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Entrevista com Roberto Medronho, candidato a reitor da UFRJ

Professor da Faculdade de Medicina lidera a chapa 10 – UFRJ para Todos, ao lado da candidata à vice-reitora Cássia Turci

O Conexão UFRJ, em parceria com a Rádio UFRJ, entrevistou Roberto Medronho, candidato a reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela chapa 10 − UFRJ para Todos. Ele é professor da Faculdade de Medicina (FM).

Assista a seguir ou leia a versão transcrita adiante.

Victor França: Olá, eu sou Victor França, repórter do Conexão UFRJ. Aqui nós vamos entrevistar os candidatos a reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o mandato que vai de julho de 2023 a julho de 2027. A iniciativa é do Conexão UFRJ, o site de notícias da nossa Universidade. A iniciativa é feita em parceria com a Rádio UFRJ, que é uma emissora educativa do Núcleo de Rádio e TV, um órgão vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Aqui comigo está Marcelo Kischinhevsky, professor de Comunicação e também diretor da Rádio. Marcelo, tudo bem? Bem-vindo! 

Marcelo Kischinhevsky: Tudo bem, Victor. É um prazer enorme dividir aqui esse espaço contigo para fazer as entrevistas tão importantes para o futuro da Universidade.

Victor França: Certo! A nossa intenção é fazer com que você, professor, estudante, técnico-administrativo, possa exercer o seu papel democrático e de forma consciente na hora do voto. Essas entrevistas ficam disponíveis no canal da UFRJ no YouTube e a versão transcrita você também confere no nosso site, que você já sabe: conexão.ufrj.br. 

Marcelo Kischinhevsky: Isso mesmo Victor, e a rádio UFRJ vai preparar um especial com os principais pontos abordados na entrevista com os candidatos. Você que nos acompanha vai poder ouvir essa cobertura pelo site radio.ufrj.br ou pela sua plataforma de podcast favorita. Antes de começar, vamos às regras. Serão feitas 15 perguntas para cada um dos candidatos, que terão até um minuto e meio para responder a cada uma. As perguntas são as mesmas para ambos.

Victor França: Um temporizador também está disponível para que os candidatos possam organizar o seu tempo. 

Marcelo Kischinhevsky: As entrevistas foram acertadas com as chapas de acordo com a agenda dos candidatos. Roberto Medronho, da chapa UFRJ para Todos, será o primeiro sabatinado, seguido por Vantuil Pereira, da chapa Redesenhando a UFRJ. 

Victor França: Abrimos, então, conversando com Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina. Professor, muito obrigado pela sua presença e por aceitar o nosso convite. 

Roberto Medronho: Eu que agradeço! É um prazer e uma honra estar aqui com vocês.

Victor França: Tá certo, professor! A gente começa abrindo essa entrevista falando sobre propósito. Por que ser reitor da UFRJ?

Roberto Medronho: Eu entrei aqui para essa Universidade em 1977. Estudei no ensino público e gratuito, na época de muita qualidade, foi da Escola Municipal Tagore. Fui do Colégio Pedro II e entrei para a Faculdade de Medicina. Eu sou o que sou hoje graças ao ensino público e gratuito. Então, ao longo da minha carreira aqui na Universidade, eu sempre estive à frente de algumas administrações: na Faculdade de Medicina, no Instituto de Saúde Coletiva, conselheiro do Consuni. Então, tenho também uma larga experiência administrativa, mas também uma coisa que me fez ter muita vontade de digerir a nossa Universidade foi a minha participação no GT Coronavírus. Graças ao GT Coronavírus, a UFRJ deu grandes contribuições para a saúde desse país, combatendo negacionismo, tentando dar informações de qualidade para salvar vidas. E eu conheci muito essa Universidade, como nunca antes, durante essa pandemia. Eu conheci coisas maravilhosas que essa Universidade faz. Estou com muito entusiasmo de unir todos esses saberes porque nós precisamos, antes e acima de tudo, reconstruir essa nação que foi devastada, destruída nos últimos anos. Então, a UFRJ tem um compromisso muito grande na reconstrução nacional e para isso precisamos ter orçamento, condições de trabalho dignas para os nossos servidores e melhores condições, inclusive de salário, que nós não podemos bancar, mas podemos ter estratégias de melhorar a qualidade dos nossos funcionários.

