Mais do que apenas uma ferramenta de bem-estar, o riso é um instrumento do nosso corpo que está ligado à própria existência humana. Na Psicologia, ele é entendido como um dos principais acessos ao próprio inconsciente e tem inspirado as artes em geral ao longo da história. Na literatura, na poesia, no teatro, na pintura, a comédia permite que o público desfrute dos mais encobertos mistérios humanos. Com a celebração do Dia Internacional do Riso, em 18/1, voltamos a enxergar toda a sua potência no processo de cura e recuperação de doenças, por exemplo.
Rir é terapêutico porque é algo que, na maioria das vezes, não acontece quando se está sozinho, sendo necessário um laço social com alguma outra pessoa. Quando alguém está vivendo um mal-estar, passa a investir em si mesmo e na sua dor apenas. O mecanismo do humor traz uma outra perspectiva, ao subverter uma situação que é muito dura e de sofrimento de uma maneira que pode ser engraçada e divertida.
Para as crianças, a experiência não é diferente. Por meio do riso, permite-se tocar em temas nem sempre positivos à primeira vista, como, por exemplo, histórias infantis que comumente têm uma personagem malvada ou perdas de algum ente querido. É nessa hora que o ficcional abre espaço para o inconsciente, havendo liberdade para criar e imaginar. Estes são apontamentos da doutora em Teoria Psicanalítica pela UFRJ Mariana Mollica, que comenta como esse processo é ainda mais importante para crianças que estão em hospitais: “(Ela) não pode correr, brincar e de repente aparece algo que é ficcional… Um palhaço, alguma mágica, algo que não existe existindo e ela pode fazer daquele lugar um lugar de viver as fantasias”, explica ela.
Alunos Contadores de Histórias
Na UFRJ, o projeto de extensão Alunos Contadores de Histórias (ACH) é um dos que pode ajudar no processos de cura de crianças hospitalizadas. Promovido pela Universidade com a colaboração de alunos da graduação e da pós-graduação, o ACH foca na humanização hospitalar por meio da leitura e tem o objetivo de proporcionar um espaço de aprendizado e de transformação para as crianças do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ).
Os livros que compõem o acervo do projeto são minuciosamente escolhidos e proporcionam experiências lúdicas, ajudando a ressignificar o tempo de permanência da criança no hospital. Com contos, fantasias, histórias engraçadas ou emocionantes, o projeto se propõe a oferecer contato com realidades diferentes, ampliando a percepção da realidade social na qual os pacientes estão inseridos. “A proposta é fazer com que eles participem de uma atividade não relacionada à doença que possuem, como meio de constituir algo positivo em um momento difícil. Muitas vezes algumas crianças têm uma história favorita e pedem frequentemente para que os contadores as repitam”, contam as coordenadoras Regina Fonseca e Verônica Pinheiro e a aluna apoiadora Vitória Vieira.
Ainda que as crianças sejam o foco do projeto, as famílias, os alunos contadores e os profissionais da saúde dos hospitais também são impactados. Mollica explica que a pessoa, quando está internada em um hospital, com dor ou mal-estar, acaba por focar apenas no sofrimento, deixando de amar. No entanto, em sua experiência nesses espaços, pôde observar profissionais que brincavam com as crianças, criando um universo lúdico a partir de objetos como luvas de borracha, fazendo os pequenos internos rirem e recriando um lugar de vida diante do ambiente mórbido do hospital. “Foi sobretudo nos hospitais em que trabalhei ou em ambulatórios públicos que atendi, que aprendi que é justamente frente à dor, à ameaça e ao desamparo que o humor cai ainda melhor”.
Alunos de diferentes cursos da graduação e pós-graduação da UFRJ podem se inscrever semestralmente no projeto, que oferece 70 vagas e um treinamento para serem Alunos Contadores. No entanto, no atual contexto de pandemia de Covid-19, as atividades presenciais de extensão no IPPMG estão suspensas e, por isso, no momento não há previsão para abertura de novas turmas. O ACH informa, ainda, que divulgará à comunidade acadêmica quando abrirão novas inscrições, de acordo com as decisões administrativas do IPPMG e da UFRJ. É possível, também, acompanhar o projeto pelo site.
Para os Alunos Contadores, vestidos com jalecos e prontos para provocarem risadas, a mediação da leitura propicia satisfação para o ouvinte e para o leitor. É possível ajudá-los doando livros novos, de literatura infantil e juvenil, exceto educativos e/ou religiosos. Em datas comemorativas, como Dia das Crianças e Natal, é possível contribuir com o projeto e, para isso, é necessário entrar em contato pelo e-mail alunoscontadores@gmail.com.
Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Tassia Menezes.