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Pelo Campus

A UFRJ que (não) saiu do papel

Núcleo de Pesquisa e Documentação (NPD/FAU) apresenta projetos arquitetônicos nunca vistos da Cidade Universitária

O Núcleo de Pesquisa e Documentação (NPD), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ), promove a exposição “UFRJ em perspectiva”, que mostra a construção da Cidade Universitária por meio de desenhos, documentos e fotos dos anos 1950, 1960 e 1970. São 17 edifícios expostos, alguns que nem foram erguidos, como o Instituto de Física Nuclear e o Instituto de Biofísica. A exposição fica disponível ao público até o dia 22/7 no segundo andar do prédio da FAU/EBA, na antiga Reitoria.

O material mostra como poderia ter sido o campus, afetado pelas mudanças feitas ao longo dos anos. Em desenhos da FAU, por exemplo, parte de onde hoje são vidros, haveria cobogós (tijolo furado ou ao elemento vazado feito de cimento empregado na construção de paredes perfuradas). A Faculdade de Letras ficaria atrás do prédio Jorge Machado Moreira nos primeiros estudos para o edifício. Também um estádio planejado para o campus ficaria onde estão atualmente os campos de rúgbi e hóquei sobre grama, que acabaram criados para servir de local de treinamento às delegações estrangeiras nas Olimpíadas de 2016, mas estão hoje abandonados.

O professor da FAU e curador da exposição Andres Passaro afirma que, por meio das fotos, é possível “entender a dimensão hercúlea e ambiciosa do projeto, assim como compreender, hoje, que nossos edifícios algum dia foram novos e chamados de modernos”, afirma.
O arquivo da época conta com mais de 50 mil materiais, parte ainda nem explorada. Segundo o pesquisador Tomás Urgal, que divide a curadoria com Andres, a equipe descobriu perspectivas inéditas dos prédios. “Expomos tudo que encontramos até o momento”, afirma. As plantas são assinadas pelo arquiteto Jorge Machado Moreira e pelo Escritório Técnico da, então, Universidade do Brasil.

(Des)continuidades

Desde a época da construção da Cidade Universitária, a UFRJ apresentava problemas orçamentários, que fizeram com que muitos prédios não saíssem do papel, mesmo aprovados pelo Governo Federal. “O que a gente tem hoje não foi por acaso, mas tão pouco concebido dessa maneira”, defende Tomás.

Em 1953, o primeiro prédio da Cidade Universitária, o do Instituto de Puericultura e Pediatria Martgão Gesteira (IPPMG) foi inaugurado. Na exposição, é possível ver uma foto de Getúlio Vargas visitando o local. Já em 1960, Brasília foi criada, o que reduziu o caixa destinado à Universidade. “Isso já foi suficiente para dividir o orçamento. A gente foi perdendo a noção do porquê ter uma Universidade do Brasil numa cidade que não é mais a capital”, destaca Tomás. O nome só foi alterado para Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1965, já na Ditadura Militar.

Foto: Divulgação

O NPD

Criado há mais de 40 anos, o Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU destina-se à preservação de importantes acervos da arquitetura brasileira. São mais de 500 mil documentos do século XIX até o início do século XXI. O NPD também guarda desenhos de ex-alunos da Escola de Belas Artes, da Faculdade Nacional de Arquitetura e de arquitetos como Sérgio Bernardes, Jorge Machado Moreira, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy e Paulo Cazé.