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor. Vamos falar rapidamente sobre orçamento. O orçamento da UFRJ vem sofrendo redução ano a ano. Como você espera se relacionar com o Ministério da Educação para uma recomposição orçamentária? 

Roberto Medronho: Bom, em primeiro lugar, a despeito de ser candidato, já estou me relacionando. Tenho conversado com o Ministério da Educação e Cultura, professora Denise, que é a secretária de Ensino Superior. Tenho conversado muito com ela, tenho conversado também com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, porque a questão da saúde na nossa Universidade, a questão dos nossos hospitais, é muito complicada. Ainda mais tendo o nosso Hospital Universitário, as nossas unidades de saúde, salvo tantas vidas, e infelizmente também nós tivemos perdas ao longo desse processo. Então, a sociedade e o governo têm uma dívida muito grande com as nossas unidades hospitalares. Mas não apenas isso, não apenas a recomposição do nosso orçamento de forma com que a gente trabalhe com a dignidade necessária. Estamos buscando parcerias com o Ministério do Meio Ambiente, com o Ministério da Cidadania, com todos os serviços e as secretarias municipais e estaduais dos diversos setores, porque nós temos expertise para ajudar em todas as políticas públicas desse país. Então nós, além de lutarmos por um orçamento que nos contemple, nós teremos muitos desafios para conseguir ampliar o aporte de recursos para toda a Universidade. A nossa infraestrutura é dramática: prédios inacabados. Nós precisamos dar dignidade para todos os nossos servidores e alunos. 

Victor França: Obrigado, professor. A gente, agora partindo de orçamento, agora a gente fala sobre ensino. Depois de cortes profundos, há uma discussão sobre a retomada dos investimentos nas universidades federais; e já até se fala em Reuni 2. Queria saber quais são as propostas para aprimorar a qualidade do ensino na UFRJ e também saber se a Universidade deve criar novos cursos e ampliar o número de vagas? Um minuto e meio. 

Roberto Medronho: Bom, em primeiro lugar, eu sempre fui a favor do Reuni. Estava no Conselho Universitário, defendia a criação do Reuni, embora muitos colegas, de forma equivocada, foram contrários à criação do Reuni. Graças ao Reuni, aumentamos em 50% as nossas vagas, criamos novos campi, criamos novos cursos, e o Reuni, junto com as cotas, abriu a Universidade, democratizou a Universidade e hoje o nosso corpo discente é muito mais semelhante à população brasileira do que era antes do Reuni e das cotas. Então, sempre fui e sou entusiasta. Nós também precisamos fortalecer a Comissão de Heteroidentificação para evitar os fraudadores; nós aprofundaremos esse trabalho. Mas, mais do que isso, nós precisamos ter mais dignidade nas salas de aula. Algumas salas de aulas não são próprias para o ensino. Precisamos ter é uma climatização, precisamos reformar essas salas, precisamos construir os prédios que ainda não foram acabados, precisamos ampliar o alojamento, o restaurante universitário. Então, além de lutarmos pela qualidade da graduação, nós precisamos também dar dignidade para esse processo de ensino que temos. Finalmente, nós estamos querendo formar cidadãos, não apenas técnicos para servir a sociedade, mas também cidadãos comprometidos com as mudanças sociais desse dramático quadro social que passamos.

 Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor. Ainda falando sobre ensino, mas agora relacionado à pós-graduação, a UFRJ tem mais de 130 programas de pós-graduação, dos quais 47 têm notas 6 ou 7 na avaliação da Capes; ou seja, são considerados de nível internacional. Quais suas propostas para avançar ainda mais na pós-graduação e potencializar pesquisa e inovação, inclusive em termos de internacionalização?

Roberto Medronho: Perfeito! Bom, em primeiro lugar, nós precisamos integrar as pós-graduações. São diversos campos do saber e, hoje, com desafio da multidisciplinaridade para enfrentar os problemas concretos da nossa sociedade, é necessário que essas pós-graduações sejam bem mais integradas. Estamos com a proposta de criar uma espécie de Procad da UFRJ, de criar mecanismos de fomento para que os programas 6 e 7 possam, junto com os programas que não têm essa nota, alavancar esses programas, porque isso aumentará a qualidade da produção do nosso conhecimento, integrará a esses essas pós-graduações e fará com que nós tenhamos propostas objetivas para a transformação social necessária. Então, isso é uma coisa fundamental. A outra questão é participar de todos os editais que forem oferecidos, especialmente das instituições de fomentos nacionais e internacionais. E a participação dos editais institucionais: eu quero dizer, para todos os colegas que fazem pesquisa na UFRJ, que serão integrados; a UFRJ apresentará projetos integrados para concorrer esses editais integrados com os programas nota 6 e 7, e os programas que não têm esta nota ainda. O nosso objetivo é que tenhamos todos os programas 6 e 7. Obviamente isso não se faz em um dia nem um ano, mas nós precisamos criar uma política para isso. 

