Quando pensamos no fazer científico, em uma pesquisa ou em um cientista, o que nos vem à cabeça? Um homem, geralmente branco, dentro de um laboratório, fazendo experimentos e vestindo jaleco. Apesar de essa ser a imagem mais comum, ciência é muito mais do que isso. Existem diversas definições para a palavra “ciência” e, segundo o dicionário Michaelis, uma delas é esta: “ramo específico do conhecimento, caracterizado por seu princípio empírico e lógico, com base em provas concretas, que legitima sua validade”. Já a pesquisa é um dos pilares da educação superior − ensino, pesquisa e extensão são o tripé que a sustenta.
Ciência e pesquisa, na verdade, estão em todas as áreas de conhecimento. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) classifica os saberes em oito áreas: Ciências Exatas e da Terra; Ciências Biológicas; Engenharias; Ciências da Saúde; Ciências Agrárias; Ciências Sociais; Ciências Humanas; Linguística, Letras e Artes. Cada uma delas produz conhecimento, novas formas de pensar e buscam soluções científicas para diferentes questões da sociedade. As investigações científicas podem ter início no ensino básico, na graduação ou em cursos de pós-graduação − mestrado e doutorado.
Ciência como prática ainda na graduação
João Gabriel Haddad de Lima, de 22 anos, é aluno do 6º período do curso de Comunicação Social − Publicidade e Propaganda na UFRJ. Seu curso está na categoria Ciências Sociais do CNPq. Ele recebe uma bolsa de pesquisador nível B por fazer parte do laboratório de pesquisas NetLab, também da Universidade. A pesquisa se debruça sobre as novas tecnologias e ferramentas comunicacionais — como redes sociais — para entender como elas podem modificar a vida em sociedade. “O laboratório possui um grupo bem unido e diverso, já que as linhas de pesquisa exigem uma análise multidisciplinar, entendendo metodologicamente os processos a partir de teorias da comunicação e algoritmos computacionais”, explica João Gabriel. O NetLab também contribui para oferecer soluções de problemas que surgiram com essas novas tecnologias.
O aluno e pesquisador se diz honrado pela oportunidade de integrar o grupo: “Eu sou muito honrado por fazer parte de uma equipe que busca entender fenômenos e propor alternativas para a construção de um mundo melhor. Estando na graduação é melhor ainda, já que muita coisa que a gente observa na teoria em sala de aula é aplicada empiricamente na pesquisa. Nessa dinâmica, tudo o que analisamos passa a fazer sentido. Até a minha rotina ganhou propósito”. Ele pretende seguir a carreira de pesquisador e diz que sua vida acadêmica está apenas começando.
Giselle Natalina Sousa da Silva, de 31 anos, aluna do 7° período da Escola de Enfermagem Anna Nery/EEAN − UFRJ, participa do projeto de pesquisa “Medicalização e atenção primária à saúde: investigando desafios à construção do cuidado ampliado em saúde”. Seu curso está classificado na área de Ciências da Saúde. O projeto visa à investigação das interfaces entre discussões sobre o processo de medicalização no âmbito da saúde pública em um espaço específico de cuidado: a atenção primária. Medicalização é o ato de tratar como doença e oferecer medicamentos a quadros em que não existe essa necessidade.
“É muito importante haver pesquisas sobre a medicalização. Ela é o processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos”, diz Giselle. Para a pesquisadora,
“a ciência é a principal maneira de indagarmos, refletirmos e investigarmos o passado, objetivando a evolução no presente e futuro. A importância da ciência para a sociedade gira em torno da troca de saberes e conhecimentos nas variadas maneiras de evolução”.
Descobertas, experiências e muita pesquisa na pós-graduação
Atualmente cursando o mestrado, Rayssa Guimarães Silva, de 25 anos, é integrante do Programa de Pós-graduação em Astronomia da UFRJ (ProAstro), classificado pelo CNPq na área de Ciências Exatas e da Terra. Ela está pesquisando sobre buracos negros em um conjunto especial de galáxias. “Hoje em dia, nós sabemos que a maior parte das galáxias tem um buraco negro no centro ― inclusive conseguiram fazer uma imagem do buraco negro da nossa galáxia recentemente! ―, mas nós não entendemos como ou quando esses buracos se formaram, como eles adquirem as massas astronômicas que têm e nem exatamente como eles afetam as galáxias onde estão”. A pesquisadora explica que a Astronomia nos permite enxergar o passado de uma certa forma: “Como a velocidade da luz é finita, tudo que emite luz leva um tempo para ser detectado por nós. O próprio sol nós vemos com oito minutos e 20 segundos de atraso. Ou seja, a luz que a gente recebe foi emitida oito minutos e 20 segundos no passado. Por isso, de forma geral, quanto mais distante o objeto, mais antiga é a imagem que estamos vendo. Deveria ser fácil, então, observar esses buracos negros em galáxias cada vez mais distantes (e antigas) e tentar encontrar as explicações que nós desejamos”. E completa: “Mas, infelizmente, é muito difícil fazer isso de um ponto de vista instrumental e logístico, e aqui entram alguns dos vários ‘truques’ que os astrônomos empregam. No meu caso, estudo um conjunto de galáxias próximas que são parecidas com galáxias distantes e tento inferir informações sobre os buracos negros distantes dessa forma”.
Rayssa começou a se interessar pela ciência ainda no Ensino Básico e vê a área como produto da curiosidade. Para ela, “é sobre querer e efetivamente tentar entender melhor o mundo, o universo e as pessoas. E até mais do que isso: entender as demandas e às vezes tropeçar nas soluções que vão nos ajudar a melhorar as nossas vidas ou, pelo menos, a avançar o nosso conhecimento”. A pesquisadora salienta, ainda, que a importância da ciência para a sociedade pode ser entendida de maneira muito pragmática: graças a ela é possível garantir o aumento da expectativa e qualidade de vida, produzir comida e remédios e também entender a origem de fenômenos que vão levar à criação de diversos tipos de tecnologia ― algo essencial no mundo moderno.
Já Paulo César Holanda, de 30 anos, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ(PPGAV/EBA), tem sua pesquisa centrada nos questionamentos acerca da produção têxtil e de moda realizada por indígenas no Brasil. O trabalho visa compreender as relações existentes entre a inserção e produção de moda contemporânea por esses povos, já que ela é passível de valores políticos, sociais, éticos, morais, culturais, econômicos e até mesmo religiosos.
Ele destaca que as pesquisas realizadas no campo das ciências humanas também possuem grande valor no sentido artístico, social, filosófico, entre outros. Seu interesse em ser pesquisador começou ainda na graduação, na licenciatura em Artes Visuais na Universidade Federal do Amazonas, ao perceber que, mesmo estando na Amazônia, eram poucos os estudos e pesquisas acerca das artes produzidas por povos indígenas da região. Segundo ele, desde então, segue realizando pesquisas sempre em parceria e respeitando os povos originários.
É importante abrir nossas mentes e olhares e entender que a ciência e a pesquisa estão em todas as áreas, inclusive nos espaços não acadêmicos, como nos ensinamentos dos povos tradicionais ou na oralidade que marca a história do povo negro, que também são formas de produzir e disseminar conhecimento. A ciência está na academia, mas também na tradição. Pode ser desenvolvida desde o ensino básico até a pós-graduação. Está nos laboratórios, e também no nosso dia a dia.