Grandes janelas dão vista para árvores e um espaço verde no bloco B do Centro de Tecnologia da UFRJ. Na parte interna, estudantes se espalham pelas mesas e sofás de um amplo salão com dois mezaninos. Essa é a Biblioteca do CT, espaço que guarda um rico acervo especializado nas áreas de Engenharia e Tecnologia.
Construída na década de 1960 e originalmente vinculada à Coppe [atual Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia], a biblioteca era responsável por um pequeno acervo que atendia aos estudantes da unidade. O aumento das consultas, empréstimos e o crescimento do acervo motivaram a dinamização e modernização do serviço.
Em 1971 o então mestrando Jayme Szwarcfiter (hoje, professor emérito) realizou pesquisa sobre a automatização de bibliotecas e inspirou a evolução dos sistemas da UFRJ. A Coppe, a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec) e o então Núcleo de Computação Eletrônica (NCE – atual Instituto Tércio Pacitti) decidiram se inspirar nos estudos do aluno e transformaram o espaço na primeira biblioteca da UFRJ a ter seus serviços automatizados pelo Sistema de Automação.
Dois anos depois, a Universidade passou por modificações e os acervos foram, enfim, unificados a partir do que hoje conhecemos como Biblioteca Central do CT. Em 1998 o espaço passou por uma ampla reforma que adicionou um mezanino de 300m² para estudos em grupo, um sistema eletrônico antifurto, um sistema de ar refrigerado, um ambiente virtual interligado a outras bibliotecas, além de uma área reservada para armazenamento da coleção de livros menos consultados e outra para periódicos não correntes.
De acordo com Moreno Barros, coordenador da Biblioteca do CT, a equipe conta hoje com 15 servidores, entre eles bibliotecários, arquivista e assistentes em administração – uma diminuição significativa oriunda, por um lado, dos avanços tecnológicos e, por outro, do sucateamento do serviço público.
“A biblioteca já teve quase 40 pessoas trabalhando, mas a equipe vem sendo reduzida por conta das políticas de ingresso na Universidade e também porque o trabalho passou a ser automatizado. A tendência é que,as bibliotecas, no geral, diminuam com o tempo”, ressalta.
Acervo tem periódicos raros e memória do setor
A biblioteca é um importante espaço de memória para a pesquisa de Engenharia e Tecnologia no Brasil. Entre as joias do acervo está uma coleção de periódicos científicos do século XX que é extremamente difícil de encontrar, uma parte importante da história da área no país e no mundo.
“Embora as obras raras tenham sido destacadas para uma segunda biblioteca, que fica no Bloco A, mantivemos essa parte do acervo que não é encontrado em outras instituições. Somente nós temos esses periódicos e atendemos pedidos não só do Brasil, como de toda a América Latina”, informa Barros.
O local busca uma atualização constante das demandas emergentes dos cursos de graduação e pós-graduação da área, englobando todas as Engenharias e suas subdivisões: como a civil, mecânica e biomédica. Assim as estantes são preenchidas por livros, obras de referência, publicações de normas, materiais e coleções especiais que podem ser consultados pela Base Minerva, sistema central da UFRJ.
O bibliotecário explica que o público presencial hoje é formado principalmente por estudantes da graduação, sobretudo do ciclo básico da Escola Politécnica, já que os estudantes da pós-graduação utilizam a biblioteca majoritariamente por recursos eletrônicos, como o acesso às bases de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Para auxiliar nessa mudança de perfil e nos serviços durante a pandemia, a equipe criou páginas nas redes sociais em que realizam treinamentos e divulgam manuais, mantendo contato contínuo com os programas e unidades do Centro de Tecnologia e fazendo o intermédio entre a produção científica e o pesquisador.
Que biblioteca queremos no futuro?
As bibliotecas, assim como toda a Universidade, passam por um momento delicado de falta de recursos, que impacta diretamente a atualização dos acervos e a contratação de pessoal. Além disso, embora esses espaços sejam valorizados no discurso, acabam sendo, muitas vezes, invisibilizados.
“Funcionamos como uma espécie de terceirizados desses grandes conglomerados de editores científicos com fins lucrativos para atender às demandas das agências de fomento. Os alunos não utilizam os recursos da biblioteca em sua plenitude porque, muitas vezes, são direcionados para estudar apenas para uma prova ou para uma bibliografia recomendada pelo orientador”, defende Barros.
O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) permitiu uma mudança radical no perfil dos alunos, com uma comunidade acadêmica muito mais diversa. Para atender a esse novo público, a biblioteca vem buscando maneiras de democratizar o espaço e o conteúdo, a exemplo da recente reforma nos banheiros, agora acessíveis. A equipe faz parte da comissão de acessibilidade liderada pelo Sistema de Bibliotecas e Informação (Sibi) e da comissão interna do CT, por meio das quais recebem as demandas dos alunos com deficiência.
Segundo Barros, a biblioteca hoje cumpre muito mais o papel de um espaço físico utilizado pelos alunos para estudos do que um implemento à intelectualidade ou espaço para consulta em materiais físicos. E, para ele, esta é a tônica para o futuro:
“As bibliotecas vão se tornar menores em tamanho, os acervos vão estar todos on-line, e o bibliotecário idealmente vai funcionar somente como um conselheiro institucional, papel que não se confunde com o orientador. Ele vai ser esse intermediário entre o que a universidade pode oferecer e o aluno tem direito a utilizar, em termos de qualidade de pesquisa”, conclui.
Como chegar
A Biblioteca do Centro de Tecnologia fica no Bloco B do prédio, na Avenida Athos da Silveira Ramos, 149, na Cidade Universitária. Os interessados podem chegar no local por meio dos ônibus internos da UFRJ e, também, pelas linhas municipais e intermunicipais que circulam no campus. Há estacionamento pago no local.
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