Uma discussão superada no mercado editorial é sobre a possibilidade de livros digitais ameaçarem os impressos. Hoje, nota-se uma crescente convivência entre os dois suportes, o que fortalece a produção em diversas maneiras. Em 2020, o número de obras eletrônicas vendidas aumentou em 83% no país, segundo pesquisa feita pela Nielsen e divulgada pela Câmara Brasileira do Livro. Da mesma forma, dados do Sindicato Nacional de Editores de Livros mostram que mais de 55 milhões de exemplares foram vendidos em 2021, um crescimento de quase 30% tanto em quantidade quanto em faturamento.
Com mais de 35 anos de existência, a Editora UFRJ tem como objetivo produzir publicações impressas e em mídia eletrônica que tenham valor científico, técnico, cultural, artístico, literário e didático. Vinculada ao Fórum de Ciência e Cultura, a unidade já publicou mais de 600 títulos, impressos e digitais. Em entrevista, conversamos sobre desafios e novos projetos com seu diretor, Marcelo Jacques de Moraes, que está à frente da instância desde 2019 e falou, inclusive, sobre os dois próximos editais a serem lançados.
Apesar de muito se falar sobre o digital substituindo o impresso, de 2020 para 2021 houve um crescimento de 30% nesse mercado, tanto em produção quanto em faturamento. Estando à frente de uma editora universitária hoje, como você enxerga a produção de livros impressos e digitais?
Enquanto editora vinculada a uma universidade pública, temos uma missão importante de comunicação com a sociedade. Na verdade, temos a missão de produzir livros para a própria comunidade universitária, para os pesquisadores e para os alunos, mas também de fazer a divulgação científica para a sociedade. Até 2019, ainda não tínhamos livros digitais, e a gente sabe como essa alternativa amplia a possibilidade de circulação no tempo e no espaço, na rapidez da produção. Então, começamos a investir mais fortemente na produção do livro digital e assumimos a decisão de publicá-lo com acesso aberto e gratuito, distribuindo para venda apenas os livros impressos. Evidentemente que isso tem que ser feito com a autorização dos autores, mas estamos começando a disponibilizá-los no site da editora e no Pantheon, o repositório de produção acadêmica da própria Universidade.
Falando sobre essa ligação com a sociedade, qual a importância de ter uma editora universitária do tamanho da Editora UFRJ?
Acho que a editora ainda não é do tamanho da UFRJ, se a gente comparar com outras editoras universitárias de instituições menores. Temos uma equipe muito qualificada – revisores, produtores editoriais –, mas ao mesmo tempo a gente tem uma demora no processo. Acho que a UFRJ legitima a produção que chega até nós. É extremamente importante que uma universidade como a nossa possa contribuir para a circulação desse conhecimento que é produzido.
O que explica essa demora?
Nós temos pouca autonomia. Seria bom se a gente pudesse ter uma relação mais direta com os processos do livro em si. A burocracia do sistema público é extremamente necessária, mas nos deixa sem a agilidade de que precisamos, muitas vezes já com um livro pronto. O nosso livro passa por um processo de quatro revisões, copidesque, contato com o autor… Um processo de qualidade, mas que torna tudo um pouco mais lento.
A gente teve que fechar a livraria, que funcionava com profissionais terceirizados; há uma burocracia para ter e remunerar estagiários. Tudo isso dificulta a agilidade de tomar iniciativa. Nunca podemos nos equiparar a uma editora comercial, mas, apesar disso, a gente pode selecionar um livro que seja importante para a comunidade científica e para o desenvolvimento da ciência – ou seja, tornar público aquilo que não tem um viés comercial imediato.
Qual o perfil de publicações e como se dá a seleção de materiais?
Os livros são, em geral, produzidos por pesquisadores de todas as áreas do conhecimento e podem ser comprados no site da Editora a partir do pagamento de uma Guia de Recolhimento da União (GRU). Desde 2020, temos aberto editais para duas coleções: Outros Passos, com propostas na área de Humanidades; e Saberes do Presente,Cenários Futuros, voltada para livros das Ciências Exatas e da Natureza. Nesse caso, a ideia é que seja um livro pequeno, de acesso mais amplo, para não especialistas. Esses editais serão abertos ainda esta semana, na sexta-feira, 6/5. Além disso, temos um edital geral aberto para todas as áreas de conhecimento. Todas as informações ficam disponíveis no nosso site.
Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Tassia Menezes.