O cultivo de peixes e frutos do mar nas águas do mar tem potencial para fornecer alimento sem grandes impactos ao meio ambiente. A técnica, conhecida como maricultura, pode contribuir no combate à fome e na redução de emissão de gás carbônico. É o que aponta o estudo feito por pesquisadores do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e publicado neste mês no Science Direct, relevante repositório científico internacional.
A maricultura é parte de uma cadeia de produção altamente tecnológica: a economia azul, que leva em conta o uso sustentável dos recursos do oceano. Esse mercado gera de 3 a 6 trilhões de dólares e abarca 150 milhões de empregos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). As atividades envolvidas vão desde a alimentação dos animais marinhos até a industrialização do pescado e a venda.
O mercado tem grande potencial a ser explorado, já que menos de 20% da proteína animal vêm dos oceanos atualmente, de acordo com o estudo. A estimativa é de que, em 2050, a maricultura será capaz de produzir 50 milhões de toneladas de carne, contribuindo com a redução da fome. Na alimentação desses peixes, plantas podem ser usadas, evitando o consumo de rações feitas com soja, cuja produção demanda o desmatamento de áreas verdes.
A pesquisa mostra que o Atlântico é adequado para abrigar as atividades da economia azul. O potencial econômico chamou a atenção do governo brasileiro, que assinou a Declaração de Belém para a Cooperação em Pesquisa e Inovação no Oceano Atlântico em 2017, junto à União Europeia e à África do Sul. A iniciativa busca promover o desenvolvimento e o intercâmbio científico, produzir ações conjuntas e cooperar com princípios como a segurança alimentar, as mudanças climáticas e a aquacultura. O acordo faz parte da Aliança para a Pesquisa e Inovação em Todo o Oceano Atlântico (AAORIA, na sigla em inglês), que reúne também parcerias com o Canadá e os Estados Unidos.
Para o professor Fabiano Thompson, do IB, um dos autores do estudo, o avanço da maricultura “só é possível com ajuda do governo para formação de recursos humanos, pesquisa e inovação”. Além disso, segundo o pesquisador, é necessário o apoio a diferentes elos da cadeia produtiva, articulando os conhecimentos com práticas locais, incluindo as dos povos indígenas.
*Sob supervisão do jornalista Sidney Rodrigues Coutinho.