Encontrar mulheres que atuem na área de Stem (do inglês “science, technology, engineering and mathematics” − ciência, tecnologia, engenharia e matemática) tem sido cada vez mais comum em instituições e universidades. Isso se dá em virtude de iniciativas que buscam potencializar essa presença em espaços de ensino, pesquisa e extensão. Ainda assim, dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostram que as mulheres representam apenas 35% das pessoas que buscam o ensino superior nessas áreas e menos de 30% dos pesquisadores científicos.
A fim de reconhecer o trabalho feminino em Stem, a 3M selecionou 25 mulheres cientistas na América Latina que estão mudando o mundo com a ciência. Entre representantes da Colômbia, Chile, Costa Rica e México, há ainda oito pesquisadoras brasileiras das áreas de saúde, química e geografia. Renata Libonati, docente do Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi uma delas, contemplada pela pesquisa sobre prevenção de incêndios e queimadas florestais por meio de satélite.
O estudo que fez com que a pesquisadora fosse selecionada vem sendo desenvolvido desde 2018 pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), do qual Renata é coordenadora. A pesquisa em desenvolvimento realiza o monitoramento de áreas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal a partir de um sistema chamado Alarmes. A plataforma, desenvolvida pelo laboratório em parceria com o Instituto Dom Luiz (IDL/ULisboa), funciona como alerta rápido e ágil sobre o avanço das queimadas nas regiões.
Combinando imagens de satélite, focos de calor e inteligência artificial para identificar diariamente a localização e extensão das áreas queimadas, o projeto tem sido uma forma de apoiar órgãos públicos (Ministério Público, Bombeiros, Defesa Civil) nas ações de combate aos incêndios florestais, apesar de se sustentar de maneira independente. Em 2020, por exemplo, o sistema foi crucial para a tomada de decisões em relação às queimadas que atingiram a região do Pantanal, no centro-oeste do país.
Para Renata, o prêmio é importante porque dá destaque ao projeto, podendo colaborar para que ele chegue a possíveis financiadores e colabores em longo prazo. Além disso, é um fortalecimento feminino, por mostrar as diversas facetas das produções de mulheres na ciência. “Fiquei muito feliz porque não só é um reconhecimento pelo trabalho que venho desenvolvendo, mas também porque acredito que esse tipo de prêmio estimula meninas que tenham interesse de estudar nessa área, mostrando que mulheres também podem trazer inovação para essa área de ciência”, defende a pesquisadora.
Trajetória
O primeiro contato da jovem Renata com a meteorologia foi no curso técnico no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). Ao conhecer mais a fundo as possibilidades profissionais e de pesquisa da área, decidiu seguir nos estudos. Graduou-se em Ciências Geofísicas − Meteorologia pela Universidade de Lisboa, partindo em seguida para o doutorado na instituição − já que possuía média alta, não precisou passar pelo mestrado. Nessa fase, estava pesquisando e desenvolvendo um índice para avaliação de fogo no Brasil.
A partir disso, no pós-doutorado realizado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pôde aplicar os resultados da tese, trazendo um novo produto de mapeamento de mata queimada no país. Após ingressar como professora na UFRJ, em 2015, iniciou seus trabalhos na coordenação do Lasa, onde desenvolve produtos derivados de satélites a fim de melhorar as estimativas de prevenção. Nesse percurso, foi agraciada com o projeto pelo Instituto Serrapilheira e agora é uma das 25 mulheres selecionadas pela 3M em virtude da sua atuação na ciência.
“Esse tipo de prêmio também mostra, de certa forma, que a pesquisa realizada dentro da universidade pública brasileira não está desconectada dos problemas da sociedade, pelo contrário. A universidade está voltada para soluções dos problemas atuais que nós temos. Por isso é importante o financiamento”, conclui Renata.