Victor França: Obrigado, professor. Agora partindo de pós-graduação, vamos falar um pouco de extensão: a UFRJ tem cerca de 3 mil projetos. São milhares de projetos de extensão, entre programas, projetos, cursos e eventos, sempre com um impacto na sociedade em diversas áreas do conhecimento. A gente quer saber, professor, que iniciativas práticas você propõe para aumentar a articulação da UFRJ com a sociedade e qual deve ser o papel da UFRJ perante os desafios do Brasil? 

Roberto Medronho: A extensão é essencial, porque ela vai direto na comunidade e já aporta os conhecimentos da Universidade, e também recebe os conhecimentos da comunidade através dos saberes tradicionais, o que é fundamental para a ação da Universidade. O conhecimento que a gente produz na pesquisa muitas vezes demora muito a ser incorporado para o benefício da sociedade. Já a extensão é ação imediata e direta. Nós temos projetos de extensão absolutamente fantásticos, mas precisamos ampliar, e ainda mais, esse projeto de extensão, precisamos valorizar aqueles colegas que fazem extensão. Não só os docentes, mas os técnicos-administrativos em Educação. Eles precisam coordenar inclusive projetos de extensão e também projetos de pesquisa. Nós temos que permitir que o técnico-administrativo em Educação que tem a sua qualificação apresente, lidere projeto de pesquisa e participe dos programas de pós-graduação. Nós precisamos valorizar a extensão porque a extensão que vai fazer com que nós tenhamos essa relação direta com a comunidade, beneficiando comunidade e trazendo também é conhecimentos para nossa sociedade. Eu costumo brincar que a nossa ponte de saber, que liga a linha do Fundão à Linha Vermelha, ela é de mão Única, mas o saber não é só feito nesta Universidade e nas Universidades. O saber também é produzido nas comunidades, e nós precisamos estar junto com elas, aprendendo também esses saberes, incorporando dentro da nossa sociedade. Nós temos uma população muito criativa e certamente que todos ganharão com essa interação. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, candidato. O senhor mencionou agora há pouco o Complexo Hospitalar. A gente vai retomar esse tema agora. Em dezembro de 2021, o Conselho Universitário aprovou a abertura de negociações com a empresa brasileira de serviço hospitalares, a Ebserh. O Complexo Hospitalar da UFRJ conta com nove unidades de saúde, entre eles o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que é o maior do estado do Rio em volume de consultas. Entre os desafios estão a escassez de recursos orçamentários e pessoal. O senhor defende a contratação da Ebserh? Quais as suas propostas para enfrentar a questão? 

Roberto Medronho: Bom, em primeiro lugar, foi como você bem disse, uma determinação do Consuni iniciar a negociação com a Ebserh. Os meus compromissos são, em primeiro lugar, criar uma comissão paritária de alunos, funcionários e docentes para que nós possamos estudar os 10 anos de Ebserh, que muito se fala que foi muito ruim e outros falam que foi muito bom. Eu acho que nem uma coisa nem outra; e como nós somos da área da ciência, nós precisamos entender o que foi a implantação da Ebserh. Nós temos também o compromisso de trazer essa discussão para o corpo social da comunidade. É necessário que todos participem nesse processo e mais ainda assegurar que a nossa autonomia não será negociada em qualquer situação, seja Ebserh ou qualquer outra, outro convênio ou contrato que viemos assinar. Isso eu, como diretor de duas unidades acadêmicas ao longo da minha história, por quatro vezes, não serei eu o reitor que assinará qualquer coisa em qualquer não apenas com a Ebserh que abre a mão da nossa autonomia. Agora, nós precisamos ter propostas concretas. Eu sou lá do HU, eu sou da Faculdade de Medicina e meu laboratório fica dentro do HU; eu vivo aquilo lá diuturnamente. Nós temos problemas muito graves e temos propostas concretas para a solução, que passa, sim, pela contratação de novos funcionários e o maior orçamento dos nossos hospitais. Nós precisamos de ter a saúde muito melhor do que era, porque na minha época era muito boa e hoje nós temos muitos problemas. 

