A dissertação de mestrado “Patrimônio Cultural Quilombola: a Margem no Centro de Narrativas, Imaginários e Representações no Camorim, Rio de Janeiro – RJ”, do pesquisador Filipe Silva de Pontes, egresso do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV/UFRJ) e vinculado ao Núcleo de Antropologia, Patrimônio e Arte (Napa), venceu a 3ª edição do Prêmio IPP Maurício de Almeida Abreu, organizado pelo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP). A dissertação contou com orientação da professora Carla da Costa Dias e financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Pontes enfatiza:
“Entendo que quilombos são lugares de produção de conhecimento, e, se minha pesquisa pode fazer alguma colaboração à sociedade, espero que seja no sentido de ajudar a difundir essa ideia”.
O concurso premia as duas melhores teses de doutorado e as duas melhores dissertações de mestrado que estimulem a reflexão sobre o processo de desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro e as suas interações com a Região Metropolitana e que fomentem o debate sobre políticas públicas. A premiação, nomeada em homenagem ao geógrafo Maurício de Almeida Abreu, que foi professor da UFRJ, contempla, pela primeira vez, uma pesquisa de pós-graduação em Artes Visuais.
Em seu estudo, Pontes destaca a importância das comunidades tradicionais na compreensão do Brasil. “Elas têm uma trajetória histórica com modos de vida e resistência próprios que precisam ser mais divulgados e valorizados”, afirma. “Como cidadão carioca, tive interesse em pesquisar um quilombo localizado no perímetro urbano do Rio de Janeiro porque considero que os cariocas pouco conhecem ou nem mesmo sabem da existência dessas comunidades tradicionais. Quilombos ainda enfrentam um processo de invisibilização social e, quando raramente aparecem na mídia, costumam ser representados de forma bastante alegórica e superficial.”
Antes mesmo de ser aprovado no mestrado, o pesquisador já havia iniciado o trabalho de campo. Durante a pesquisa para o pré-projeto, percebeu uma organização em torno das manifestações culturais no Quilombo do Camorim, comunidade na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que lhe chamou a atenção. “Na dissertação, relato, por exemplo, a formação do Grupo de Jongo do Quilombo do Camorim e as escavações no sítio arqueológico do território quilombola, das quais participei”, pontua. “Assim como eu, muitas pessoas no Quilombo do Camorim se interessam pela produção e propagação de imagens em diferentes suportes. Isso também contou muito para a qualidade da interlocução que estabeleci com a comunidade.”
Em seu trabalho etnográfico, Pontes trata do histórico de ocupação humana na baixada de Jacarepaguá e no Maciço da Pedra Branca ao longo dos séculos, enfatizando as formas de expressão culturais e saberes quilombolas. Durante o trabalho de campo no Quilombo do Camorim, ele utilizou métodos de investigação-ação participativos e facilitou oficinas de produção de imagens sobre memória coletiva e engajamento comunitário. Pontes buscou entender como os integrantes dessa comunidade estão se mobilizando politicamente para serem os autores das suas próprias narrativas e representações sociais; e como políticas públicas no âmbito patrimonial podem atender às demandas comunitárias. “Do ponto de vista metodológico, a combinação de elementos da Cartografia Social com Fotografia Participativa em oficina de memória e criação de imagens possibilitou o acesso a dados privilegiados em comparação a metodologias que se valem apenas de observação participante e de entrevistas. A oficina acabou dinamizando o potencial criativo e de engajamento comunitário, servindo de ponto de partida para esquematizarem projetos futuros”, conta.
O pesquisador ressalta que, no bairro do Camorim, parte da população quilombola sofre com a falta de saneamento básico e com o processo de gentrificação em razão da especulação imobiliária, que também prejudica a comunidade. “Por isso, fazem-se necessários o desenvolvimento e a implementação eficaz de políticas públicas que melhorem a qualidade de vida das populações quilombolas, valorizando seus saberes, sua cultura e seu protagonismo na proteção do meio ambiente, de forma a salvaguardar os modos de vida das comunidades tradicionais”, diz.