O Laboratório de Geologia Sedimentar (Lagesed) do Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) iniciou uma sondagem estratigráfica na bacia do Paraná que irá perfurar, testemunhar e perfilar geofisicamente, de forma contínua, 1.000 metros da sucessão vulcânica do Grupo Serra Geral (início do Cretáceo), para estudos geológicos de viabilidade de injeção e estocagem de dióxido de carbono (CO₂) em basaltos, no contexto da captura e armazenamento de carbono (carbon capture and storage ou CCS)
Os projetos do Lagesed envolvem temas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) aplicadas à geologia do petróleo, como a caracterização geológica dos reservatórios calcários pré-sal, e, mais recentemente, temas voltados às mudanças globais e à transição energética. Os estudos, multidisciplinares, envolvem análises petrográficas, petrofísicas, geoquímicas e geofísicas.

O estudo inédito sobre CCS, cujo projeto de P&D é denominado GECO2, é financiado com recursos da participação especial da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) com o apoio da empresa ExxonMobil Brasil.
O projeto GECO2 procura avaliar geologicamente o potencial de injeção do dióxido de carbono nas rochas basálticas do Grupo Serra Geral, nas quais há a perspectiva de reação química com minerais silicáticos cálcicos, ferrosos e magnesianos, obtendo como produto novos minerais, como carbonatos desses elementos. Assim, é possível remover definitivamente o dióxido de carbono da atmosfera, sob forma desses minerais.
“Na bacia do Paraná, temos um um intervalo estratigráfico bastante expressivo desse tipo de rocha vulcânica, o basalto, que alcança até 2.000 metros de espessura. Nossa investigação procura caracterizar não só a natureza mineralógica destas rochas, mas também a porosidade e a permeabilidade delas, além de outros atributos geológicos, como fraturas e falhas. A distribuição espacial das propriedades investigadas é feita através da correlação com outros poços de sondagem na bacia e da interpretação sísmica, para que se possa fazer a injeção do CO₂ em escala econômica e com segurança ambiental e social”, explica o coordenador do Lagesed, professor Leonardo Borghi.
O CO₂ é um gás associado ao aquecimento global pelo efeito estufa. Seu incremento afeta, além do clima, a acidificação dos oceanos e problemas de saúde, como doenças respiratórias. A concentração de CO₂ vem alcançando patamares históricos em função do crescimento das atividades industriais e da queima de combustíveis fósseis, despertando preocupações mundiais em relação às mudanças globais e seus impactos sociais.
Através de sondagens, os geólogos conseguem recuperar, em profundidade, amostras cilíndricas de rochas, chamadas de testemunho de sondagem. Na UFRJ essas amostras estão depositadas em uma litoteca no Igeo, uma espécie de biblioteca de rochas. No local, há diversas caixas contendo testemunhos de vários projetos, que ficam arquivados e são utilizados para estudos. “Essas rochas são extremamente importantes por serem evidências diretas para uma série de estudos geológicos, como as que tratamos no projeto GECO2”, destaca Borghi.

“Desenvolvi meu doutorado na Nova Zelândia, justamente em vulcanologia, com reservatórios vulcânicos aplicados à indústria do óleo e gás, e também para captura de CO₂. Quando esse projeto surgiu, foi uma bênção para mim. Foi exatamente tudo que eu estudei ao longo da minha trajetória na geologia. No projeto, busco esse entendimento petrológico junto com outros pesquisadores. Observo também a parte da estratigrafia, analisando como essas rochas foram se empilhando ao longo do processo geológico”, salienta o geólogo pesquisador do projeto, Marcos Rossetti.
O projeto é multidisciplinar e busca também a qualificação de pessoas para o mercado de trabalho. Estão envolvidos na iniciativa alunos de graduação, em iniciações científicas, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Além de alunos da UFRJ, o projeto conta ainda com parcerias e é aberto para alunos de outras instituições. “Para mim, a integração com todas as áreas dentro do projeto é importante, pois estou fazendo toda parte analítica do estudo e preciso entender o que cada pesquisador está realizando. O mercado de trabalho também está buscando pessoas que entendam do ciclo do carbono. A transição energética é um tema muito atual”, explica a geóloga Camille Longo, pesquisadora na parte analítica do projeto GECO2.

O Laboratório de Geologia Sedimentar está localizado no Instituto de Geociências, no bloco J1 do prédio do CCMN da UFRJ.