Victor França: A gente agora parte de Complexo Hospitalar. Vamos falar agora de equipamento cultural. A UFRJ homologou, agora em março, o resultado do leilão de novos equipamentos culturais lá no campus da Praia Vermelha. A concessão lá tem prazo de 30 anos, e prevê investimentos de quase 140 milhões de reais, incluindo até a construção de salas de aula, e também um novo restaurante universitário. Qual a sua posição frente a essa iniciativa da Universidade? 

Roberto Medronho: Eu votei favorável no Consuni a isso e vi com tristeza alguns conselheiros se posicionaram contrários, porque nós temos hoje uma situação calamitosa naquele espaço. Nós temos uma casa de espetáculo maravilhosa que nós retomamos com justiça, e depois não reabrimos. Então nós temos uma dívida com a cultura da cidade do Rio de Janeiro e para além disso não é privatização, é concessão, aquele espaço é nosso e nós, a partir daí, construiremos um restaurante para 2 mil refeições por dia. Nós construiremos sala de aula, porque a situação do Palácio Universitário é muito delicada. Então, hoje, ainda mais com o governo Lula, ele poderá dar os investimentos necessários para termos uma casa de espetáculos própria da UFRJ. Sabe o que eu falaria se pudesse? Presidente Lula, esses 140 milhões necessários para isso, por favor, invista no Pnaes da UFRJ, porque nós estamos precisando dar muito apoio à assistência estudantil; esse é um grave problema da nossa Universidade. A pandemia fez com que a evasão e a retenção fossem muito altas. Veja, eu costumo dizer: “Ah, o aluno evadiu”. Não, nós é que não demos as condições adequadas para eles permanecerem. Então não é ele que evadiu, nós é que não permitimos que ele fizesse. Então para isso nós precisamos de verba mais do que verbas para construir uma casa de espetáculo. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, candidato. Voltaremos a falar já de assistência estudantil, mas antes queria perguntar em relação à educação básica: quais suas principais propostas para o Colégio de Aplicação, o CAP, que hoje conta com 820 estudantes nas unidades Cidade Universitária e Lagoa? 

Roberto Medronho: O CAP e a Escola de Educação Infantil são duas joias da Coroa. Passaram pelo CAP personalidades do mais alto nível desse país. Então nós temos como compromisso básico fazer hoje, de imediato, a reforma daquele prédio, de contratação de professores que dê a qualidade necessária que o CAP sempre teve e também as escolas de educação infantil. No meu caso, nós vamos estudar no momento um espaço dentro da Ilha do Fundão, para retomar a Escola de Educação Infantil com condições dignas até que nós possamos ter a obra concluída do chamado paliteiro, aqui perto da Reitoria, para que possamos dar condições dignas a essas unidades. Então, nós precisamos reformar as instituições, nós precisamos retomar as Escolas de Educação Infantil aqui na Ilha do Fundão, mas nós também precisamos contratar pessoal, especialmente de professores, para que eles continuem mantendo a grande excelência. O CAP nesta pandemia foi absolutamente fantástico. Nós pedimos a todas as unidades para fazer um plano de retorno ao ensino. O plano do CAP foi um primor de qualidade, mostrando a qualificação dos colegas que lá trabalham, e nós precisamos valorizar esses colegas.

Victor França: Tá certo, professor, agora vamos falar sobre o Museu Nacional. Hoje o projeto Museu Nacional Vive não tem todo o valor necessário para a reconstrução depois daquele triste domingo que deixou o nosso Museu incendiado em 2018. Ainda é preciso captar mais de 180 milhões de reais de um orçamento total de 450 milhões. A previsão atual é que a obra seja entregue apenas em 2027. A pergunta é, professor: como conseguir mais investimentos num cenário de restrição orçamentária muito agravado nesses últimos seis anos? 

