Nem só de Rio de Janeiro é constituída a UFRJ. O município de Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo, conta com um campus avançado da Universidade. Trata-se da Estação Biológica de Santa Lúcia (EBSL), localizada a 78km da capital Vitória e a 596km da cidade do Rio de Janeiro. O campus é mantido por meio de uma parceria entre a UFRJ, o Museu Nacional, a organização privada Sociedade dos Amigos do Museu Nacional (SAMN) e o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). Ele ocupa, atualmente, 440 hectares da região, o equivalente a cerca de 616 campos de futebol, usados como área de preservação ambiental e pesquisa de campo. Ser um campus avançado significa que a área pertence à Universidade e é gerenciada por alguma unidade dela, o que lhe dá condições de uso. A Estação Biológica de Santa Lúcia é gerenciada pelo Museu Nacional.
Criada em 1940 por meio da iniciativa do naturalista e patrono da ecologia no Brasil Augusto Ruschi, a Estação conta com terras do Museu de Biologia Mello Leitão − fundado por Ruschi e recentemente incorporado ao Instituto Nacional da Mata Atlântica −, do Museu Nacional e da Associação Amigos do Museu. Todas foram adquiridas e incorporadas ao polo por incentivo do naturalista.
A EBSL é um espaço de pesquisa e conservação que oferece, entre outras atividades, aulas, principalmente para as disciplinas de campo dos cursos de Botânica, Zoologia, Arqueologia e, eventualmente, de Geologia. Segundo Eduardo Barros, um dos administradores do campus, o interesse primordial por essas áreas se deve pela diversidade encontrada: “A maior procura se dá pelos cursos de Botânica e Zoologia, uma vez que a área tem 445 hectares de mata nativa e grandes porções de rios. Além de uma geologia geomorfológica muito interessante”. Para receber os estudantes e pesquisadores de todo o Brasil que procuram o local, a estação conta com dois alojamentos com 24 vagas, cozinha e lavanderia. O espaço dispõe, ainda, de um laboratório de campo.
União entre pesquisa e conservação
Além das aulas de disciplinas de campo, o local propicia a participação dos pesquisadores de mestrado e doutorado do Museu Nacional. “Nós temos pesquisas de Botânica envolvendo várias espécies arbóreas, algumas em extinção. Na área de Zoologia, nós incentivamos a formação através de levantamento de mamíferos que a gente tem na região do campus avançado”, afirma Barros.
Marcos Raposo, pesquisador e professor do Museu Nacional, conta que na Estação já foram realizados levantamentos de fauna em vários grupos diferentes, desde répteis, anfíbios, mamíferos e aves, além de insetos e até peixes. “Temos diversos tipos de trabalho que compreendem toda a fauna e flora sendo executados lá permanentemente”, destaca Raposo. As atividades são produzidas tanto por estudantes de cursos de graduação em iniciação científica quanto por pesquisadores de pós-graduação.
José P. Pombal Jr., professor titular do setor de Herpetologia do Museu Nacional, realizou sua primeira visita à Estação Biológica no final dos anos 80, mesmo antes de ser servidor do MN. De lá para cá, desenvolveu e desenvolve pesquisas na área. Atualmente, trabalha com taxonomia e comportamento reprodutivo de anfíbios anuros, principalmente de espécies da Floresta Atlântica. Ele destaca a importância da Estação Biológica para as disciplinas de campo. “No próximo semestre, pela primeira vez, teremos uma disciplina de Herpetologia (estudo dos grupos de anfíbios e répteis) e de Ictiologia (estudo dos peixes) naquela área, ministradas por professores do PPGZOO − Programa de Pós-graduação em Zoologia da UFRJ.
“Após minha contratação, estive na Estação e arredores com o objetivo de realizar coletas, fotografias e gravações das vocalizações dos anuros. Parte do material obtido nessas viagens foi utilizado em pesquisas de descrição de vocalizações e estudos de taxonomia realizados por mim ou outros autores. É importante chamar a atenção para o fato de que os exemplares, suas vocalizações e fotografias fazem parte do acervo do MN e estão disponíveis para pesquisadores em geral”, conta Pombal Jr.
A Estação Biológica de Santa Lúcia funciona como um “corredor ecológico”, conectando os blocos remanescentes da Mata Atlântica no ES. O estado, que já foi cerca de 87% coberto por florestas nativas, chegou a perder quase 90% de seu ecossistema. Atualmente, conta com 36 unidades de preservação federais e estaduais. O campus busca aliar a conservação ambiental ao respeito histórico e à investigação da exuberante e não muito estudada biodiversidade da região. Para Barros, “é importante para a Universidade ter uma área avançada como essa porque ela está inserida dentro de um corredor central da Mata Atlântica do Espírito Santo. É uma área muito nobre, muito pesquisada, que detém vários exemplares de Botânica e Zoologia. Existem exemplares raríssimos no entorno da Estação, como o macaco muriqui, a onça parda e a jaguatirica. Além disso, vários anfíbios só são encontrados nessa região da Mata Atlântica central do Espírito Santo. Por isso é vital e importantíssimo para a UFRJ ter uma área como essa protegida”.
Em 1986, a Estação passou por uma grande reforma que buscou aumentar o número de projetos e programas do polo. Além disso, começou a estabelecer um maior contato com as comunidades do entorno e com a comunidade científica em geral. Hoje, a EBSL recebe pesquisadores e alunos de várias universidades brasileiras e estrangeiras. O projeto se destaca também pela infraestrutura que oferece para o ensino, tornando-se um exemplo da cooperação entre o setor público e privado.