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Megaeventos como o show de Lady Gaga apontam uma nova realidade econômica, afirma pesquisador da UFRJ

Do industrial para o criativo: segundo Marcos Cavalcanti, professor e pesquisador da Coppe, essa atual tendência já promove efeitos mais do que tangíveis no país e no mundo

Depois de quase um ano do show de Madonna, que reuniu mais de 1,6 milhão de espectadores, as areias de Copacabana se preparam para receber outra diva do pop: Lady Gaga. A expectativa de público para amanhã, neste que promete ser o maior show de sua carreira, é de 1,5 milhão de fãs. Desses, cerca de 240 mil são turistas, com 80% de estrangeiros. Para além da expectativa de público, a Prefeitura espera promover importantes impactos econômicos para a cidade do Rio de Janeiro. 

A estimativa é que mais de R$ 600 milhões sejam movimentados pelo evento, de acordo com o estudo “Potenciais Impactos Econômicos do Show da Lady Gaga no Rio – 2025”, elaborado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) e Riotur. Na área turística, os efeitos positivos também são perceptíveis. Segundo a plataforma de hospedagem Airbnb, a procura por estadias na cidade durante a semana do show cresceu 150 vezes, enquanto a busca por passagens aéreas registrou um aumento de 170%. 

Entre o impacto econômico e cultural

Para além de um efeito econômico, medido em números, megaeventos como o show de Madonna e Lady Gaga trazem incentivos que, muitas das vezes, são difíceis de se medir. Vendedores ambulantes, feirantes, comércios e até mesmo a circulação de produtos inspirados nas atrações são retratos do retorno “invisível” que um evento como esse pode trazer. Além disso, a promoção do Rio de Janeiro como um polo importante para a cultura do país se torna um chamariz para que turistas voltem para o Brasil e recomendem a visita a seus conterrâneos.

Segundo Marcos Cavalcanti, professor do Programa de Engenharia de Produção do  Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe) e pesquisador de megaeventos, shows como esse e seus impactos “invisíveis” são consequência de uma nova realidade econômica, que deixou de ser industrial para se tornar criativa. “Essa ideia envolve a indústria do entretenimento, a indústria da informação, a indústria cultural e uma série de atividades intangíveis que não tem um produto físico como na indústria”, afirma Cavalcanti. Saindo do intangível para o real, o professor afirma que essa nova tendência econômica já promove efeitos mais do que tangíveis na economia mundial e nacional. 

Atualmente, serviços que envolvem produção criativa e cultural já correspondem à 6,2% dos empregos no mundo e cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) global, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, é um dos setores que mais cresce no mundo, com exportações que dobram de valor desde 2005. No Brasil, o destaque é ainda maior. Em 2020, de acordo com dados mais recentes disponibilizados pelo Governo Federal, a economia da cultura e das indústrias criativas (Ecic) do Brasil movimentou R$ 230,14 bilhões, o equivalente a 3,11% do PIB. Esses números são maiores do que todo o setor automobilístico nacional, que no mesmo período registrou um impacto de 2% no PIB.

“Todo Mundo no Rio”, todo ano um show

Além de um grande nome, um planejamento minucioso e uma publicidade robusta, é preciso fazer mais para manter vivo o impacto positivo para a cultura da cidade. Foi pensando nisso que, depois do sucesso de Madonna, a Prefeitura e a produtora oficial do evento, Bonus Track, decidiram incluir um grande show nas áreas de Copacabana no calendário oficial da cidade pelos próximos quatro anos. O megaevento “Todo Mundo no Rio” irá trazer, até 2028, outros grandes nomes para as areias da Zona Sul. Segundo a Bonus Track, alguns dos artistas que estão no radar são Taylor Swift, Beyoncé, Adele, Bruno Mars e Paul McCartney.

Ainda assim, há coisas a serem feitas pelo Rio de Janeiro para impulsioná-lo como um destino turístico mundial. Para Marcos Cavalcanti, é preciso pensar na publicidade da cidade antes, durante e depois do show. “O governo, a Prefeitura e os organizadores podem pensar estratégias para concretizar os benefícios intangíveis do show mesmo depois do seu fim”, explica o pesquisador. 

Para ele, as Olimpíadas de Barcelona, em 1992, são um ótimo exemplo para pensar o posicionamento dos grandes eventos do Rio, que falhou em perpetuar-se como destino atrativo depois das Olimpíadas de 2016. “Eles tiveram uma estratégia de trazer a Olimpíada para Barcelona e fizeram ela entrar no mapa mundial como um destino turístico. Antes as pessoas pensavam muito mais em Madrid”, afirma. Hoje, a cidade é uma das dez mais visitadas do mundo.

A cidade se reorganiza para Gaga

Entre números econômicos e expectativas de benefício turístico para o Rio, é no show que todos estarão pensando quando Lady Gaga subir ao palco amanhã à noite. Segundo a organização da Prefeitura, mais de 5 mil agentes, incluindo 1,3 mil policiais militares, estarão no local para realizar o esquema de segurança do show. A cantora norte-americana deve subir ao palco às 21h15, depois de dois espetáculos de abertura a partir das 17h, com DJs ainda não divulgados. A previsão é de que a Mother Monster encerre sua performance à meia-noite e quinze. Depois que a artista sair do palco, mais um DJ ainda não divulgado deve encerrar o evento.

Quem mora em Copacabana já sentirá os impactos do show na rotina ainda hoje. A partir das 18h, o estacionamento de veículos será proibido em todo o bairro de Copacabana. Cerca de três mil vagas serão suprimidas.  Às 7h da manhã de sábado, a Avenida Atlântica estará fechada para circulação de veículos em ambos os sentidos. A partir das 18h, apenas ônibus de linhas regulares e táxis poderão circular no bairro, mas, a partir das 19h30, esses veículos também estarão proibidos, com bloqueio total em Copacabana até as 4h da manhã de domingo.

Para chegar ao show, a recomendação é utilizar transporte público. As estações de metrô de Copacabana funcionarão por 24 horas, mas o MetrôRio recomenda que os espectadores priorizem a estação Siqueira Campos, tanto na ida como na volta. As demais estações do sistema funcionam normalmente, até meia-noite. Depois disso, estarão abertas por 24 horas apenas para desembarques. A recomendação é priorizar a compra antecipada de bilhetes, mas o pagamento por aproximação e com o cartão RioCard estará disponível no dia do evento.