Com visão abrangente da trajetória da vida e obra do economista Carlos Lessa, foi lançado, na semana passada, no salão Pedro Calmon, na Praia Vermelha, o livro Carlos Lessa: o Passado e o Futuro do Brasil. A obra reúne a coletânea de textos de diversos autores em homenagem ao ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que morreu aos 83 anos, em 2020.
Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa formou-se em Economia na UFRJ em 1959. Tornou-se professor-titular e diretor do Instituto de Economia (IE). Mais tarde, foi decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) e eleito reitor da Universidade em 2002. Lessa também ocupou diversos outros cargos, como a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na opinião de um dos autores do livro, Mauro Osorio, professor na Faculdade Nacional de Direito (FND), Lessa, como decano do CCJE, foi decisivo ao ajudar a FND em fases difíceis. Uma desses momentos foi quando ele cedeu vagas para contratação de profissionais por concurso, permitindo assim reflorescimento da faculdade, que hoje tem um programa de mestrado e doutorado avaliado com nota 6 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Lessa era um apaixonado pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil. Segundo Osorio, escreveu um livro seminal: Rio de Todos os Brasis. Ao lado de intelectuais como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e Antônio Barros de Castro, fez parte de um grupo de economistas que interpretou o país de forma original: “Eles pensavam de forma articulada economia, sociedade e política. Lessa é uma referência fundamental para se entender o Brasil e se pensar um futuro menos desigual para o nosso povo”.
O livro
A obra é dividida em três partes: vida e obra; reflexões teóricas, políticas e econômicas sobre o desenvolvimento brasileiro; o Rio de Janeiro. São 397 páginas com 17 artigos de 30 autores e autoras. O livro recupera o pensamento amplo de Carlos Lessa e a atualidade de muitas de suas ideias. Inclui desde um artigo bastante pessoal de seu filho, Rodrigo Lessa, a textos sobre sua trajetória acadêmica, política e como gestor público. Aborda as passagens do professor pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), por instituições como a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pela Reitoria da UFRJ e pela diretoria e presidência do BNDES. Trata, ainda, de seus pensamentos e reflexões sobre economia, desenvolvimento e democracia, o Brasil, a “brasilidade” e o Rio de Janeiro, uma de suas paixões.
Entre os autores, além de Rodrigo, colegas, ex-alunos, admiradores e amigos, como Luiz Gonzaga Belluzzo, Roberto Requião, Sulamis Dain, Luciano Coutinho, Ricardo Bielschowsky, Hildete Pereira de Melo, Fabio Sá Earp, Glória Moraes, Walsey Magalhães, Helena Lastres, Mauro Osório, Inês Patrício, Carlos Brandão, Carlos Pinkusfeld, Luis Antônio Elias, Darc Costa, William Nozaki, Fernando Nogueira da Costa, Victor Leonardo de Araújo, Bruno Rodas, Jorge Natal, Cezar Guedes e Bruno Sobral. O livro também conta com dois artigos de Nelson Victor Le Cocq d’Oliveira (in memoriam), falecido durante preparação da obra. Ele era membro da comissão editorial da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed), que inspirou a publicação.
De acordo com Helena Maria Martins Lastres, outra integrante da comissão da Abed, Lessa possuía visão histórico-estruturalista contextualizada e sistêmica, articulando as dimensões econômica, social e política, que estão no centro de seus principais legados. Segundo ela, economia e finanças são muito importantes, mas a dimensão sociocultural é ainda mais, e as questões de poder jamais foram ignoradas. “Daí a importância de resgatar e atualizar essas seminais contribuições, visando compreender o passado do Brasil para melhor entender nosso presente e operar sobre o futuro”, afirmou.
Como reiterado e contextualizado diversas vezes na obra, de acordo com Lastres, as seminais contribuições de Lessa há décadas inspiram a formação de profissionais capacitados a compreender melhor o funcionamento dos países periféricos: “Destaque à sua abordagem teórica, conceitual e analítica inovadora e adequada às especificidades brasileiras e latino-americanas, e que serviu de importante alternativa às restrições das correntes hegemônicas tradicionais”.
O livro é o terceiro organizado pela Abed, em parceria com a editora Expressão Popular e a Fundação Perseu Abramo (FPA), que já lançou livros em homenagem a Celso Furtado e Wilson Cano. A obra, que contará com versão impressa a ser ainda lançada, possui a versão eletrônica (gratuita) nos canais da Abed e parceiros, ou pode ser baixada por aqui, no Conexão UFRJ.