Celebrado no dia 23/4, o Dia do Livro é uma data comemorativa que tem origem na Espanha, mais especificamente na Catalunha. Neste ano, a data chega com novos ares na cidade do Rio. Em 2025, ela foi escolhida como capital mundial do livro, título que passará a valer por um ano a partir de hoje. Esta é a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa leva o título.
A homenagem foi criada em 2001 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em colaboração com integrantes da indústria editorial e literária, como a Associação Internacional dos Editores (IPA), a Federação Internacional de Vendedores de Livros (IBF) e a Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA). Em suas mais de 20 edições, o objetivo da nomeação é reconhecer as atividades de promoção à leitura nas cidades agraciadas.
(Reprodução: Beth Santos/Prefeitura)
Em evento realizado no Real Gabinete Português de Leitura, em 11/4, a Prefeitura do Rio deu início às primeiras atividades relacionadas à nomeação. Durante a cerimônia, foram revelados o slogan, a identidade visual e a marca oficial do evento, escolhidos pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Além da proposta escolhida, concorreram mais de 21 ideais projetadas por designers cariocas. Na logo escolhida, a silhueta de um livro aberto se une à silhueta do Pão de Açúcar, associando elementos visuais e paisagísticos da cidade com o universo da literatura. Para sintetizar a cultura leitora da cidade, o slogan vencedor foi “O Rio de Janeiro Continua Lendo”, em referência à canção Aquele Abraço, de Gilberto Gil.
Além da revelação, foi divulgado o calendário oficial de eventos, que comemora a nomeação, com exposições, rodas de leitura, cafés literários e saraus. A lista é encabeçada por grandes ações como a Bienal do Livro, com edição comemorativa ao título; uma edição inédita do Prêmio Jabuti; a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e feiras como as de Santa Teresa e Santa Cruz. A lista completa de atividades está disponível nas redes sociais da Prefeitura do Rio de Janeiro.
UFRJ entra no ritmo de comemoração
A Universidade Federal do Rio de Janeiro não poderia ficar de fora da celebração. Hoje, a UFRJ conta com 43 bibliotecas e espaços de leitura disponíveis tanto para alunos como para o público externo da capital, de Macaé e de Duque de Caxias. “Esse número expressivo nos dá uma força de atuação na democratização da leitura no estado do Rio de Janeiro”, declara Amanda Moura, diretora da Divisão Centro Referencial do Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) da UFRJ.
Esse potencial de atuação das bibliotecas da Universidade motivou os bibliotecários a pensarem em eventos e atividades coordenadas em todos os campi para comemorar o Dia do Livro e a nomeação da Unesco. “Uma das nossas ideias é constituir um clube de leitura para comemorar esse título e discutir literatura”, afirma Josiane Alcântara, coordenadora da Divisão de Desenvolvimento de Bibliotecas do SiBI. O clube UFRJ Literária, que vai iniciar suas atividades no dia 29/4 nos jardins do Museu Nacional, vai debater literatura indígena e promover trocas entre alunos e leitores.
Além disso, a expectativa do Sibi é promover exposições temáticas nas bibliotecas da UFRJ e incentivar as visitas a outros espaços importantes da Universidade, como o Observatório do Valongo, espaços culturais e museus. “A nossa ideia não é só a questão do livro em si, mas queremos levar as pessoas para dentro das bibliotecas para ler, discutir, conhecer outras pessoas, ter interação com autores”, sintetiza Alcântara.
Apesar do lazer e encontros entre alunos, ainda há dificuldades a serem enfrentadas. Para Amanda Moura, a data só se tornará realmente benéfica para a cidade e para a Universidade se causar uma virada importante nas políticas públicas e na verba destinada à cultura. “Só assim o livro realmente será visto como algo popular, que deve ser cotidiano, que deve ser diário na vida das pessoas”, afirma.
Literatura e os cursos de graduação
Dentro dos cursos de graduação também há desafios a serem superados, como o majoritário interesse por best-sellers e o preço inacessível de livros fora das bibliotecas universitárias. Desde 2008, o Laboratório de Comunicação, Literatura, Linguagens e Tecnologias (Labcomllit) da Escola de Comunicação (ECO) vem tentando enfrentar esses desafios. Suas atividades, promovidas majoritariamente no campus da Praia Vermelha, buscam debater todas as formas de expressão artística e literária que envolvem a produção cultural.
Além de incentivar debates, o Labcomllit incentiva que os alunos extensionistas se envolvam com atividades de escrita, rodas de leitura e pesquisas sobre autores consagrados. “Eu percebi que muitos alunos não conheciam autores importantes e históricos”, explica Mercia Roseli, que comanda o laboratório. “O Labcomllit foi criado para se preocupar com a memória desses escritores, mantê-las e retomar essas histórias.” Alguns dos autores já celebrados pelo laboratório foram Lima Barreto, Rubens Figueiredo, Alice Santana e Jorge Viveiros de Castro.
Neste ano, o Labcomllit também quer entrar na onda de celebrações pela capital do livro. A ideia é levar seus extensionistas, a maioria alunos do curso de Jornalismo, para cobrir a Bienal do Livro 2025, que também vai comemorar o título. “Além da Bienal, estamos mapeando os editais da Prefeitura que promoveram eventos de literatura para essa comemoração, mas queremos estar presentes nas feiras mais consagradas da cidade. Vai ser um sucesso”, espera Mercia.