Do isolamento social ao retorno presencial das aulas, estudantes tiveram de encarar situações desafiadoras que os afetaram física e psicologicamente. Os efeitos disso no convívio e no desempenho acadêmico repercutem até hoje. No último semestre, a Divisão de Saúde do Estudante (Disae), que promove acolhimento psicoterápico ou assistencial na graduação e pós-graduação, recebeu cerca de 80 alunos da UFRJ que necessitavam de atendimento. “A gente não imaginava que a procura fosse ser tão alta”, afirmou Nathália Kimura, diretora da Disae. Nesse contexto, hoje, 11/8, Dia do Estudante, é importante refletir sobre a saúde mental dos discentes da Universidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende que a saúde mental do ser humano depende da capacidade de resiliência, ou seja, de enfrentar adversidades frente a questões individuais e externas, como o contexto socioeconômico ou familiar. Em situações mais delicadas, como o isolamento social vivenciado na pandemia, ser resiliente torna-se mais difícil, possibilitando, assim, o desenvolvimento de transtornos mentais − que comprometem o bem-estar geral do corpo, a habilidade de se relacionar e conseguir lidar com pessoas e problemas.
No mundo, quase um bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental em 2019, e, com a pandemia, a incidência de ansiedade e depressão aumentou em 25%, segundo a OMS. Hoje, no Brasil, 26,8% da população é diagnosticada com ansiedade e 12,7% com depressão. Os jovens são considerados as maiores vítimas da ansiedadee o segundo grupo que mais sofre com depressão do país. Os dados são do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), deste ano, feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Problemas universitários
Iracema Oliveira, 50 anos, é aluna do curso de Pedagogia na UFRJ, e, durante a pandemia de covid-19, participou da ação Vivências na Quarentena, promovida pela Divisão de Saúde do Estudante.
“Em um momento de dor, luto e distanciamento, a equipe da Disae foi muito acolhedora. Foi uma atitude de muito apreço e cuidado da UFRJ oferecer aos alunos e alunas um suporte emocional diante de uma realidade desafiadora”, afirma a estudante.
A Disae realiza encontros semanais e mensais com projetos, grupos e rodas de conversa itinerantes, promove a Semana de Saúde do Estudante em março, com oficinas e apresentações de trabalhos relacionados à saúde mental, além de oferecer apoio às Comissões de Orientação e Acompanhamento Acadêmico. A Divisão oferece também acompanhamento individualizado e direciona demandas para as unidades de saúde parceiras. O estudante também pode procurar a Divisão de Psicologia Aplicada Professora Isabel Adrados, do Instituto de Psicologia, e consultar os manuais sobre saúde mental no site da Pró-Reitoria de Políticas Estudantis.
As principais queixas dos alunos atendidos pela Divisão estão associadas à ansiedade, à depressão e a questões do contexto estudantil, como o relacionamento com colegas e professores e a sensação de pertencimento. No contexto nacional, os estudantes universitários são atravessados por exigências de dentro e de fora da universidade, que comprometem a saúde mental e o desempenho acadêmico: 34% dos alunos trabalham; 19,7% entendem que a carga de trabalhos estudantis é excessiva; 19,3% passam por dificuldades financeiras; e 18,4% sofrem com o tempo de deslocamento para estudarem. Os dados são da última Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação de Universidades Federais realizada com 424.128 discentes pela Andifes.
Para Nathália Kimura, ainda que essas questões possam não ter se desenvolvido no contexto universitário, elas podem afetar o desempenho acadêmico, porque “é difícil dissociar o que é da universidade do que não é da universidade”. Além disso, os alunos precisam ser acolhidos não só pelo serviço de saúde, mas pela comunidade acadêmica mais próxima deles.
“Cuidado em saúde mental é algo em que toda a universidade precisa estar envolvida, até porque o estudante é da unidade, então quem mais vai encontrar com aquele estudante é o docente, é o servidor que está ali na secretaria acadêmica. Logo, é preciso que esse acolhimento também seja feito por eles”, completa Nathália.
*Sob supervisão da jornalista Vanessa Almeida