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Cultura é só o que se realiza na capital?

Naprocult, projeto de extensão da UFRJ, tem levado consultorias e formação culturais para fora do eixo e da lógica das capitais

Assim como muitos setores, principalmente os que dependem de algum tipo de incentivo governamental, a cultura no Brasil tem passado por uma grande crise. Com a pandemia da covid-19, muitos projetos e atividades culturais tiveram que parar ou se reinventar. Com isso, os pequenos produtores e gestores culturais foram bastante afetados.

Apesar de todas as dificuldades e desafios, eles continuam resistindo. Para isso, contam com parceiros, como o Núcleo de Apoio à Produção Cultural (Naprocult) da UFRJ − um projeto de extensão criado por servidores técnico-administrativos da Universidade para auxiliar agentes culturais na elaboração de projetos, inscrição em editais, prestação de contas e outras atividades necessárias à execução e realização de suas ideias. Com três anos de existência, a iniciativa já prestou consultoria a mais de mil profissionais da cultura.

Disseminando conhecimento para além dos grandes centros

Em um novo momento desde a sua criação, o Núcleo está passando por um movimento de interiorização de suas consultorias. Por meio de parcerias com secretarias de cultura, fóruns e conselhos de cultura, movimentos sociais, coletivos e agentes culturais, tem levado capacitação e apoio para municípios e regiões fora da capital fluminense.

Marize Figueira é produtora cultural, servidora técnico-administrativa da UFRJ e coordenadora do Naprocult. Ela conta que orientações online já aconteciam de forma pontual, mas foi com a pandemia da covid-19, a partir de 2020, que elas se tornaram a rotina de trabalho do projeto. Apesar da preocupação inicial com a adaptação nesse novo modelo, Marize diz que os parceiros se ambientaram rapidamente. “Foi uma surpresa muito feliz quando observamos que o público de agentes culturais se adaptou facilmente, fazendo as consultorias inclusive de celulares, muitas vezes de locais que a gente não alcançava antes. Durante esse período, a gente recebeu fazedores culturais de 17 estados do país, de 36 municípios só do estado do Rio de Janeiro e mais de 100 bairros e territórios da cidade do Rio.”

A caravana virtual do Naprocult já passou por municípios da Baixada Fluminense (que pertence à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, formada por 10 municípios), Maricá e Região Serrana (formada por 16 municípios).

O valor das parcerias

A importância do projeto é defendida por Jorge Ayer, presidente do Fórum Serrano de Cultura. Foi ele quem convidou o Naprocult para realizar um ciclo de oficinas com os artistas e gestores culturais de lá. Segundo Jorge, a parceria com o projeto leva para a Região Serrana uma “formação indispensável para todos aqueles que trabalham com a cultura”.

Para Ayer, a Lei Aldir Blanc − como ficou conhecida a Lei nº 14.017, sancionada em junho de 2020 pela União, destinada a oferecer auxílio emergencial para o setor cultural − provou a necessidade de capacitação de toda a cadeia produtiva de cultura. Muitos produtores enviaram seus projetos para os editais de fomento oferecidos.

A atual situação de crise no setor cultural faz com que os consultores do Núcleo sintam-se mais empenhados em ajudar os agentes. “Nós nos sentimos ainda mais responsáveis e provocados para tentar ampliar esse espaço de apoio e trocas com os agentes culturais, que foram muito atingidos e desafiados a encontrar meios de realizar suas atividades, em contextos tão adversos. Chegamos a realizar plantões aos finais de semana para dar conta de receber fazedores de cultura que estavam tentando aproveitar algumas oportunidades emergenciais que surgiram”, disse Marize Figueira.

O apoio a curto e longo prazo

O trabalho de formação realizado pelo Naprocult é reconhecido tanto por integrantes de órgãos públicos quanto pelos agentes culturais. Sady Bianchin, secretário de Cultura de Maricá, acredita que a parceria entre a Secretaria de Cultura e o Naprocult beneficia os artistas e os produtores, permitindo aos “trabalhadores das artes um novo olhar ampliado sobre as políticas públicas culturais”. Já Ramon Lourenço Moraes,produtor cultural, acredita que ainiciativa promove a democratização do acesso à produção cultural por meio das consultorias gratuitas. “Por exemplo, eu sou de outro estado, eu moro no interior da Bahia, mas através desta ação pude corrigir um projeto cultural que enviei recentemente para um edital de fomento. A ajuda que recebi foi essencial para inscrever o meu projeto.”

Além do apoio imediato às ações culturais, os idealizadores do Núcleo acreditam na continuidade das ações. “Em longo prazo, acreditamos que nosso apoio contribui para que os produtores e gestores tenham autonomia para escrever seus próprios projetos culturais, que consigam identificar novas oportunidades de financiamento e assim tenham mais chances de viabilizar e potencializar as suas ações culturais. Também acreditamos que esses agentes culturais, em algum momento, consigam ser multiplicadores desses saberes e práticas desenvolvidos no processo.”

O Naprocult foi um dos ganhadores do prêmio Ordem do Mérito Cultural Carioca (2021),pelo trabalho prestado à cultura durante a pandemia de covid-19. Leia mais aqui.

Contatos Naprocult:

Site: https://xn--extenso-2wa.ufrj.br/index.php/70-naprocult/159-naprocult                             

Para agendar seu atendimento: https://formularios.tic.ufrj.br/index.php/814416                  

Instagram: https://www.instagram.com/naprocult_ufrj/?hl=pt-br  

Facebook: https://www.facebook.com/naprocult

Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Vanessa Silva.