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O que é o amor para as populações LGBTQIA+?

Como essas populações vivenciam esse sentimento, a começar pelo amor-próprio?

“Amor é se conhecer, conhecer o outro, amor é acolhimento”, respondeu Caroline Santos,  mulher cisgênero demissexual, quando lhe perguntamos o que é o amor. Depois de trazermos essa pergunta na reportagem homônima publicada no começo do mês de junho, voltamos a refletir sobre ela, mas agora a partir de um olhar voltado para uma população específica.

Em 28 de junho é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIA+, sigla que traz consigo a força de um movimento político e social que há décadas defende a diversidade de corpos, gêneros e sexualidades de pessoas que são marginalizadas apenas por serem quem são. Ao não se encaixarem no padrão cis-heteronormativo, entram no grupo lésbicas, gays, bissexuais, trans, assexuais e outras variações.

Entre diversas denominações, a assexualidade é uma condição não muito abordada ou até mesmo incompreendida, inclusive para pessoas da comunidade. Os que estão nesse espectro não sentem atração sexual por outros indivíduos, podendo essa ser uma realidade total, condicional ou parcial. A partir das diferenças e semelhanças na forma de manifestar a assexualidade em cada pessoa, foram estabelecidas algumas classificações. A demissexualidade é uma delas.

Uma mulher de casaco branco olhando para baixo, enquanto segura um cordão.
Caroline Santos é uma mulher demissexual. | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Os demissexuais, como Caroline, apenas sentem atração sexual quando estabelecem algum vínculo emocional ou afetivo com alguém. Por possuírem menos interesse em sexo, os assexuais costumam sofrer com estranhamento e preconceito, podendo fazer com que o processo de autodescoberta seja longo e difícil, como foi o caso dela. Também chamada de Nyka, com 18 anos se forçava a estar com outras pessoas por ver os amigos fazendo isso e se sentir obrigada a fazer também. Depois, o sentimento que restava era ruim. “Eu me sentia suja, me autoflagelava fisicamente ou psicologicamente, era uma tortura”, conta. 

Após anos de não aceitação, a jovem de 25 anos percebeu que, ao se entender e se aceitar, seu amor-próprio e a relação com os outros também mudaram, já que não precisaria agir de um jeito que não condiz com quem ela é. Vivendo um relacionamento com um rapaz pansexual há três anos, Nyka celebra o fato de estar com alguém que a respeita e a ama de verdade. “Hoje me sinto feliz porque, depois de se entender, você pode ser quem é. Não precisa fingir”,  explica.

O autoamor como chave

O “aceitar-se” é uma das principais questões que atingem pessoas da comunidade LGBTQIA+. No entanto, se ver como “diferente” quase nunca é um processo simples. Rafa Bichels, estudante de Psicologia de 25 anos, começou a se identificar como não binária em 2019, após entender que a vida que construíra a obrigava a  performar um personagem, como se fosse um uniforme que precisasse vestir nas relações amorosas, profissionais, familiares e até nos posicionamentos acadêmico e político. Após se deparar com a pergunta “Quem é você sem esse uniforme?”, Rafa teve que encarar o espelho e buscar em si uma resposta muito mais complexa do que poderíamos explicar.

Rafa está sentade sorrindo para foto.
Rafa é uma pessoa não-binária. | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Pessoas não binárias são aquelas que não se identificam exclusivamente nem com o gênero feminino nem com o masculino. São indivíduos que não se reconhecem apenas como homens ou como mulheres. Fazendo parte do universo que abrange pessoas trans, a identidade de gênero não binária pode incluir ainda outras identidades, como gênero fluido (que “flui” entre dois ou mais gêneros) ou agênero (sem gênero). Todos, no entanto, se assemelham pelo fato de não se identificarem com o gênero (masculino ou feminino) que atribuído ao nascer. 

Sem romantizar o processo, Rafa explica a dificuldade que viveu ao entender que precisaria  recomeçar. “Muito do discurso de pessoas trans é que, quando descobrem seu gênero, é uma espécie de alívio, não que seja fácil de ser conquistado, mas uma espécie de direcionamento para a vida. Para mim veio com um enorme peso, como se eu tivesse que destruir minha vida e construí-la aos poucos novamente.”

O isolamento causado pela pandemia foi um aliado, de alguma maneira, pois lhe deu tempo para se entender e explorar esse autoamor necessário para que pudesse aceitar sua realidade a partir de si. “O que significa se amar para uma pessoa não binária? Não sei. Vejo como um grande processo, e aplico isso à minha identidade e ao amor de uma maneira geral. A parte do processo em que estou no momento é um lugar de encontrar paz interior e desenvolver um amor robusto. Aprender a me amar é uma das minhas prioridades”, revela. 

Entre relações com outras pessoas ou consigo, a população LGBTQIA+ enfrenta os desafios de amar apesar de olhares, experiências e preconceitos. Para o casal Yuri Ramos e Mário Jefferson, ambos estudantes de Biomedicina, o amor é uma luta diária para o sentimento se sobrepor aos obstáculos. “Um casal heteronormativo tem mais liberdade de viver tudo isso. A gente tem que batalhar o dobro para dar certo. É sobre a coragem que o amor te dá todos os dias”, conclui Yuri.

Lisandra veste uma blusa preta e se abraça de olhos fechados.
Lisandra Quintiliano, estudante de Enfermagem, é uma mulher bissexual que vive relação com outra mulher. | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

“O amor torna a gente mais pleno e a vida mais leve”

Lisandra

“O amor faz a gente ser a melhor versão de nós mesmes”

Rafa