A palavra folclore tem origem na junção das expressões inglesas folk e lore, que significam, respectivamente, povo e saber. O termo poderia ser traduzido para o português como “saberes do povo”. Dentre esses conhecimentos que constituem a cultura popular, podem-se citar contos, lendas, culinária, danças, música e medicina popular, entre outros costumes e tradições transmitidos geracionalmente.
No Brasil, devido à formação histórica do país, o folclore tem diversas influências na sua concepção: culturas indígenas, africanas, europeias e asiáticas que, em sua convivência, geraram manifestações singulares. Com tantas, torna-se árduo o trabalho de enumerar destaques, mas tanto o samba e o frevo quanto o jongo e as folias de reis entram nessa lista. Da mesma maneira, o cordel, a ciranda, as festas juninas, o boi-bumbá e muitas outras manifestações ajudam a dar a cara da cultura brasileira, bem como os famosos personagens Saci-Pererê, Curupira e Iara.
De acordo com Frank Wilson Roberto, coordenador acadêmico da Companhia Folclórica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD), é a mistura de elementos culturais distintos que construiu o rico folclore brasileiro. “Tudo que veio dos povos originários, dos povos que foram trazidos para serem escravizados e de todos os outros que constituíram o povo brasileiro, a gente pode colocar no mesmo balaio bonito da nossa cultura”, diz o docente. Ainda assim, ele destaca a contribuição dos povos africanos, por terem demarcado significativamente a nossa cultura. “É uma reverência que a gente faz, porque é uma marca muito importante e que ao longo do tempo foi silenciada e colocada como menos nobre”, explica.
O folclore como fortalecimento do nacionalismo
A ideia do folclore como conceito surgiu em um período de transformações sociais, políticas e econômicas em virtude dos movimentos revolucionários que aconteciam na Europa do século XVIII em diante, na tentativa de construir identidades nacionais fortes. O objetivo era criar um sentimento nacionalista na população dos países que estavam se constituindo. No Brasil, o folclore se desenvolveu em processo semelhante.
A partir de um projeto desenvolvido pelo império de Dom Pedro II, o fortalecimento das manifestações culturais brasileiras foi identificado como recurso para a construção de símbolos nacionalistas no país. Nesse sentido, artistas eruditos passaram a introduzir elementos da cultura popular em suas obras, propagando-os para a elite da época. Anos mais tarde, com o surgimento do movimento modernista, artistas como o escritor Mário de Andrade, a pintora Tarsila do Amaral e o músico Villa-Lobos passaram a incorporar símbolos folclóricos em suas obras também. Nesse contexto, o folclore ganhou ainda mais importância no cenário brasileiro, culminando na criação da Comissão Nacional do Folclore, em 1947.
A partir do fomento aos estudos sobre o folclore, foi desenvolvida a Carta do Folclore Brasileiro, em 1951, que orientou as discussões e pesquisas sobre a cultura popular brasileira. No entanto, o golpe militar de 1964 mudou o cenário de avanços. O governo brasileiro paralisou as atividades que vinham sendo desenvolvidas para aperfeiçoar os estudos acadêmicos da cultura popular brasileira.
Companhia Folclórica da UFRJ
Existente há mais de 35 anos, a Companhia Folclórica da UFRJ é um dos instrumentos que ajuda no combate à marginalização de costumes e manifestações brasileiras de cunho popular. É um grupo artístico de pesquisa e divulgação da cultura popular brasileira que desenvolve eventos científico-culturais e espetáculos de dança e música voltados a sensibilizar as comunidades acadêmica e externa para um universo que muitas vezes passa pela vida delas de maneira imperceptível, com destaque para os estudantes de bacharelado e licenciatura em Dança e Educação Física.
O professor explica que a organização visa reproduzir os elementos culturais do folclore brasileiro nos tablados: “Enquanto grupo artístico, buscamos trazer para o palco o universo mais original possível, se é que a gente consegue fazer isso. A gente não tenta descaracterizar aquilo, não substituímos um grupo original, mas fazemos uma leitura.”
Wilson defende que desvalorizar a cultura popular é um movimento político. Para ele, alguns aspectos da música, da dança e de outras artes são colocados em patamar de menor valor por serem populares e por sua autoria ser tida como coletiva, e não de uma pessoa específica. “É um universo de saberes que são expressos pelo corpo, gestual, poesia. Aquilo faz parte de uma enorme sabedoria, da cultura oral, muitas vezes. Não quer dizer que aquilo seja menor, pelo contrário. A força que a fez chegar aos dias de hoje é realmente muito grande”, ressalta.