Uma sala escondida nos corredores do Centro de Ciências da Saúde (CCS) preserva o gabinete musealizado de um dos maiores pesquisadores brasileiros. Em meio a livros, documentos, fotos, medalhas, entre outros itens científicos, o Espaço Memorial Carlos Chagas Filho (EMCCF) conta a história desse importante professor da UFRJ e de parte da ciência realizada no país.
Parte do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), o espaço foi inaugurado em 2000 para ser um museu de ciência e tecnologia dedicado a pesquisar, preservar e divulgar a memória da unidade e de seu fundador. Atualmente com duas exposições, a principal e a definitiva, a reprodução do escritório de Chagas Filho na UFRJ impressiona pela riqueza de material e detalhes.
Os objetos sobre a mesa deixam a sensação de que, em breve, o professor retornará da sala de aula e retomará um trabalho em andamento. As fotos, documentos e diplomas nas paredes lembram a trajetória de um cientista brilhante, mas também de um pai, marido e amigo que vivia o amor pela ciência, pela cultura e pela família.
“O museu começou aqui onde era o gabinete dele pouco depois da sua morte. A família doou os objetos e mantivemos exatamente como era. Ele gostava de colocar os documentos na parede, de manter seus objetos pessoais”, explica Érika Negreiros, bióloga e diretora do EMCCF.
Carlos Chagas Filho carregou o nome de peso de seu pai, o famoso médico sanitarista Carlos Chagas, mas encontrou na universidade e na pesquisa um caminho para construir o seu próprio. Formado na então Faculdade de Medicina, hoje parte da UFRJ, tornou-se conhecido internacionalmente pelas pesquisas sobre sistemas musculares, mas, principalmente, por ser pioneiro em práticas de ciência experimental na área no país.
Seu lema, e maior legado, está estampado nas paredes do EMCCF: “Na universidade se ensina porque se pesquisa”. Foi com Chagas Filho que a articulação entre pesquisa e ensino se tornou mais forte no país, tornando-se um princípio básico não só da UFRJ, mas de todo o ensino superior. O pesquisador também auxiliou na construção da biofísica como um campo de estudos autônomo no Brasil, dando origem ao IBCCF.
O pesquisador recebeu 16 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades no Brasil e no mundo, além de 19 condecorações, como da Ordem Nacional da Legião da Honra, imponente premiação francesa. Foi membro de importantes academias científicas, como a Academia Brasileira de Ciências e a Academia de Ciências da França, sendo, inclusive, convidado pelo Papa Paulo VI, em 1972, para presidir a Pontifícia Academia de Ciências, cargo que ocupou até 1988.
Além de respeitado cientista, Chagas Filho também foi diplomata e ensaísta, publicando livros como O minuto que vem, relançado neste ano pela Editora UFRJ. Pela sua trajetória na área, ocupou a cadeira nove da Academia Brasileira de Letras. Suas condecorações e vestimentas, importantes símbolos de sua trajetória profissional, estão preservadas e em exibição no EMCCF.
Além do fundador
A segunda exposição a ocupar o museu é “A História da Ciência no Brasil: o capítulo do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho”, que conta, de maneira interativa, a importância da unidade e de seus estudiosos para o desenvolvimento da pesquisa no país.
Composta por módulos temáticos que representam as diferentes áreas de pesquisas desenvolvidas no IBCCF, o percurso promove uma verdadeira imersão nos trabalhos de grandes nomes, como Hertha Meyer, Raul Machado, Aristides Pacheco Leão e Aida Hassón-Voloch. Por meio de atividades interativas, os monitores contam a história dos pesquisadores de forma lúdica, mesclando conceitos científicos com elementos de experimentação e arte.
Grande parte do acervo disponível hoje no EMCCF foi cedida por um outro pesquisador que fez história no instituto. Cézar Antônio Elias guardou equipamentos científicos utilizados durante seus mais de 50 anos de trajetória acadêmica, a fim de preservar a memória da unidade. Quando os itens se tornavam obsoletos, Elias realizava a manutenção e os conservava em seu acervo, tornando-se o curador do espaço. Entre as peças em exposição, estão diversos microscópios, aparelho de Norremberg e o espectroscópio de prisma.
“Os equipamentos científicos aqui foram doação do laboratório dele. Em 2016, César Antônio Elias voltou, com 90 anos, uma memória incrível, e ainda atuava como curador do espaço. Ele era a memória viva da instituição. Nós catalogamos todo o acervo a partir das conversas. Foi um privilégio ter conhecido ele”, contou Érika, emocionada.
Em 2019, após seu falecimento no ano anterior, o EMCCF inaugurou uma vitrine memorial com documentos, pinturas e objetos pessoais, homenageando o guardião das memórias do IBCCF.
Na universidade se ensina, se pesquisa e se faz extensão!
A iniciativa também tem uma ampla atuação na área de extensão universitária. Além da divulgação científica realizada por meio da visita do público, o EMCCF também promove oficinas de ciências para professores da educação básica, buscando contribuir em sua formação, e para grupos de estudantes.
Entre os principais projetos, estão “Descobrindo a Biofísica”, que apresenta os mais diversos espaços do IBCCF para os alunos, mostrando a importância da área e da universidade pública, e o “Divulgando a ciência brasileira”, que busca a manutenção e preservação do acervo.
Como chegar
O Espaço Memorial Carlos Chagas Filho (EMCCF) fica no bloco G do Centro de Ciências da Saúde. A entrada principal do prédio fica na Avenida Carlos Chagas Filho, 373, Cidade Universitária. Também há o acesso pela entrada em frente ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCCF), na Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco.
O CCS fica próximo ao Terminal do BRT Aroldo Melodia. Além de uma breve caminhada, os visitantes também podem chegar ao local utilizando os ônibus que transitam pela Ilha do Fundão, inclusive os ônibus internos da própria UFRJ. De carro, é possível usar o estacionamento nas imediações, que está sujeito à cobrança.
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