Ao apagar das luzes deste ano que será inesquecível seja pelo motivo que for, 2021 se anuncia desde já com desafios gigantes.
Para muitos, 2020 foi um ano de superação. Agradecimento aos céus por termos sobrevivido à COVID-19 ou simplesmente por não termos adoecido… ainda. Para outros, um ano de perdas, sofrimento e cansaço.
Em 2020 nos debatemos todos os dias com o medo de um vírus e consumimos energias preciosas em embates tolos entre os partidários da “máscara sim” versus “máscara não”.
Seria tão mais simples se tivéssemos empatia e concentrássemos, juntos, nossos esforços contra o mesmo inimigo invisível! Mas na verdade não tem sido assim, e não é um “privilégio” nosso, do Brasil. É o mundo, é a humanidade que se depara com um espelho que realça suas mazelas, seu egoísmo, sua cegueira sobre o fato de que não adianta poucos comerem bem se muitos passam fome. Porque, no fim, todos nós padecemos das mesmas doenças, literalmente.
No dia 1º de janeiro, o coronavírus não terá ido embora. No entanto, a esperança de uma vacina segura e eficaz, vinda do velho continente, só aumenta. Por aqui, brigas políticas e de vaidades fazem até o veterano e exitoso Programa Nacional de Imunização sofrer para dizer a que veio. Mas ele virá apesar de tantas mazelas, pela força e resiliência dos muitos que constroem sua vida pela vocação, com devoção ao cuidado.
A atenção primária à saúde precisa ser resgatada. A empatia precisa renascer. Assim, que venha 2021! Com o desafio de que os embates de outrora tenham nos fortalecido em músculos, principalmente os morais, para que nosso trabalho seja por um mesmo propósito: o bem-estar e a saúde de todos.
As consequências de uma economia sofrida, porque medidas mais duras precisaram ser tomadas, vão deixar sequelas a serem tratadas pela sociedade. O ano letivo não terá sido somente de perda dos conteúdos acadêmicos que deixaram de se desenvolver. Teremos, sim, retrocessos importantes nas conquistas sociais de décadas a serem resgatados. E não será de outra maneira que não seja pela educação. Ou alguém ainda duvida disso, depois de tudo que aconteceu?
Se ainda não possuímos tecnologias duras capazes de nos salvar em definitivo, é pelas leves, aquelas relacionais, que salvamos uns aos outros todos os dias quando lavamos as mãos, usamos máscara e não nos aglomeramos. Ou, simplesmente, quando usamos os recursos de chamadas de vídeo para matar uma das dores que mais nos consomem: a saudade daquele no qual não podemos tocar.
Temos, contudo, muita coisa boa para comemorar!
Nossa pesquisa deu show! Nossa criatividade se estendeu da impressão de viseiras como equipamentos de proteção individual ao desenvolvimento de respiradores, vacinas e soros. Nossos cientistas praticamente se viraram em meio à falta de recursos e ao home office, salvando a pátria quando parecia não haver mais o que fazer. Quer algo mais inspirador?
Tivemos também a solidariedade aflorada, novas parcerias descobertas, alianças impensadas e, desse modo, nos revigoramos a cada dia, muito diferentes do que éramos em 31 de dezembro de 2019.
De fato, fechamos o ano exaustos. Mas o caminho pela frente há de ser melhor, ainda que em algumas curvas do trajeto a neblina permaneça na subida. Não sabemos ao certo o milagre que acontece no momento das doze badaladas na noite de 31 de dezembro, ou da hora que se transforma na tela do celular, para aqueles que nunca escutaram um relógio-carrilhão. Seja o que for, esse segundo mágico abre espaço a uma nova inspiração. Um sopro nos invade o coração e a alma, enchendo-nos de esperança e força para o novo ciclo.
Que possamos ser, um na vida do outro, exatamente esse sopro de força, vigor e renovação de votos de um futuro que será melhor! Porque ele vem e está em nossas mãos fazer dele o reflexo de nossos pedidos mais profundos: amor, saúde e paz para todos. Depende de nós.
*Chrystina Barros é pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde (Coppead) e integrante do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19