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Por uma UFRJ mais diversa

Minerva celebra dois anos da Sgaada e reconhece que sabedoria é ser plural

Na cerimônia comemorativa pelos dois anos de criação da Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o objetivo da equipe foi sintetizado em uma frase projetada para o público: “Queremos diversidade na UFRJ!”. Quem esteve no evento, realizado na segunda, 18/8, no Auditório Hélio Fraga do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na Cidade Universitária, teve uma amostra de que a concretização do desejo já está em andamento.

Durante a solenidade, uma mesa decorada com elementos da cultura afro-brasileira, intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras), da Diretoria de Acessibilidade da UFRJ, e um corpo solene repleto de representatividade puderam ser observados por uma plateia igualmente diversa. A celebração, presidida pelo reitor da UFRJ, Roberto Medronho, contou com a participação da vice-reitora, Cássia Turci; da superintendente da Sgaada, Denise Góes; do decano do CCS, professor Luiz Eurico Nasciutti; da diretora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi/UFRJ), Maria da Soledade; da coordenadora de Políticas Sociais e do Grupo de Trabalho (GT) Antirracista do Sindicato  dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj), Norma Santiago; e do representante do Movimento Negro Unificado (MNU), Hugo Vilela.  

Corpo solene expressando representatividade | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Uma superintendência transversal

“A Universidade está mudando sim! A UFRJ está mais enegrecida! Nunca cruzei com tanta gente igual a mim dentro deste espaço universitário. Isso é algo notório”. O depoimento emocionado foi feito por Denise Góes que, ao lado dos demais servidores e colaboradores da Sgaada, discursou sobre a transversalidade da superintendência, o trabalho de sensibilização e de formação, que tem conquistado várias parcerias internas e externas, colaborando para a composição de uma Minerva mais igualitária:  

“Hoje temos uma representatividade substancial neste evento, com a presença de toda a Administração Central. Isso significa que trabalhar com tema transversal é percorrer os espaços da UFRJ, tentando captar pessoas para essa nova discussão, essa nova era, essa nova Universidade, que estamos tentando construir. Eu, como uma mulher negra, ligada ao Movimento Negro, sou organizada a partir da compreensão que devemos lutar contra o racismo no Brasil. Foi isso que me trouxe até aqui, que fez com que nos constituíssemos como essa superintendência tão potente. Essas pessoas aqui fazem acontecer e deram um novo tom à Universidade Federal do Rio de Janeiro, tradicionalmente tão branca, tão elitista, homofóbica e capacitista, mas que hoje se mostra tão favorável a estar junto conosco pensando novas formas de trabalhar, novas formas de cotidiano”, afirmou a superintendente.

Denise Góes comemora uma UFRJ mais enegrecida | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Entre os  objetivos da Sgaada, estão impulsionar ações afirmativas; incentivar a diversidade no ambiente universitário; formular políticas e implementar programas; propor projetos, campanhas e eventos; e monitorar todas as frentes de trabalho de suas diretorias ou parcerias nas quais esteja envolvida. Vinculada à Reitoria, a Sgaada é composta pela Diretoria de Admissão (Dirad), Diretoria de Relações Étnico-raciais (Direr), Diretoria de Gênero e Pertencimento (Digepe) e Diretoria de Acessibilidade (Dirac). Também integram a superintendência o Grupo de Trabalho Memória e Documentação (GTMD) e a Comunicação (ComSgaada).

Educação antirracista 

Durante sua fala, Medronho enfatizou que a formação da Sgaada foi um momento histórico, que marcou a entrada da UFRJ na luta antirracista. A implantação da referida superintendência foi uma conquista, aprovada por unanimidade na sessão especial do Conselho Universitário (Consuni) em 22/6/2023: “O mínimo que qualquer pessoa com uma visão mais progressista precisa fazer é reconhecer o trabalho da Sgaada. Nós, que formamos milhares de pessoas por ano, temos que formar, sobretudo, cidadãos antirracistas. Enquanto não tivermos democracia racial, não teremos democracia neste país!”.  

Roberto Medronho destaca a importância da educação antirracista | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Cássia Turci agradeceu destacando que, diariamente, a UFRJ tem tido alguma vitória neste trabalho conjunto com a Sgaada: “Recentemente, lançamos a Cartilha de Boas Práticas de Combate ao Assédio Moral, Sexual e à Discriminação na UFRJ, que teve a colaboração da Sgaada. Também estamos lutando para ter uma acessibilidade adequada na Universidade. Enfim, são muitas ações, como a heteroidentificação e os nossos concursos com cotas, por exemplo. Estamos juntos na construção de uma Universidade mais inclusiva, que forme cidadãos verdadeiros”. 

Cássia Turci enfatiza luta pela acessibilidade na UFRJ | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Denise destacou a predisposição da Reitoria da UFRJ em tornar-se uma potente colaboradora da Sgaada, cedendo, inclusive, um espaço localizado na BioRio para a montagem de uma sede própria, cuja recepção terá um painel artístico que será pintado pela vencedora do Concurso Cultural Sgaada/EBA UFRJ!: a estudante Vitória Veríssimo. Ela e a candidata que ficou em segundo lugar, Valentina Terra, também participaram do evento no CCS. Citando as pró-reitorias, o Complexo de Formação de Professores, o Parque Tecnológico, a Coppe e a Gráfica, além de parceiros externos, a superintendente agradeceu a todos os que têm colaborado no sentido de acabar ou pelo menos minimizar o racismo dentro da estrutura da Universidade:

“Só nós, negros, sabemos, como Neuza Santos dizia, do sofrimento psíquico que o racismo traz nas nossas vidas. Hoje precisamos lutar veementemente contra essa violência. É por isso que a Sgaada se constitui como um elemento muito forte da Reitoria, interna e externamente. Somos requisitados para fazer formações fora da UFRJ. A Sgaada não pode deixar de existir. Essa Universidade não pode dar 10 passos para trás, pois ela já deu 1.000 passos à frente. E todos nós aqui vamos trabalhar para empurrar, cada vez mais, essa superintendência para frente”,  reforçou.

Passos para trás nunca mais!  

Oficina de dança de rua para celebrar diversidade | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Na abertura da celebração da Sgaada, a primeira voz que se ouviu foi de uma mulher que se autodeclara preta: a servidora técnica-administrativa em educação (TAE), doutoranda  em Educação na UFRJ e pedagoga Mônica Gomes, que declamou o poema O ano da iniciação. No meio do evento, o representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata contou, com orgulho, que Denise Góes estava na banca de heteroidentificação quando ele entrou na Universidade. No final da cerimônia, valorizando o saber que nasce fora dos muros da UFRJ, a estudante e professora do Projeto Comunidança, da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD/UFRJ), Heloísa Isidoro, ensinou uma coreografia para a comunidade universitária presente. Passinho para lá e para cá, a UFRJ vem mostrando que os passos para trás só são bem-vindos no quesito dança.