Roberto Medronho: A situação no museu é dramática. Nós temos lá o professor Kellner, todo o corpo social do museu trabalhando incessantemente para a reconstrução daquele espaço maravilhoso. Nós precisamos que o governo federal entenda que o Museu Nacional precisa não apenas que a Universidade aporte verbas, mas ter orçamentação própria; nós precisamos que o Museu Nacional tenha um investimento público muito maior do que tem porque ele é uma instituição. Claro que tá ligada à UFRJ. Mas é uma instituição que vai para além da UFRJ. Nós precisamos fazer como nos países centrais que têm os seus museus, como o Museu Natural de Nova Iorque, diversos outros espaços que pertencem à pesquisa e ao ensino, mas que também seja um ponto até mesmo turístico, não apenas dos turistas que vêm de fora, mas também das escolas e dos nossos brasileiros. Então lutaremos incessantemente para ampliar os recursos do museu e em todos os ministérios possíveis e também em outras fontes. Nós não podemos deixar o museu sem ser novamente aberto para a nossa sociedade.

Porque nós precisamos que a estrutura do Museu Nacional seja recomposta e que aquelas coleções sejam expostas também ao público, além do ensino, da pesquisa que lá se faz.

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor. Retomando agora a questão da permanência estudantil: que ações o senhor considera necessárias nos próximos quatro anos para garantir a permanência e o sentimento de pertencimento dos estudantes da UFRJ? Aqui eu tô me referindo inclusive àqueles oriundos do sistema de cotas, né, das ações afirmativas, os que utilizam os restaurantes universitários, a residência estudantil… Como é possível fazer isso? 

Roberto Medronho: Bom, em primeiro lugar, aumentar a verba do Pnaes, porque do jeito que tá realmente não há condições de continuar. Esse é o primeiro lugar, mas não apenas ampliar essa verba, mas também não apenas é bolsa. Nós precisamos que esses alunos tenham a noção de pertencimento, e para isso a acolhida é fundamental; a nossa Universidade, ela precisa acolher melhor todos os alunos, mas em especial aqueles que provêm de cotas. Eu, quando cheguei aqui, morador do subúrbio, entrei naqueles corredores do CCS… eu tive aquele espanto, né? Aquele estranhamento. Graças à acolhida que eu tive dos nossos colegas técnicos-administrativos e docentes, eu consegui me adaptar. Então nós precisamos ter esse espaço. O corpo de professores orientadores que foi uma resolução do SEG precisa ser ativado em todas as unidades. Nós precisamos que esses alunos sejam acompanhados em toda a sua trajetória, nós precisamos ter restaurantes universitários nesse espaço; por isso o restaurante universitário na Praia Vermelha é fundamental e urgente para servir 2 mil refeições por dia. Nós precisamos que o alojamento universitário que está com a obra parada… retomar essa obra parada. Nós precisamos de ter é os restaurantes universitários em Macaé e em outros campi, mas, mais do que isso, nós precisamos ter uma atenção especial para esses alunos, porque eles precisam, ao entrar na Universidade, sair para contribuir para a melhoria da sociedade. 

Victor França: Obrigado, professor. A gente agora fala dos servidores técnicos e também professores. A UFRJ conta hoje com 14 mil, entre técnicos e professores, e durante a pandemia a maioria ficou naturalmente em trabalho remoto. No ano passado houve retorno às atividades presenciais, mas também cresceu a discussão sobre modelos flexíveis mais híbridos, até com jornada de 30 horas, e também semana de quatro dias. Qual a sua posição sobre esse tema?

Roberto Medronho: Totalmente favorável. Eu acho que a pandemia mostrou que, para nós mantermos as nossas atividades, não necessariamente precisamos estar todos aqui; nós podemos inclusive aumentar a produtividade com trabalhos como esse. Porque, por exemplo, uma pessoa que demora duas horas para vir para o Fundão e duas horas para voltar… é um tempo em que já chega aqui desgastado e volta para sua casa totalmente cansada, né? Então nós temos que ter essa flexibilidade, porque nós precisamos fazer o melhor para a nossa sociedade. Então sou totalmente (favorável). Isso não é discussão no Brasil, não; no mundo inteiro, jornada de quatro dias, redução da jornada de trabalho, e isso tem mostrado em alguns lugares que aumenta a produtividade. E outra coisa também: estar no trabalho não significa que está ali trabalhando toda hora, o dia inteiro. Grandes indústrias estão dando tempo do horário de trabalho para as pessoas fazerem meditação, fazerem movimentos, fazerem atividades lúdicas, e isso tem mostrado impacto positivo.

