Em 9 de abril de 1980, o então presidente do Brasil, João Figueiredo, assinou o Decreto nº 84.631. O dispositivo estabelece a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, o Dia Nacional do Livro e o Dia do Bibliotecário. Note-se: em plena ditadura militar. Nove de abril passou a ser conhecido e chamado como o Dia da Biblioteca no Brasil.
Em meio à era da digitalização, as bibliotecas resistem como espaços que oferecem não apenas livros, mas produzem impacto direto no desenvolvimento cultural, econômico e político da sociedade. Elas também carregam em si arquivos do passado e do presente que mantêm viva a história do espaço e das pessoas que passaram por ali. Segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP) de 2023, existem 4.639 bibliotecas públicas no Brasil. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conta com 43 delas, situadas em todos os seus campi, nas três cidades em que está localizada: Rio de Janeiro, Duque de Caxias e Macaé.
Para organizar e manter essas unidades, a Universidade conta com o Sistema de Bibliotecas e Informação (Sibi), que tem como principal função fazer com que as bibliotecas que o compõem possam colaborar para o ensino e o desenvolvimento da pesquisa e da extensão na instituição. Paula Mello, coordenadora do órgão, destacou que esses espaços contribuem com o registro e a disseminação da história da Universidade, assim como das histórias relacionadas à criação de cursos e áreas de pesquisa.
A função social das bibliotecas
É necessário reforçar a importância das bibliotecas universitárias como instrumento de memória social e de potencial de pesquisa. Antonio de Oliveira, diretor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (Facc), destaca que a memória não é apenas uma recordação do passado, mas elemento ativo na construção da identidade da Universidade.
Além da criação da memória por meio dos acervos bibliográficos, sejam eles físicos, virtuais, textuais ou sonoros, a arquitetura das bibliotecas também é uma forma de manter viva a história daquele local: “Os edifícios e os espaços urbanos, ao longo do tempo, se tornam repositórios físicos de lembranças coletivas e individuais. A arquitetura, com sua materialidade e forma, pode preservar, ressignificar e até modificar a memória de um lugar”, relata o pesquisador.
As bibliotecas universitárias têm papel fundamental no desenvolvimento social, econômico, cultural e intelectual de uma sociedade. Elas são importantes no processo de disponibilização de diversas formas de pesquisa e leitura: “Sua função social envolve o acesso à informação, a promoção da cultura, o fomento à pesquisa e o apoio à formação de cidadãos críticos e qualificados”, diz Oliveira.
Entre os desafios, a falta de recursos é o principal impasse para manter as bibliotecas funcionando em perfeitas condições. Christianne Fontes, bibliotecária e responsável pela Biblioteca Central do Centro de Tecnologia (CT), relata que pouco se investe em melhorias e manutenção do espaço físico e dos computadores na unidade. Há também a desatualização do acervo, por falta de verba para aquisição de novos títulos. Já Celeste Velasco, diretora da Biblioteca do Centro de Ciências da Saúde (CCS), aponta problemas de interdição e necessidade de obras. Em 2017 a unidade passou por uma contaminação causada por fungos em virtude da precariedade da infraestrutura, acentuada pela falta de recursos para a recuperação.




A democratização das bibliotecas universitárias na formação dos alunos
Parte do patrimônio intelectual da Universidade tem, na biblioteca universitária, o seu lugar de preservação e divulgação. É o espaço onde os estudantes irão construir, a partir do acesso à pesquisa, ciência e aos livros acadêmicos, o fazer e pensar crítico. Eduardo Ribeiro, aluno do 4° período de Jornalismo, frequenta as bibliotecas do campus da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, e utiliza esse espaço para procurar livros importantes para a área de Comunicação e que são citados pelos professores: “Hoje enxergo que as bibliotecas são importantes por guardarem um acervo rico e vasto sobre todos os assuntos, dando acesso a materiais para todos os alunos, independente de onde venham. É uma verdadeira democratização do acesso às leituras acadêmicas”, relata o estudante.
Eduardo destaca também que gosta de ler, “em mãos, na forma física”, os artigos pedidos para as disciplinas, e antes de imprimir sempre procura por eles nas bibliotecas. O aluno de Jornalismo também utiliza as bibliotecas para estudar e trabalhar durante os momentos livres em sua agenda.
Antonio de Oliveira ressalta o impacto do acesso a esses espaços ao longo da graduação dos estudantes, pois eles ajudam a desenvolver habilidades essenciais para buscar, analisar e interpretar informações. Hoje, esse acesso às informações ultrapassa o papel e chega de maneira online.
A democratização realizada pelas bibliotecas é necessária também na educação básica. Em 9 de abril de 2024, foi sancionada a Lei nº 14.837, alterando a Lei nº 12.244/2010, que trata da universalização das bibliotecas escolares no Brasil. A nova lei modifica a definição de biblioteca escolar e cria o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE). A partir do sistema, as bibliotecas escolares passam à condição de equipamento cultural obrigatório e necessário ao desenvolvimento do processo educativo. O SNBE pretende integrar todas as bibliotecas escolares do país ao sistema online.