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Autenticidade para a produção rural

Projeto de extensão da UFRJ auxilia produtores rurais a melhorar sua atratividade no mercado

O Brasil é o quarto produtor mundial de grãos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). No entanto, a previsão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é de que a produção brasileira supere a indiana ainda em 2023. Para muito além das máquinas utilizadas no campo, o verdadeiro responsável pelo alcance desses números é o agricultor brasileiro. Neste 28 de julho, Dia Nacional do Agricultor, o Conexão UFRJ fala sobre o projeto de extensão Design para Indicações Geográficas, realizado pela InovaUFRJ e pelo Parque Tecnológico, que busca auxiliar produtores rurais de diferentes regiões do país.  

Desenvolvido a partir de uma parceria entre a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o projeto tem como objetivo investir na qualidade e, principalmente, na imagem do produto de pequenos produtores rurais, ajudando-os a tornar suas mercadorias mais atrativas economicamente. A iniciativa surgiu do projeto global Intellectual Property (IP) For Young Designers [Propriedade intelectual para jovens designers], que visa disseminar conteúdos sobre propriedade intelectual e levar conhecimentos variados sobre o assunto para estudantes de design ao redor do mundo. 

O foco do projeto está na transformação da imagem do produto rural com base em princípios de propriedade intelectual, conceito que, segundo a OMPI, está relacionado à proteção legal e reconhecimento de autoria de uma criação. Por isso, a iniciativa baseou-se em um princípio específico: a Indicação Geográfica (IG), registro conferido a produtos ou serviços que são característicos de seu local de origem. Ou seja, produtos que têm uma qualidade única devido ao solo, vegetação e clima de uma região particular. O queijo da Serra da Canastra e a cachaça de Paraty são exemplos de IGs aqui no Brasil. 

Segundo o coordenador acadêmico do projeto Clorisval Pereira, a iniciativa Design para Indicações Geográficas tem três fases. A primeira se deu como uma etapa formativa que visava capacitar os integrantes do projeto em assuntos relacionados à propriedade intelectual, como registro de patente e de Indicação Geográfica, por exemplo. De acordo com o coordenador,  o minicurso foi realizado pelo INPI e todos os participantes passaram por esta etapa de caráter didático.

A segunda fase se deu no trabalho direto com os produtores de indicação geográfica, a partir de visitas in loco. Em articulação com o Sebrae, 25 estudantes da UFRJ visitaram as cinco associações identificadas com selo de IG selecionadas pelo projeto. A proposta, segundo Clorisval, era conhecer os produtores e suas atividades de forma imersiva, para que os estudantes pudessem observar, entrevistar, coletar dados e, principalmente, entender por completo o que é e como se dá determinada produção rural. Para ele, além de fazer grande diferença no desenvolvimento do projeto, a experiência imersiva também foi uma oportunidade valiosa de aprendizado para os estudantes. 

“É lógico que a gente tem várias disciplinas em que os estudantes se envolvem na embalagem e desenvolvem branding. Mas, muitas vezes, são produtos ficcionais ou com base em bibliografia. Por exemplo, nós subimos lá no alto da montanha onde se colhe o café e vimos como é a retirada, depois como é o processamento e a secagem do café. Vimos a fábrica descascadora até a prova do café ou armazenamento. Isso é algo que numa disciplina comum não temos acesso”, diz o coordenador. 

Segundo ele, além de auxiliar os produtores rurais no seu desempenho no mercado, a proposta do projeto é trabalhar com produtos de diferentes regiões do Brasil. A região do Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, por exemplo, produz o Socol, um tipo de presunto curtido e curado. Já a região de Divina Pastora, em Sergipe, tem uma associação de mulheres que trabalha com renda de agulha em lacê, um tipo de renda irlandesa. A região de Mara Rosa, em Goiás, planta açafrão, enquanto a de Maués, no Amazonas, fornece guaraná em pó. Por sua vez, a região de Matas de Minas, em Minas Gerais, é produtora de um tipo especial de café.  De acordo com Clorisval, o grupo de integrantes do projeto fez uma reunião neste mês de julho para uma apresentação sobre a coleta dos dados recolhidos nas visitas, o que marcou o final da segunda etapa. 

Agora, na fase final do projeto, estudantes e professores que integram a equipe começarão a pensar e desenvolver as propostas para os produtos das Indicações Geográficas selecionadas. Apesar do foco principal na embalagem, o projeto também poderá propor ideias no que Clorisval chama de “produtos colaterais”, ou seja, a parte de marketing do produto, mídias sociais, website e posicionamento on-line do produtor. Os resultados serão apresentados ainda em setembro deste ano. “Agora vamos iniciar de fato a etapa de soluções para melhorar a inserção no mercado dos produtos desses produtores”, diz Clorisval. 

O coordenador conclui dizendo que o design é fundamental para estes produtores, porque é a forma como se apresentam para o mercado e para o público em geral. A embalagem, por exemplo, ao contrário do que muitos pensam, é essencial para um produto e agrega valor a ele. Segundo Clorisval, o projeto olhará para essas e outras questões voltadas para identidade visual que aquele produtor poderá apresentar. Tudo isso a partir de uma união entre o conhecimento acadêmico e o mercado de produtores. 

“Muitas vezes os produtores não têm muito acesso a escritórios ou agências de design. Então eles estão bem animados com o projeto, principalmente porque vão ter acesso a um serviço  de design que eventualmente teriam que contratar em um escritório caro. Mas agora terão esse acesso pela Universidade. É uma parceria que entendemos que com certeza vai melhorar a inserção deles no mercado”, conclui.