A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, realizou, em 27/10, a palestra “Reparação e ações afirmativas: por um Brasil com justiça social” no Salão Pedro Calmon. O evento foi organizado pela Superintendência-Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade (Sgaada) para a abertura das atividades do Novembro Negro na UFRJ e lançamento da campanha “UFRJ Antirracista – Nem um passo atrás: a Universidade está mudando”.
Durante a abertura, a superintendente da Sgaada, Denise Goés, enfatizou que a política de cotas na Universidade permitiu o aumento de 71% do número de estudantes negros na UFRJ, promovendo uma revolução silenciosa nos espaços de conhecimento do país.
“Após mais de um século de existência, este ano a Universidade avançou para a institucionalização de pautas outrora silenciadas e negligenciadas. Chegamos aos espaços de poder, ministra. Chegamos. Nosso movimento é forte porque é coletivo.”
Fátima Lima, professora da Faculdade de Letras (FL/UFRJ) e orientadora de doutorado de Anielle, comemorou o auditório lotado pela juventude negra e ressaltou a importância da renovação na Universidade. “Há 14 anos eu sou servidora da UFRJ e não consigo entender outra maneira de estar aqui sem estar na militância e no ativismo dentro da academia. A política de cotas é muito mais do que números, a gente precisa lutar pela permanência, para que os alunos negros entrem nas graduações e também na docência. Para isso, toda a Universidade precisa estar comprometida. Esta não é uma pauta identitária, não é só do povo negro; precisa ser de todos”, declarou.
Roberto Medronho, reitor da UFRJ, agradeceu a presença da ministra enfatizou que a Universidade precisa deixar evidente que não há mais espaço para o racismo. Segundo ele, ações como a criação da Sgaada e a campanha UFRJ Antirracista são passos para garantir espaços mais plurais. “Não haverá democracia neste país enquanto houver racismo”, defendeu.
Convidada por Anielle, a deputada federal Benedita da Silva agradeceu ao público pela recepção e defendeu que mulheres negras ocupem cada vez mais espaços de poder como ela e Anielle.
“Nasci mulher negra, tentaram me fazer de homem e branco. Mas eu não aceitei, não pactuei com isso. Vou soltar minha voz para dizer a todo momento: sou mulher negra!”
Em sua fala, Anielle contou que, quando sonhava com a docência, acreditava que ser professora universitária era uma realidade muito distante. Por isso, ao entrar no doutorado na UFRJ, se emocionou por estar inserida na Universidade que sempre observou da Maré.
“Eu cresci em uma família que sempre me disse que o conhecimento que a gente adquire ninguém tira. Mas a gente precisa de condições para isso. Ser desta Universidade é mérito de vocês.”
Anielle celebrou o crescimento de mulheres negras em espaços de poder, como a presença de Denise Goés à frente da criação da Sgaada e da maior presença delas em cargos de visibilidade. “A Maré produziu vereadora, ministra, deputada, como muitas outras favelas. Mas continuamos sendo tratadas como se não fôssemos merecedoras. A política não vai nos mudar!”
Com o lançamento da campanha “UFRJ Antirracista – Nem um passo atrás: a Universidade está mudando”, a ministra reivindicou que as ações não sejam apenas parte de um discurso, mas que sejam também adotadas na prática.
“Esta política de que a gente está cuidando, e batalhando por ela também, é uma política que precisa entender que tem que caber mais de nós”, finalizou Anielle.
O evento também homenageou Marinalva Silva Oliveira, professora da Faculdade de Educação e participante do Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ, falecida hoje.
Assista à palestra completa no canal do Youtube do Fórum de Ciência e Cultura (FCC).