A obesidade é uma das doenças que mais cresce no mundo. As mudanças na alimentação e no modo de vida são dois dos principais fatores para que os casos no país tenhammais que dobrado nos últimos 20 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingindo 26,8% da população.
Mesmo com tratamentos já muito conhecidos–reeducação alimentar, acompanhamento psicológico, exercícios físicos e, até mesmo, cirurgia–,a obesidade é uma doença difícil de combater, já que envolve diretamente a mudança de hábitos já enraizados no paciente. Um grupo de pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IbqM/UFRJ) e da Universidade da Califórnia (Ucla) descobriu que a inibição de uma proteína mitocondrial pode aumentar a queima de gordura no tecido adiposo.
Segundo Marcus Oliveira, um dos responsáveis pelo estudo, a pesquisa analisou a “gordura marrom”, tipo de gordura que absorve a glicose e as gorduras circulantes no sangue e as quebra, formando calor.
“Esse processo acontece em uma pequena organela denominada mitocôndria, que guarda características muito particulares nesse órgão.Quando a gordura marrom está ativada, há uma diminuição de gorduras e glicose no sangue, auxiliando até mesmo no tratamento da diabetes tipo 2”, explica.
Diferentemente da “gordura branca”, a marrom é considerada benéfica para o organismo, já que age na regulação de glicose e de outros tipos de gordura no corpo e, também, na manutenção da gordura corporal, uma vezque sua quebra é responsável por gerar calor.
“Ela deve ser estimulada, principalmente no contexto da obesidade–fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e câncer. Como a gordura marrom utiliza muita glicose e queima grandes quantidades de gordura, sua ativação é uma boa alternativa no combate à obesidade.”
Novas abordagens e fármacos mais eficientes
A pesquisa, publicada no periódico científico EMBO Reports, descobriu que o bloqueio de uma proteína específica nas mitocôndrias dos adipócitos aumenta a queima de gorduras e o gasto de energia sem que seja necessário o estímulo da adrenalina, um hormônio produzido no corpo humano e liberado sempre que há exposição a alguma situação extrema, como um mecanismo de defesa. O hormônio, também chamado de epinefrina, é secretado pelas glândulas suprarrenais, localizadas acima dos rins, no sistema endócrino.
“O grande problema da maioria das pesquisas que visam aumentar a quebra de nutrientes pela gordura marrom é que sãorealizadasna presença de estímulo adrenérgico, o que pode causar uma série de efeitos colaterais. Nosso trabalho demonstrou uma nova maneira de se aumentar a quebra de nutrientes na gordura marrom sem esse estímulo e sem um excesso de geração de calor”, conta Oliveira.
A iniciativa abre portas para a produção de novas drogas que podem ajudar, de forma independente, a promover a ativação da gordura no tecido adiposo marrom, aumentando a queima por meioda inibição de uma proteína mitocondrial denominada MPC (ou Carregador Mitocondrial de Piruvato). “Utilizamos uma droga que inibe especificamente a MPC. Novos estudos devem ser realizados a fim de bloquear essa proteína especificamente na gordura marrom, para que esse mecanismo seja utilizado no combate à obesidade.”
Leia, na íntegra, o artigo publicado no EMBO Reports.