Uma das queixas comuns em quem busca por atendimento médico é o tratamento padronizado oferecido por parte dos profissionais. Muito se fala sobre a falta do olhar holístico sobre a vida do paciente, importante para o entendimento das suas questões e histórico genético e familiar. E a medicina de precisão é a área que tem o intuito de individualizar os tratamentos de saúde e otimizar os resultados. Ela busca alinhar os dados já tradicionalmente utilizados para diagnóstico e tratamento – sinais, sintomas, histórico pessoal ou familiar e exames complementares ao perfil genético do indivíduo.
Técnicas desenvolvidas por estudos na área da medicina de precisão podem fazer com que patologias sejam analisadas de acordo com a susceptibilidade que o paciente tenha, mesmo antes que elas se manifestem clinicamente, ou que medicamentos sejam escolhidos de maneira que minimizem os prováveis efeitos colaterais, por exemplo. Ao pensar na sociedade, podem contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas de acordo com as necessidades da população brasileira.
A UFRJ conta com um centro dedicado exclusivamente a essa vertente. O Centro de Pesquisas em Medicina de Precisão da UFRJ (CPMP) é integrante do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), uma das unidades de ensino e pesquisa do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Localizado na Avenida Carlos Chagas Filho, na Cidade Universitária, a área é o primeiro prédio da expansão do Centro, denominada CCS 2. Com cinco pavimentos, o prédio tem a área total de cinco mil metros quadrados para a realização de pesquisas laboratoriais. A obra foi financiada com recursos do CT-Saúde, um dos fundos setoriais vinculados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Atualmente, são cerca de 170 profissionais trabalhando no local, entre professores, pesquisadores, tecnólogos, pós-graduandos e alunos de graduação.
Adalberto Vieyra, professor de Bioquímica da UFRJ; Antonio Carlos Campos de Carvalho, professor emérito da Universidade e diretor do Instituto de Biofísica da UFRJ; e Wanderley de Souza, professor do Instituto, são os coordenadores científicos do CPMP. O Centro possui profissionais e equipamentos para investigar individualidades do organismo humano, a partir da identificação de características genéticas de doenças hereditárias raras e complexas, que têm custo elevado e não acessível à maior parcela da sociedade brasileira, criando bases para a implementação da medicina de precisão na UFRJ e, consequentemente, no Brasil.

O Centro conta com seis laboratórios: Laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer, Laboratório de Cardiologia Celular Molecular, Laboratório de Eletrofisiologia Cardíaca, Laboratório de Vetores Virais, Laboratório de Físico-Química Biológica, e o Laboratório de Fisiologia Endócrina. Cada um deles tem múltiplas linhas de pesquisa.
Adriana Carvalho, professora do Instituto de Biofísica da UFRJ, afirma que, ao idealizar o prédio, a equipe responsável pelo projeto pensou em uma estrutura colaborativa. “O desenho do CCS é um desenho muito antigo, cada laboratório tem a sua salinha, sua porta fechada e eles não necessariamente se comunicam. Então a gente aqui tentou fazer áreas amplas pra gente poder estimular a colaboração, um modelo que já é usado no exterior”, explica.
Em um futuro próximo, será possível aliar os perfis proteico e metabólico ao perfil genético de uma pessoa, proporcionando a produção de terapias e medicamentos mais eficazes. Para a indústria, é a chave do desenvolvimento de soluções para pacientes que não respondem a tratamentos convencionais e pode, potencialmente, reduzir os custos e a demora dos ensaios clínicos.
Pesquisa: Tatiana Moura