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Pelo Campus Saúde

Tecnologia que melhora a vida

Projeto de extensão da UFRJ produz equipamentos para facilitar o cotidiano de pessoas com deficiência

Apesar de invisibilizadas, as pessoas com deficiência representam uma grande parcela da população brasileira. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2022, mostram que 8,9% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. E mais da metade são físicas. Ainda assim, observa-se uma dificuldade de inclusão das necessidades desse público no cotidiano da sociedade. Esse foi um dos motivos do projeto de extensão Fabricando Tecnologia Assistiva (Fabta) ter sido criado. 

Idealizado pelos professores Carolina Alonso e Anael Alves, o Fabta vem desde 2022 produzindo equipamentos que atendam às necessidades de pessoas com deficiência a partir de tecnologias assistivas. Reunindo conhecimentos de Terapia Ocupacional e de Design Industrial – áreas dos dois idealizadores, respectivamente –, o projeto conta hoje com 18 bolsistas. Desde seu surgimento, já foram atendidos cerca de 30 pacientes do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), na Cidade Universitária. Mais recentemente, os atendimentos se iniciaram também no Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC), no campus da Praia Vermelha.

Além de ser uma questão de cidadania, oferecer as ferramentas necessárias pode ser um diferencial na vida daqueles que precisam, em especial quando estão em situação de vulnerabilidade. Afinal, muitos dos produtos que esses pacientes precisam já existem. No entanto, em sua grande maioria, são importados ou inacessíveis de alguma outra forma. O objetivo da tecnologia assistiva é reunir equipamentos ou serviços que busquem dar mais autonomia a pessoas com deficiência. Como exemplo, podem ser produtos que facilitem o ato de pentear o cabelo, bem como de colocar uma chave na fechadura ou cortar as unhas. Isso permite que o usuário seja mais independente em pequenas ações do cotidiano. 

No caso do Fabta, o diferencial está no fato dessas ferramentas serem produzidas com rapidez e baixo custo. Cada paciente demanda uma ou mais necessidades específicas. E é a partir desse atendimento individual que os produtos são desenvolvidos, utilizando fabricação digital a partir de impressoras de corte e 3D, por exemplo. Alguns desses equipamentos são acessados a partir da parceria do projeto com o Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento de Micros, Pequenas e Médias Empresas (Propme), ligado à Coppe. 

O interesse em unir terapia ocupacional e design industrial é dar mais importância à parte estética e simbólica de cada ferramenta, o que muitas vezes é de extrema relevância para os pacientes, como explica Anael. “Simbolicamente, aquele produto mostra que ele é diferente e ele não quer. A gente também teve paciente que fala: ‘Ah, eu quero um engrossador para talher, mas eu quero comer no shopping, eu quero ir ao restaurante, eu não quero uma coisa feia’. Então quando a gente quer um produto para a gente, quer ter orgulho daquilo que a gente tá usando. Principalmente se aquilo tá apontando para sua diferença”, explica.

Inicialmente, o projeto surgiu apenas como uma disciplina fornecida em parceria entre Anael e Carolina. Com o desenvolvimento, hoje agrega bolsistas que são tanto estudantes da graduação em Terapia Ocupacional quanto de Design Industrial, mas também pós-graduandos em Engenharia de Produção. É o caso de Larissa Umbelino, graduada em Design Industrial, que acompanha os professores desde a primeira parceria. “Fiz a disciplina e ela moldou muito a minha graduação. Porque dentro do curso que eu fiz a gente não tem muito contato com o usuário final. A gente sempre trabalha mais de uma perspectiva de uma persona, uma pessoa meio que imaginária. Então voltar o meu pensamento para o usuário final e ter um contato tão próximo com ele foi muito benéfico para minha graduação”, conta Larissa. 

Com a recente chegada do projeto, a expectativa agora é a abertura de um ambulatório para atendimento no INDC, já que lá não há nenhum terapeuta ocupacional atuante. A partir desse movimento, é possível abrir vagas de estágios para os estudantes em formação, expandindo a assistência e a possibilidade de atuação do Fabta também. Para Carolina, é importante compreender que a terapia ocupacional vai além da indicação de um produto, inclui o trabalho para que o paciente compreenda seu novo corpo. “Isso é a parte da terapia ocupacional, do treino, da atividade da vida diária. Fazer produto é muito legal, né? A gente fica focado no produto, mas é fundamental o acompanhamento da terapia ocupacional”, conclui.