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Ensino antirracista em toda a UFRJ é meta da nova gestão do Neabi

Neabi quer professores e alunos com conhecimento para lutar contra o racismo

Prestes a tomar posse como diretor do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o professor Wallace de Moraes defende uma nova fase para o órgão. Ligado ao Fórum de Ciência e Cultura (FCC), o Neabi passará a dar ênfase nas ações de ensino, diferentemente de outros núcleos criados no Brasil. “Eu quero que a UFRJ tenha o primeiro Neabi do país como unidade de ensino. Isso vai levar a uma onda de mudança nas universidades. A UFRJ tomará um protagonismo fora do normal na luta antirracista do Brasil”, afirma. 

Os Núcleos de Estudos Afro-brasileiros foram criados principalmente pela necessidade de formar educadores que saibam sobre História e Cultura Africana, Afro-Brasileira e Indígena, assunto obrigatório nas escolas de todo o Brasil, conforme as leis nº10.639/2003 e nº 11.645/2008. No contexto universitário, muitos deles estão ligados também à promoção de eventos culturais e palestras. Apesar dessa tradição, o professor entende que é preciso ofertar disciplinas obrigatórias sobre relações étnico-raciais em todos os cursos da Universidade.  

O Neabi fará um levantamento para saber quantos cursos ministram aulas sobre a temática e oferecerá suporte para a implementação de disciplinas nas unidades. Atualmente, as ementas do currículo universitário são repletas de pensadores europeus, deixando de lado autores latinos e africanos. “Todo aluno tem que ter um letramento antirracista, tem que saber valorizar as culturas negras e indígenas. É desta maneira que eu acredito que a gente vai combater o racismo e minimizar os efeitos racistas”, pontua. 

Nesta semana, o Neabi fez mudanças no seu regimento interno para dar foco ao ensino. O órgão também criou um Conselho Deliberativo para tornar as decisões mais democráticas e coletivas. Um dos objetivos da nova gestão é fomentar cursos de capacitação para professores do ensino superior. “Não basta ter uma disciplina sobre relações étnico-raciais, é necessário que seja ministrada por uma pessoa que tenha a compreensão de protagonizar os negros e indígenas no saber”, explica. 

Para que toda essa mudança ocorra, o professor acredita no diálogo com todos os centros da UFRJ. “A gente quer apresentar a proposta do Neabi, o que é, qual o papel e nos colocar à disposição para ajudar e ouvir dos colegas como eles pensam as ações e como podem cumprir essa função.” O professor também pretende manter laços com a Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) e com a Reitoria, que disponibilizou um buffet decolonial para a cerimônia de posse na segunda-feira, 13/5, às 17h, no Salão Pedro Cálmon do Palácio Universitário. 

No mesmo dia, celebra-se a assinatura da Lei Áurea, que marcou a abolição da escravatura. A data é questionada pelos movimentos negros, pois os escravizados buscaram a liberdade por outros meios como a resistência e o pagamento de alforrias. “O propósito é fazer um ressignificado dessa abolição”, finaliza Wallace de Moraes.