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Ismar de Souza Carvalho, do Instituto de Geociências, publica artigo de capa na Nature sobre nova espécie de ave pré-histórica brasileira

Navaornis hestiae é elo evolutivo importante para compreender a relação entre as aves atuais e seus ancestrais pré-históricos

O pesquisador Ismar de Souza Carvalho, do Instituto de Geociências (IGeo) e da Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é coautor de um estudo publicado na revista Nature, uma das mais prestigiadas da ciência mundial. O artigo, que foi destacado na capa da edição, descreve o Navaornis hestiae, uma nova espécie de ave que viveu há 80 milhões de anos, uma das mais espetaculares descobertas já feitas na paleontologia de vertebrados do Brasil.

Além de Carvalho e do professor da Universidade de Brasília (UnB) Rodrigo Miloni Santucci, assinam o artigo pesquisadores do Museu de História Natural de Los Angeles, nos Estados Unidos, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia. “A descoberta de Navaornis é um marco para a paleontologia brasileira. Além da excepcionalidade de sua preservação, demonstra a relevância das aves que existiram logo após a separação dos continentes que formavam Gondwana e que possibilitam o entendimento de aspectos evolutivos entre as aves mais antigas e as atuais”, explica Carvalho.

Capa da revista Nature destacando a pesquisa com participação da UFRJ | Imagem: Reprodução/Nature

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O fóssil, tridimensional e excepcionalmente preservado, revela características que combinam traços arcaicos e modernos. Apesar do crânio sem dentes e com grande cavidade ocular, além de uma abóbada craniana similar às aves modernas, análises filogenéticas situam o Navaornis no grupo Enantiornithes, aves primitivas do Mesozoico. O estudo mostrou que, embora sua geometria craniana seja indistinguível das aves atuais, Navaornis conserva traços ancestrais, como um rostro dominado pelo maxilar, palato imóvel, configuração temporal diapsídica, cerebelo pequeno e telencéfalo pouco desenvolvido.

Além disso, o Navaornis apresenta uma flexão cerebral comparável à de aves modernas e um labirinto ósseo proporcionalmente maior, mas semelhante em forma. Essa combinação de traços avançados e primitivos esclarece a evolução da morfologia craniana e neurocraniana entre aves, mostrando uma surpreendente convergência entre Enantiornithes e aves modernas, grupos que compartilharam um ancestral comum há mais de 130 milhões de anos.

Esse é o motivo da segunda parte do novo nome da ave: hestiae, uma homenagem à deusa grega da arquitetura Héstia, filha de Cronos, o deus do tempo. A espécie reflete a dualidade do tempo através de seu crânio. Pertence a uma linhagem arcaica de aves, apesar de a geometria de seu crânio ser essencialmente semelhante ao de uma ave moderna. A primeira parte do nome da ave é uma homenagem ao paleontólogo William Roberto Nava, diretor do Museu de Paleontologia de Marília, que a descobriu no município de Presidente Prudente.

O fóssil fornece dados cruciais sobre a transição de características entre Archaeopteryx e as aves modernas, ajudando a elucidar o padrão e o tempo de montagem das características neuroanatômicas distintivas das aves atuais. “Os fósseis oriundos do Brasil revelam aspectos únicos da evolução da vida na Terra. A ave Navaornis é um bom exemplo disso, pois através dela é possível entender as transformações evolutivas, até agora desconhecidas, entre as aves mais primitivas e as que hoje encontramos em variados ambientes”, completa o professor da UFRJ.

Clique aqui para ler o artigo completo na revista Nature.

Fósseis de Navaornis hestiae, atualmente depositados no Museu de Paleontologia de Monte Alto, no estado de São Paulo | Imagem: Divulgação