Com a pandemia nós tivemos um grande problema, que é da saúde mental dos nossos servidores e também dos nossos alunos. Estamos muito atentos a isso e nós precisamos que todos nós tenhamos a melhor qualidade possível no nosso trabalho para que possamos produzir mais e melhor para nossa sociedade. 

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor. Gostaria de falar agora sobre gênero: a UFRJ teve a primeira reitora em 100 anos, mas as mulheres ainda são minoria em cargos de gestão dentro da Universidade e de todas as Universidades no país. O que a sua chapa pretende fazer para segurar a maior equidade de gênero na UFRJ? 

Roberto Medronho: Bom, em primeiro lugar nós apoiamos integralmente a criação da Ouvidoria da Mulher. Nós precisamos estar atentos a todas essas questões relacionadas ao gênero. Em relação à mulher, nós precisamos balancear nos cargos de direção e levar em conta as questões relacionadas ao gênero. É fundamental que a Universidade promova ações que melhorem as grandes desigualdades que nós temos, que não é apenas sócio-econômica, né? Os processos discriminatórios são muito fortes ainda na nossa sociedade e isso traz reflexo para nós. Combateremos toda forma de discriminação, toda forma de assédio que ainda infelizmente existe em alguns setores aqui nessa Universidade. Nós somos contra toda forma de assédio. As chefias, as pessoas têm que respeitar os seus comandados; nós precisamos tratar todos de forma igual, porque senão sós não seremos justos. E, aliás, eu prefiro muito mais a equidade em que os que mais precisam tenham maior atenção para que nós possamos efetivamente igualar as nossas condições. 

Victor França: Obrigado, professor. A gente agora fala sobre a Lei de Cotas. Ela completou a sua primeira década em 2022 e possibilitou que a nossa Universidade tivesse uma cara mais compatível com a realidade étnica do nosso Brasil tão diverso. E eu queria te perguntar: como potencializar isso para a UFRJ, para todos os segmentos, estudantes, técnicos-administrativos e professores? 

Roberto Medronho: Tem várias formas, né? Nós precisamos potencializar as cotas nos cargos de gestão, inclusive nós somos favoráveis ao decreto que o presidente Lula emitiu em 21 de março de 2023 que propõe até 31 de março de 2025 que tenham as cotas para os cargos de gestão para negros e indígenas, né? Claro que tem alguns cargos de direção que são eleitos. O diretor de unidades, por exemplo; são eleições, mas os cargos que são de livre nomeação desta Reitoria nós teremos. Estamos dando a orientação a toda a equipe que leve em conta isso porque isso é fundamental, mas não apenas isso: nós precisamos ter cotas bem claras nos concursos docentes, e isso precisamos equacionar porque o concurso docente é muito pulverizado e às vezes é uma vaga, para uma determinada disciplina… Nós estamos pensando em tentar pegar o pool de vagas e desse pool de vagas tirar uma cota e depois alocar essas cotas nas unidades. Nós precisamos também ampliar as ações afirmativas para o Pibic, porque nós temos bolsas para as cotas, mas ela ainda é muito pequena. Nós ampliaremos isso porque é fundamental que o aluno aqui, os cotistas também se insiram na pesquisa, porque eles têm essa visão social, eles têm essa vivência e poderão contribuir muito melhor para as transformações sociais.

 Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor. Uma questão em relação à eleição de modo geral, caso seja escolhida pela comunidade na consulta a toda a Universidade: poderia elencar três prioridades da sua gestão?

Roberto Medronho: Com certeza, a primeira delas assistência estudantil, combate incessante a evasão e retenção, porque, inclusive, ela é maior nos setores mais vulneráveis. Segundo é a infraestrutura: precisamos dar dignidade aos nossos servidores, técnicos-administrativos e docentes, e aos nossos alunos para melhorar as condições de trabalho. E terceiro: nós precisamos ter uma reforma da nossa graduação porque não cabe mais hoje fazermos o que fazíamos desde o século passado. Nós temos hoje tecnologias, nós temos hoje muito aprendizado, né? E tem que ter o aluno como centro, o sujeito fundamental, do seu processo de aprendizado. Nós precisamos que a integração com a pós-graduação seja de fato em várias universidades… A interação que se tem na pós e na graduação conjuntamente gerando conhecimento e o aluno ali aprendendo cada vez mais. Aqui nessa Universidade, como disse o meu querido professor Carlos Chagas Filho, se ensina porque você pesquisa. Nós não somos um escolão, nós somos um local do ensino, da pesquisa e da extensão. A indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão e a garantia da autonomia universitária serão as marcas da nossa gestão ao longo desses quatro anos, caso eu tenha a oportunidade de ser eleito o reitor da UFRJ. 

