Comida vegetariana é, para muitos, sinônimo de algo insosso. Imagina ainda se, entre os pratos, houver a escolha de ingredientes que tentam romper com a cultura colonial europeia nas Américas. O resultado, porém, surpreendeu os 18 convidados especiais que puderam desfrutar de iguarias preparadas por estudantes de três turmas do curso de Gastronomia do Instituto de Nutrição Josué de Castro. O jantar foi realizado na última terça-feira (28/11), no Centro de Ciências da Saúde (CCS).
Evidenciando preparações da culinária das Américas na perspectiva decolonial – uma proposta de desconstruir padrões, conceitos e perspectivas impostos aos povos pelos colonizadores europeus – e considerando princípios de sustentabilidade, foram, no total, oito pratos que os convidados puderam degustar. Arepas com guacamole; pupusas recheadas com casca de banana refogada, patacones e maionese de milho; bolinho de arroz cateto com chutney de manga; nhoque frito de mandioca com pesto; quesadillas com feijão preto, pimentões coloridos, tomate e molho de castanhas; purê de mandioquinha com ragu de cogumelos, vinagrete de feijão e chips de beterraba; surpresa crocante de abacaxi; e churros de banana da terra com doce de leite de amendoim, servidos em sequência e com explicações de cada um deles pelo grupo que idealizou e executou o serviço.
Para acompanhar cada preparo, havia também a harmonização de bebidas: tepache, shot de tamarindo com pimenta, suco de acerola, soda de maracujá, limonada de coco colombiana, drink “fundo de quintal” (acerola, caju e cumaru), Mojito e café Fuzz. Os estudantes se esmeraram para oferecer uma noite prazerosa, para a qual foram detalhistas também no ambiente e na ornamentação da mesa, observando desde a escolha da louça, confeccionada em cerâmica por artista da Escola de Belas Artes (EBA), aos guardanapos decorados com tinta natural, passando por um “crachá” improvisado com o nome dos convidados inscrito em uma folha de zamioculca (uma suculenta originária da África).
Representantes das equipes de terceirizados de limpeza e segurança do CCS e técnicos-administrativos estavam ao lado de gestores da Universidade, como o reitor, Roberto Medronho, além de Cassia Turci, vice-reitora; Luiz Eurico Nasciutti, decano do CCS; Russolina Benedeta Zingali, Decana substituta do CCS; Renato Candido Vianna, procurador-chefe da Reitoria da UFRJ; Glaydston Mattos Ribeiro, diretor executivo da Coppetec; Ana Maria Ribeiro, superintendente da TIC; Avany Fernandes, diretora do INJC; Veronica Oliveira, vice-diretora do INJC; Camila Coura, chefe do departamento de Gastronomia; e o professor Mauro Santos, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ).
De acordo com o professor Ivan Bursztyn, do INJC, o jantar sob sua supervisão e das professoras Mara Cnop, Maria Eliza Passos e Dani Minuzzo avaliava alunos de três disciplinas do curso de Gastronomia: gestão da gastronomia em eventos, empreendedorismo para organizações sustentáveis e culinária das Américas.
A estudante Thamires Chagas, que atuou como mestre de cerimônias e apresentadora de cada um dos grupos participantes do evento, conseguiu com simpatia contagiar todos ao redor da mesa. “Foi um prazer levar o que a gente aprende aqui. A nossa cultura, o que a gente acredita para pessoas de posições diferentes na Universidade. A gastronomia não está relacionada apenas aos pratos que as pessoas provaram, mas envolve tudo o que aconteceu para a realização do evento. A escolha das músicas, a opção pelos pratos serem manuseados e talheres dispensados, os copos, os pratos, os guardanapos, toda a sequência de apresentação, as bebidas de acompanhamento”, disse ela.
A professora Mara Cnop agradeceu aos convidados que puderam participar do evento e que tiveram uma pequena amostra da gastronomia: “Alguns estão nos últimos semestres. A gente supervisiona, mas são eles que fazem e merecem aplausos”. Para a professora Maria Eliza Passos, que leciona empreendedorismo, esse foi um período complicado, com dificuldades em decorrência de orçamento limitado. “A gente consegue perceber o que eles têm de dificuldade, mesmo diante das adversidades. A desenvoltura de cada um foi além do que ensinamos na sala de aula e eles desempenharam brilhantemente a atividade”, observou Eliza.
O decano do CCS, Luiz Eurico Nasciutti, e a diretora do INJC, Avany Fernandes Pereira, destacaram que, apesar das dificuldades, os alunos proporcionaram um momento de refrigério e um sentimento de orgulho por ter ingressado no magistério. “Vocês não têm noção do impacto positivo que o evento nos trouxe neste momento. É um curso novo, que nos obriga a repensar o tempo inteiro. A noite foi muito especial”, afirmou a diretora.
A vice-reitora, Cassia Turci, ressaltou a própria experiência de quem é vegetariana há mais de 40 anos. Ela disse que sempre quis mostrar como esse tipo de culinária pode ser saborosa. “Eu adoro cozinhar e sou engenheira química de formação. Quando fiz essa opção, as pessoas sempre pensavam que eu só comia soja. Agora vou levar o cardápio a todos e tentar reproduzir. Também tenho uma coluninha de receitas e aprendi muito hoje. Essa troca é muito importante. Esta Universidade tem coisas surpreendentes”, declarou.
Encerrando o evento, o reitor, Roberto Medronho, pediu a todos os alunos que jamais esquecessem o momento que, graças ao Reuni, permitiu o surgimento de cursos pelo Brasil afora, inclusive em regiões longínquas do país. “Os novos cursos, somados às ações afirmativas, promoveram o maior programa de inclusão social do mundo, além do bolsa família. É impressionante o que fazemos com os parcos recursos que temos. Peço a vocês, formados em instituições públicas, custeadas com os impostos da classe trabalhadora, que se comprometam na construção de um mundo menos desigual e que olhem especialmente para os mais vulneráveis. Temos um povo morrendo de fome, jamais o esqueçam”, concluiu.