Duas imagens produzidas por pesquisadores ligados à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão entre as finalistas do Prêmio Wellcome de Fotografia, concurso que há 28 anos reúne diferentes perspectivas, usando fotografias e imagens biomédicas para revelar como a saúde e a ciência moldam vidas ao redor do mundo.
Todos os anos, a competição abre inscrições para receber imagens que abordam questões como saúde mental, doenças infecciosas, mudanças climáticas e pesquisas de descoberta, para reconhecer a qualidade artística, incentivar diálogos e estimular transformações positivas. No dia 16/7, as 25 melhores serão premiadas em uma cerimônia em Londres, no Francis Crick Institute, momento em que será anunciada a grande vencedora.
Na edição de 2025, duas imagens produzidas por alunos de pós-graduação foram reconhecidas entre as melhores do prêmio. Uma delas foi produzida no Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio) por Ingrid Augusto, na época doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biofísica do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), e pela tecnóloga do Cenabio e doutoranda Vânia Vieira, do Programa de Pós-Graduação Profissional em Tecnologias de Bioimagem e Bioestrutura (PPGP-TBB) da UFRJ. Ambas foram orientadas pelo professor e atual diretor do IBCCF, Kildare Miranda.
A imagem, obtida a partir de uma pesquisa de biologia celular e estrutural de agentes infecciosos, mostra a estrutura interna do Trypanosoma cruzi, ou T. cruzi, o parasita causador da doença de Chagas. Por meio do congelamento de células, o arranjo de microtúbulos subpeliculares foi observado por microscopia eletrônica, através de uma técnica chamada criomicroscopia eletrônica de varredura.

“Hoje o meu projeto de pós-doutorado investiga a arquitetura molecular dessas estruturas. Ou seja, avalia as proteínas de membranas presentes e os detalhes a nível molecular ou atômico. Gosto muito dessa ligação entre arte e ciência. Não imaginava que poderia ser selecionada, estar entre os 25 finalistas. Foi uma surpresa muito grande. Representa um reconhecimento que poucas vezes nós temos, uma oportunidade de mostrar como a ciência no Brasil é feita de forma eficiente, é de alta qualidade, com alta produção”, ressalta Ingrid.
A imagem só pôde ser obtida devido à técnica de criomicroscopia eletrônica de varredura, que consiste em trabalhar a microscopia em baixas temperaturas. Uma pesquisa desenvolvida por Vânia Vieira envolve a adaptação do microscópio para que se torne criogênico.
“Foi uma imagem feita a três mãos. Conseguimos a transformação de um microscópio, que trabalhava em temperatura ambiente, para um criomicroscópio, a menos 190 °C. Esse ambiente criogênico foi fundamental para que pudéssemos chegar nesta imagem, nas condições que chegou, uma amostra congelada, vitrificada, pronta para se fazer a criovarredura”, explica Vânia.
Outra imagem, produzida por Jander Matos e Joaquim Nascimento, pesquisadores do Centro Multiusuário para Análise de Fenômenos Biomédicos da Universidade Estadual do Amazonas (CMABio/UEA), fruto de uma cooperação com o IBCCF e Cenabio/UFRJ, mostra um ovo do mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue e zika. Atualmente, Jander é doutorando do Programa de Pós-Graduação Profissional em Tecnologias de Bioimagem e Bioestrutura (PPGP-TBB) da UFRJ, que é multicêntrico, e realiza suas pesquisas também orientado pelo professor Kildare Miranda.

O prêmio resulta do esforço conjunto em investigações sobre a reprodução do Aedes aegypti em relação a situações de agravo climático na Amazônia. Nesse projeto, várias modalidades de microscopia já foram realizadas nos ovos e larvas da espécie.
“Tenho a oportunidade de aplicar de maneira profunda a estrutura e tecnologias disponíveis no entendimento sobre biologia parasitária. Utilizando técnicas de processamento de imagem, chegamos na coloração com este aspecto vibrante e fundo escuro. Joaquim Nascimento, coautor, também é um entusiasta da área e tem esse trabalho como parte de sua tese de doutorado, sob orientação do professor Adalberto Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia”, diz Jander.
Os pesquisadores e seus estudos, que contribuíram para a produção das imagens, estão relacionados a iniciativas do PPGP-TBB da UFRJ. Criado a partir do esforço conjunto de várias unidades do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade, buscou consolidar um programa de pós-graduação profissional, de mestrado e doutorado, em tecnologias de bioimagem e bioestruturas.
“O objetivo é qualificar pessoas que tenham vocação para a parte metodológica em bioimagem. No programa, desenvolvemos metodologias através de novos instrumentos, novos protocolos de preparo e visualização de amostras, e desenvolvimento de software.
O prêmio da Wellcome significa um reconhecimento da excelência do trabalho feito na UFRJ. É um marco no reconhecimento do desenvolvimento metodológico em bioimagem realizado na Universidade, especialmente no contexto desse programa”, afirma Kildare Miranda.
Os trabalhos vencedores deste ano ficarão em exposição no Instituto Francis Crick, de 17/7 a 18/10/2025.