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É melhor prevenir que remediar

Pesquisadores apontam que investir em prevenção é urgente para evitar novas pandemias

Epidemiologistas, economistas, ecologistas e biólogos de 21 instituições ao redor do planeta apresentaram um estudo, revisado por pares, que compara os custos da prevenção de uma pandemia aos recursos necessários para tentar controlá-la. O estudo evidencia que, antes de tomarem proporções globais, as epidemias são evitáveis. Publicado na nesta sexta-feira (4/2) na revista Science Advances, o trabalho tem como uma das coautoras a professora Mariana Moncassin Vale, do Instituto de Biologia da UFRJ.

De acordo com a pesquisadora brasileira, “em resposta à covid-19, órgãos internacionais de saúde e tomadores de decisão na área de saúde pública têm promovido planos focados exclusivamente na detecção e controle de novas pandemias, ignorando completamente a possibilidade de evitá-las. Nosso estudo mostra, no entanto, que pandemias são evitáveis, e que a prevenção custa uma pequena parte de recursos – quando comparada com as perdas econômicas que ocorrem após disseminação das doenças”.

Liderado por Aaron Bernstein, diretor do Centro de Clima, Saúde e Meio Ambiente Global da Escola de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade de Harvard, o grupo estimou que 20 bilhões de dólares por ano seriam necessários para manter ações primárias de prevenção, que se resumem basicamente a: melhorar a vigilância de patógenos, reduzir o desmatamento e controlar com eficácia o comércio de animais selvagens e caça.  

O valor, que parece elevado, representa menos de 5% do menor custo de mortalidade por doenças infecciosas emergentes estimado a cada ano, menos de 10% dos custos econômicos empregados para controlar as doenças e ainda fornecem outros benefícios, como novos medicamentos. Em outras palavras, os riscos de futuras pandemias zoonóticas podem ser reduzidos pela metade, poupando em torno de 1,6 milhão de vidas por ano e reduzindo os custos de mortalidade em cerca de 10 trilhões de dólares por ano.

Há consenso entre os pesquisadores de que prevenir a humanidade de pandemias antes que elas ocorram é muito mais barato que investir na cura ou em medidas de controle. “Se a covid-19 nos ensinou alguma coisa, é que testes, tratamentos e vacinas podem prevenir mortes, mas não impedem a propagação do vírus e tampouco o surgimento de novos patógenos. Ao olharmos para o futuro, não podemos confiar apenas nas estratégias após o “transbordamento” [passagem de doenças de animais para humanos] para nos proteger”, disse o Dr. Bernstein.

Para Mariana Vale, é urgente a necessidade de adotar medidas preventivas. “Se não pararmos de destruir o meio ambiente, será difícil conter o surgimento de novas doenças e evitar as que já conhecemos”, afirmou. Hoje, há estimativas de que 3,3 milhões de pessoas morram anualmente por doenças zoonóticas virais. O valor estimado para essas mortes é de pelo menos 350 bilhões de dólares, com mais 212 bilhões adicionais em perdas econômicas.

O artigo sugere uma revisão nas “fases de emergência de doenças infecciosas” da Organização Mundial da Saúde para incluir uma etapa específica dedicada ao “transbordamento”. Um novo modelo deve ser seguido – o de “prevenção primária de pandemia” – para definir ações que eliminam novas doenças antes que elas se espalhem, em vez de ações que buscam conter surtos de doenças.

Os pesquisadores também recomendam investir no treinamento de veterinários e biólogos de doenças da vida selvagem e criar um banco de dados global de genômica de vírus. Esse cadastro servirá de referência para a identificação de patógenos emergentes com antecedência suficiente para retardar ou interromper a propagação de doenças, além de possibilitar o desenvolvimento mais rápido de vacinas e de testes de diagnóstico.