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Saúde

Coronavírus e o novo mundo que se avizinha

Os sentimentos de luto e tristeza estão presentes, mas a vida dos sobreviventes continua

As portas do mundo fora da quarentena já voltam a se abrir, mas o monstro que surgiu no final de 2019 ainda ronda, isola e mata. Por mais que a retomada seja uma realidade, a COVID-19 conta com mais de 1 milhão de infectados e 50 mil mortes apenas no Brasil. O luto pelas pessoas que se foram se junta ao luto pela perda de empregos, planos, sonhos e por uma vida que, talvez, nunca mais seja a mesma.

Quando os primeiros casos do novo coronavírus surgiram no país, no final de fevereiro, os brasileiros ainda se curavam da ressaca do Carnaval. Os infectados desembarcavam de aviões vindos de outros países, que já sofriam perdas significativas e viam suas populações adoecerem. Embora no Brasil o medo ainda não tivesse se instalado, o mundo não parecia mais ser o mesmo.

“Ele ainda pode ser o mesmo, porém algumas coisas talvez tenham acabado. Uma certa leveza, que era gostosa, mas que, quando fomos olhar, também era inconsequente. Nossa liberdade poderá ser diminuída pela necessidade de controle e vigilância − porque a vida vai ter prioridade sobre certas liberdades individuais”, reflete Márcio Tavares d’Amaral, professor da Escola de Comunicação. Para ele, as pessoas ainda estão aceitando as mudanças que o novo coronavírus causou;no entanto,essa nova realidade pode trazer uma consciência mais clara de humanidade.

Para muito além do medo e do luto, a mistura de sentimentos nesta situação atual é bastante complexa.

“Há o medo, com certeza − por nós mesmos, mas também pelos outros. Temos medo do vírus e medo de nós como transmissores. Depois, há a angústia pela impotência. E aí há também culpa. Nós estamos protegidos, enquanto os trabalhadores essenciais arriscam suas saúdes e vidas para nós podermos viver.”

A depressão como resposta ao medo

Grande parte da população do Brasil passou, em algum momento, pelo isolamento social vendo os números de infectados e mortos crescendo e sentindo outros males como a solidão, a ansiedade e a depressão crescerem rapidamente.

Segundo Antônio EgídioNardi, professor do Instituto de Psiquiatria (Ipub), ansiedade, medo e insegurança são sentimentos comuns em circuntâncias como esta que estamos vivendo. “Estamos amedrontados em ficar doentes, em que nossos familiares fiquem doentes, estamos confinados em casa, com mínima mobilidade, medo de perder o emprego ou que a situação econômica se agrave, não podemos abraçar pessoas queridas, às vezes só podemos vê-las pelos meios digitais”, enumera, advertindo que essas sensações podem se converter em depressão caso não sejam observadas.

Entre os sinais de alerta, estão o humor triste, a ausência de prazer nas atividades cotidianas, problemas de apetite, ideias pessimistas, entre outros sintomas que desvalorizam a vida.

“O luto deve ser diferenciado da depressão porque ele é uma reação normal a uma perda,por exemplo, de um ente querido, de um plano, de uma viagem programada a longo tempo, de um desejo…”.

O professor enfatiza que cuidados como atividades físicas, boa alimentação, contato virtual com amigos e familiares e a manutenção de uma rotina podem ajudar no tratamento e prevenção.

Saídas para um mundo novo e mais empático

Hoje, mais de três meses após o início do isolamento em boa parte do país, a flexibilização traz imagens que desanimam e assustam. Praias lotadas, filas em shoppings, parques de diversão cheios de um público que não mantém a distância social e, nem mesmo, utiliza máscaras em sua totalidade.

Para Nardi, a sociedade pode sair mais madura destasituação difícil. “Uma crise é sempre um momento de aprendizado. Sem dúvida, o conceito de tempo para apreciar a vida, os conceitos de higiene, a valorização dos profissionais de saúde serão mais bem compreendidos”.

Segundo Tavares d’Amaral, precisamos ressignificar as sensações e perceber que a necessidade de nos proteger é, também, para proteger o outro. E que os que mantêm as medidas de segurança de maneira mais eficaz podem se orgulhar mesmo, tendo em vista que parte da população brasileira não esteja dando a devida importância ao assunto. “Serão novas formas de convivência que teremos construído quando não podíamos conviver. Apenas prestando atenção ao que aprendemos a fazer quando estávamos −e ainda estamos− entre um mundo conhecido e um novo, que vamos ter de aprender a construir”, ressalta.