Victor França: Tá certo, professor. Nós recebemos dezenas de perguntas que a comunidade gostaria de fazer aos candidatos e nós selecionamos a pergunta de Virgínia Dias, que é a seguinte: qual a sua proposta para a melhoria da segurança na Cidade Universitária e arredores ou acessos? Um minuto e meio.

Roberto Medronho: Muito obrigado, Virgínia, pela pergunta. Essa é uma questão muito grave, a cidade do Rio de Janeiro é muito insegura e obviamente essa insegurança perpassa todos os campi da UFRJ. Nós precisamos ampliar a nossa Diseg, fortalecer a nossa Diseg. Nós precisamos ter mais vigilantes, nós precisamos articular com a Secretaria Estadual de Saúde para que nós tenhamos uma maior circulação da Segurança Pública através do programa Fundão Presente. Nós precisamos e estamos tentando ver se articulamos com outros agentes, como, por exemplo, a própria Guarda Municipal para nos ajudar. Nós precisamos ter portarias, mais agentes de portaria em todas as entradas, ter melhor controle no acesso e na saída; nós precisamos ter os campi da UFRJ mais seguros. Porque é muito difícil, por exemplo, sair à noite de alguns espaços, inclusive daqui do campus do Fundão onde nós estamos. Então nós precisamos trazer mais gente para o campus do Fundão. Temos um projeto de fazer um remodelamento da orla daqui do campus do Fundão e de outros lugares. Abrir os campi para a população participar desses espaços. E aí nós teremos… quanto mais a gente tiver nos nossos campi, da sociedade, melhor a nossa segurança também.

Marcelo Kischinhevsky: Obrigado, professor. Estamos chegando ao fim da entrevista, o candidato agora tem um minuto e meio para as suas considerações finais.

Roberto Medronho: Bom, eu peço a todos os colegas que votem na chapa 10 nos dias 25, 26 e 27. Eu e a professora Cássia, ao longo de nossa trajetória, sempre nos dedicamos ao ensino, à pesquisa, à extensão. Eu mesmo fui coordenador de um programa de extensão que atendeu aqui na Vila Residencial por mais de 10 anos, e nós também, talhados na nossa administração, nós conhecemos essa Universidade porque fomos gestores durante muito tempo da nossa vida acadêmica e hoje uma Universidade deste tamanho e desta complexidade precisa de pessoas que tenham larga experiência na gestão. Porque precisamos fazer mais e melhor para podermos devolver para a sociedade aquilo que ela investir em nós. A Universidade Federal do Rio de Janeiro tem hoje uma oportunidade muito grande com um governo que preza pela ciência, que se reuniu com mais de 100 reitores logo no início da sua gestão. Ela não pode perder essa oportunidade dessa articulação para esses investimentos virem e nós podermos produzir muito mais e melhor na área do ensino, da pesquisa e da extensão. A nossa Universidade Federal do Rio de Janeiro, que teve tanto sofrimento ao longo desses últimos seis anos, que começou com o golpe, mas se aprofundou na eleição do governo anterior… Nós precisamos articular com Brasília e trazer de Brasília os recursos necessários. Eu, antes mesmo de ser eleito, já estou nessa articulação e digo mais: mesmo que não seja eleito, continuarei nessa articulação com Brasília, porque nós precisamos de uma UFRJ mais forte e muito mais unida. Muito obrigado. 

Victor França: Obrigado, professor Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina. Muito obrigado por ter participado da nossa entrevista.

Marcelo Kischinhevsky: A cobertura completa do processo eleitoral você acompanha no site conexão.ufrj.br e também na Rádio UFRJ no site Rádio.ufrj.br. Agradecemos a audiência e esperamos que a comunidade acadêmica tenha subsídios para fazer a melhor escolha para o futuro da Universidade. Não deixe que outras pessoas escolham por você; participe e vote nos dias 25 a 27 de abril. Muito obrigado!