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Vacina para todos

Pesquisadores da UFRJ reforçam importância do SUS e repudiam entrada da iniciativa privada na vacinação contra a COVID-19 neste momento

O Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19 da UFRJ emitiu nota técnica (leia aqui na íntegra) nesta quinta-feira, 15/4, em que reitera que, enquanto a vacina avança mesmo que lentamente pelo país, alguns cuidados são necessários:

  • Uso constante e correto de máscaras, cobrindo nariz e boca ao mesmo tempo;
  • Não aglomeração;
  • Distanciamento interpessoal;
  • Higienização frequente das mãos;
  • Programas de ampla testagem com busca de comunicantes e isolamento dos casos positivos.

Na avaliação dos pesquisadores, a velocidade da vacinação é preocupante. “Com o atual ritmo de propagação do Sars-CoV-2 no Brasil, precisaríamos estar vacinando a população com uma velocidade maior que a atual para poder fazer frente ao avanço do vírus. Também é importante observar que a não vacinação com a segunda dose no tempo preconizado pelos estudos clínicos pode afetar a eficácia do processo, comprometendo, assim, aqueles que já tomaram a primeira dose e desperdiçando doses valiosas da vacina”, diz a nota.

Os professores destacam que “os critérios para priorização de pessoas durante o processo de vacinação devem – e precisam – ser exclusivamente relacionados à saúde e qualidade de vida da população”. Eles lembram, ainda, que os profissionais que estão na linha de frente foram priorizados por conta do risco elevado de infecção. “Qualquer outro critério que não seja relacionado a esses aspectos [de riscos de infecção] ofende diretamente os requisitos epidemiológicos que a urgência atual requer, como também aspectos éticos de valorização da vida. É fundamental o entendimento de que é direito de todo cidadão receber a vacina, e, portanto, todos terão acesso a ela. Quando se fala em priorização se quer saber como distribuir a vacina com o maior efeito possível sobre a gravidade e morte enquanto o processo de vacinação chega a todos”, afirma o comitê técnico.

Com essa preocupação, lembram os pesquisadores, a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizou a iniciativa Covax, para não só acelerar o desenvolvimento e a fabricação de vacinas, mas também garantir o acesso justo e equitativo a todos os países, frente aos riscos biológicos de que aqueles sem acesso poderiam ter e trazer para o mundo – com maiores riscos de variantes e também considerando os aspectos humanitários de se garantir a saúde como direito fundamental de todos. “Hoje temos contratos estabelecidos entre países, OMS e farmacêuticas, direcionando toda a produção de vacinas para atender à emergência de saúde pública instalada, o que não torna disponível quaisquer quantidades de vacinas para o setor privado”, salientam.

Em um momento de crise sanitária sem precedentes (…), é completamente inadmissível que se abra a possibilidade de tornar a vacina um objeto de consumo, sujeito à dinâmica de mercado: onde quanto maior a procura, maior o preço; e quem paga mais leva primeiro. Assim, a entrada da iniciativa privada na vacinação não trará velocidade de aquisição dos imunizantes, considerando que o produtor é o mesmo e já tem comprometida toda a sua capacidade produtiva. Se isso for permitido, será criada automaticamente uma fila paralela, determinada por privilégio econômico, ainda que a esse grupo se apliquem os mesmos critérios de prioridade relacionados àqueles que seguirão aguardando a vacina pelo SUS.

Os pesquisadores acreditam que, assim como outras vacinas são disponibilizadas à iniciativa privada, a vacina para o Sars-CoV-2 também poderá ser ofertada da mesma forma, mas só depois que toda a população tiver sido contemplada.

“Qualquer caminho que permita a entrada de capital para a disputa de vacinas – principalmente se for caracterizado algum financiamento direto da iniciativa privada ao Sistema Único de Saúde (SUS), tornando-o, assim, um mero agente pagador – é moral e eticamente inaceitável e condena o SUS à ruptura dos seus princípios fundamentais de universalidade e equidade”, alertam.

Leia aqui a nota na íntegra.