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Startup de tecidos biológicos oferece alternativa para testes em animais

Incubada pela Coppe/UFRJ, empresa propõe outras maneiras de realizar experiências para a produção de medicamentos e cosméticos

A Presidência da República sancionou, no último dia 30/7, a Lei 15.183/2025, que proíbe o uso de animais vivos em testes laboratoriais para o desenvolvimento de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. A medida é um marco no movimento de proteção aos animais e ao meio ambiente no país e propõe dois anos de transição para a implementação de métodos alternativos e também para sua fiscalização. Assim como tem acontecido em outros países, a norma abre espaço para pensar maneiras de incentivar avanços científicos sem que os impactos sejam prejudiciais à população. Uma opção tem se mostrado viável: o desenvolvimento de tecidos biológicos que se assemelham a órgãos humanos. 

A startup Gcell 3D, incubada pela Coppe/UFRJ, vem há mais de cinco anos desenvolvendo um trabalho nesse sentido. Fundada em 2019, a empresa é especializada no cultivo de células 3D, com foco não apenas em investigações para a área de cosméticos, mas também para medicamentos e usos possíveis em medicina regenerativa. Para isso, a tecnologia produzida tem sido um meio de indicar opções inovadoras e confiáveis não apenas na pesquisa, mas também em sua aplicação. 

Um dos principais objetivos das atividades da startup está no desenvolvimento de estruturas tridimensionais a partir de células humanas que simulam órgãos e tecidos. Ou seja, criam-se biotecidos — tecidos biológicos — que são utilizados como testes representativos de órgãos humanos. Os modelos atuais são preditivos para testes de fármacos, cosméticos e suplementos — substituindo, parcial ou totalmente, o uso de animais. Até então, entre os órgãos já recriados, estão fígado, pulmão, osso e tecido adiposo (gordura). Logo, na prática, um tecido que simula o fígado pode auxiliar na avaliação dos efeitos no órgão, permitindo ainda testar a hepatotoxicidade dos medicamentos.

A Gcell foi idealizada pela professora do campus Duque de Caxias Leandra Baptista. Formada em Biomedicina, com doutorado em Biologia de Células-Tronco e Engenharia Tecidual pela UFRJ, Leandra coordena os projetos científicos da startup e defende que esta nova tecnologia é mais eficaz do que os testes em animais, já que os órgãos deles respondem de forma distinta aos dos humanos. “Outros estudos de fora do país já mostraram o quanto esses modelos tridimensionais a partir de células humanas de laboratório são muito mais preditivos em relação à toxicidade dos medicamentos do que os próprios modelos animais”, explica ela.

Além disso, outro ponto de destaque é a questão econômica, já que o custo-benefício deste tipo de pesquisa é muito mais vantajoso do que aqueles que utilizam animais. Para Leandra, essa é uma maneira interessante e eficiente de aproximar a indústria e a academia, fazendo com que o conhecimento produzido na Universidade possa ter impactos positivos na sociedade. “A motivação principal da pesquisa é trazer uma qualidade de vida maior para a população no sentido de a gente ter medicamentos mais seguros e eficazes. É uma maneira de canalizar, de levar para fora da academia o que a gente produz de conhecimento lá dentro. Na maior parte das vezes, a gente acaba publicando o artigo científico. E aí? Fica lá, ninguém vê. Mas a minha ansiedade é realmente trabalhar para ver aquilo ali ser aplicado”, conclui.

Além de ter apoio de agências de pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a startup também tem seus recursos próprios, oriundos dos serviços prestados a empresas.