconhecimento do trabalho do grupo, uma boa oportunidade é registrar seu apoio à Brigada da UFRJ  na votação popular do concurso da Enap: 

“Contamos com o apoio da nossa comunidade universitária — não somente do CCS, mas de toda a UFRJ — e de nossos parceiros, como o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil. Sabemos que a competição é acirrada, com grandes concorrentes, mas acreditamos que a nossa solução tem um grande diferencial: além de ter resolvido um problema real no CCS, ela é altamente escalonável. É importante lembrar que o Brasil tem 69 universidades e 49 institutos federais, e muitos deles lidam com produtos perigosos sem ter uma estrutura de resposta a emergências. A nossa iniciativa pode servir de modelo para essas outras instituições. Por isso, mais do que o prêmio em si, acreditamos que a visibilidade do concurso pode ajudar a levar essa solução para outros locais que enfrentam os mesmos desafios”, conclui Pinho.  

Para participar da votação popular do 29º Concurso de Inovação da Enap,  basta acessar o link https://www.enap.gov.br/pesquisa-e-conhecimento/concursos-e-premiacoes/concurso-de-inovavao-29/sistema-de-vota%C3%A7%C3%A3o/