Após 100 anos do primeiro registro, uma espécie de sapo integrante de um grupo popularmente conhecido como pingo-de-ouro foi redescoberta por pesquisadores do Museu Nacional (MN) e do Instituto de Biologia (IB) da UFRJ. A espécie Brachycephalus bufonoides foi encontrada em Nova Friburgo, Região Serrana fluminense, em pesquisa de campo realizada em 2015. O artigo que relata a redescoberta foi publicado em julho deste ano no periódico Zootaxa.
“A princípio, pensávamos que seria uma nova espécie, mas, após compararmos com exemplares no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ/USP) os quais foram obtidos em 1909, percebemos que se tratava de uma redescoberta”, conta o curador das coleções de anfíbios do Museu Nacional, José Pombal Jr. Como a descrição do começo do século passado era bastante sucinta, a comprovação veio após a análise osteológica de um exemplar testemunho da espécie armazenada em São Paulo.
O pesquisador trabalha com esse grupo de anfíbios desde a década de 1990, quando ingressou no mestrado. Naquela época, ele realizava as buscas por sapos dourados na região de Campinas (SP), mas o desmatamento levou ao desaparecimento da espécie que existiria naquela região. “A coloração laranja indica toxidade, o que é de interesse para pesquisas farmacológicas. No entanto, meu interesse no estudo desses animais é principalmente quem são as espécies do grupo, onde e como vivem”, explica Pombal, que tem parte de seus estudos financiados pelo programa de fomento à pesquisa Cientista do Nosso Estado (CNE) da Faperj.
Ao contrário da maioria dos anfíbios, as espécies do gênero Brachycephalus têm hábitos diurnos. “Geralmente faço minhas pesquisas de campo no período noturno e sou avisado, muitas vezes, por pesquisadores que estudam aves, que saem a campo durante o dia, sobre a ocorrência dessas espécies”, diz. Devido à sua coloração chamativa, os animais da espécie geralmente são notados por quem mora na região por eles habitada. Foi por conta de um registro feito pelo guarda florestal Leon Veiga, que trabalha naquela área de proteção ambiental, que a equipe coordenada por Manuella Folly encontrou a espécie. Também são autores do artigo os pesquisadores Lucas Coutinho Amaral e Sérgio Potsch de Carvalho e Silva.
Manuella fazia doutorado na UFRJ com bolsa da Faperj e viajou a Nova Friburgo em busca de outra espécie de pingo-de-ouro. Os pesquisadores relatam que essas viagens a campo costumam durar de três a quatro dias quando são realizadas na serra e reduzidas a um dia quando acontecem na Floresta da Tijuca, por exemplo. No reencontro com a espécie Brachycephalus bufonoides, foi possível gravar o coaxar dos animais pela primeira vez. A identificação do ineditismo do canto foi realizada com software específico. “Com o programa, conseguimos medir estruturas temporais e espectrais do canto, como, por exemplo, duração do canto, da nota, do pulso. Nós comparamos essas estruturas entre as espécies do gênero e o B. bufonoides apresenta maior número de pulsos, maior taxa de repetição de pulsos, maior frequência dominante, entre outros”, explica a bióloga.
Finalizado o processo de identificação, caracterização e publicação do artigo da espécie redescoberta, um processo que levou cinco anos, a equipe se prepara para submeter outro artigo que descreve uma nova espécie desse carismático gênero de anfíbio. “Com os laboratórios funcionando em esquema de rodízio e a obrigação do isolamento social, ironicamente temos mais tempo para escrever sobre os achados recentes”, conta José Pombal.
*Esta reportagem foi publicada no site da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) no dia 22/10. Clique aqui para acessar a versão original.