Sem ciência não se vive. Por isso, o Observatório do Valongo (OV) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vem, durante esta quarentena, promovendo o Astronomia Através da Janela, projeto coordenado pelo astrônomo Daniel Mello a fim de não interromper os esforços para a popularização e divulgação da ciência.
Para os amantes do tema, o projeto leva dicas de observação dos astros no período de isolamento social. Sem sair de casa, o público pode continuar a explorar assuntos como conjunções planetárias, estrelas cadentes, chuvas de meteoros e constelações em destaque no céu.
Segundo Mello, que também é coordenador de Extensão do OV, é preciso, hoje, “conscientizar as pessoas de que a ciência faz parte do dia a dia de cada um, que está em todas as partes, que teve impacto relevante em toda a história humana e é feita por pessoas comuns”.
O astrônomo trabalha para desmistificar a ciência:“Não é coisa da Academia e que passa longe do cotidiano da população. A meu ver, a razão de nos encontrarmos na delicada situação atual vai muito além da escassez e dos frequentes cortes de recursos para desenvolvimento científico. Também tem relação com o ainda baixo comprometimento da comunidade acadêmica em divulgar a ciência que fazemos no Brasil e com nossa falha em não estabelecer um diálogo sistemático com a sociedade”. Mello diz mais: “Há ainda que se investir em educação básica, fomentar o interesse em ciências entre crianças e jovens, despertá-los para o mundo de descobertas que a ciência pode oferecer, do ponto de vista profissional e, principalmente, pessoal”.
O Astronomia Através da Janela, que acontece desde o dia 3/4, também está divulgando, semanalmente, um mural de imagens astronômicas do público em quarentena feitas pela janela de casa. Qualquer pessoa pode participar. Basta ter um smartphone, por exemplo, fotografar algo que permita revelar detalhes do céu que comumente passam despercebidos aos olhos das pessoas e enviar para o e-mail extensao@astro.ufrj.br (detalhes em https://ov.ufrj.br/astronomia-da-janela/). A foto será avaliada e poderá ser publicada no site e nas redes sociais do OV.
Mello conta que, com a entrada em vigor do período de quarentena, ele e uma equipe de graduandos e colaboradores − Taylan Sales, Luciana Socal, Marcelo Menezes, Marco Laversveiler, Igor Borgo, Eric Freitas, Jonatã Arcas e Manoel Pacífico − pensaram em um projeto de extensão que pudesse ser implementado para que o interesse público nas atividades já realizadas pelo observatório fosse mantido. “Com as pessoas passando um período maior de tempo em suas residências, olhar para o céu seria algo mais natural e frequente dentro das atividades diárias. No final de março surgiu, então, a ideia coletiva de incentivarmos essa prática pelo público e a interação conosco.”
O projeto atua na vertente de divulgação científica, com a produção de textos, vídeos, imagens e outros materiais sobre Astronomia. “Na parte interativa, o público nos envia imagens astronômicas feitas da janela, que são publicadas em nossos canais de comunicação,como redes sociais. Em maio, houve um desdobramento interessante relacionado ao projeto: lançamos um movimento com a hashtag #DesligueasLuzes, que procurou conscientizar as pessoas sobre os riscos do aumento da poluição luminosa, que se refere ao uso irracional e excessivo da iluminação artificial, com impacto negativo na economia, meio ambiente, saúde e nas atividades astronômicas. Tivemos bastante repercussão com essa proposta”, Mello declara, satisfeito.
Muita gente de várias partes do país, especialmente da região Sudeste, já topou o desafio e mandou suas fotos. Algumas das selecionadas para a exposição foram “O céu estrelado de São Roque de Minas”, revelado pelas lentes de um telescópio por Ana Luísa Dias, estudante mineira do ensino médio, mostrando os planetas Júpiter e Saturno e as constelações de Escorpião e Sagitário; a Lua de março, quase em brilho máximo, feita por Julya Tonon, estudante Física,na Ilha do Governador, Rio de Janeiro; a Superlua do dia 7/4, emergindo sobre as nuvens e fotografada como celular por Maria Teixeira, de Piedade, também no Rio.
“Normalmente realizamos uma postagem mensal mais detalhada, com os eventos e fenômenos astronômicos de maior interesse, como fases da Lua, conjunções planetárias, eclipses, chuvas de meteoros, estrelas e constelações em destaque no mês. Semanalmente, indicamos outras curiosidades que podem ser exploradas por qualquer pessoa interessada em começar a observar os astros. Enriquecemos, ainda, com textos de divulgação científica sempre preparados pela equipe. O principal meio de divulgação é via redes sociais”, conclui o astrônomo sobre o projeto.
Observatório não para e faz Astronomia “sem sair de casa”
Mesmo durante a pandemia de COVID-19, foram mantidas, de forma on-line e com livre acesso, muitas atividades organizadas por professores, astrônomos, pesquisadores e estudantes do OV. Há opções para todos os gostos: palestras, cursos, lives etc.
O Astronomia para Poetas, já conhecido ciclo de palestras com linguagem leve coordenado pela professora e coordenadora de Extensão do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) Sílvia Lorenz-Martins, está agora, pela primeira vez, na versão on-line. Todas as quartas-feiras, às 19h, um tema intrigante que tem enchido as salas virtuais – a temporada 2020 teve início no dia 10/6 com “A Terra é Plana? Astronomia na Era das Fake News”.
E, com o objetivo de compartilhar material de divulgação científica de qualidade, além de promover as atividades de pesquisa, ensino e extensão da instituição, foi lançado recentemente, com a coordenação do professor Wagner Marcolino, o canal do YouTube TValongo.
Continuam também outras ações permanentes, como o canal do IGTV de Thiago Gonçalves, docente do OV, que divulga a mais antiga das ciências por meio de vídeos curtos e fáceis de serem entendidos. Tudo para que a ciência não tenha fronteiras, como o Universo.