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UFRJ inicia testes clínicos com vacina BCG no combate ao coronavírus

Universidade também inaugurou laboratório de campanha para ampliação da capacidade de exames diagnósticos

O combate ao coronavírus não para: a UFRJ iniciou na segunda-feira, 5/10, os ensaios clínicos com a vacina BCG para a prevenção contra a COVID-19. Serão vacinados mil profissionais da saúde, que terão acompanhamento para a coleta de dados da pesquisa. 

A iniciativa, financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), conta com o investimento de R$ 1 milhão em recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) para a pesquisa, valor disponibilizado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Juntamente com outras autoridades, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, e o ministro do MCTI, Marcos Pontes, acompanharam os procedimentos no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, o maior do estado em volume de consultas ambulatoriais.

UFRJ pesquisa se BCG pode ser eficaz

A BCG é uma vacina aplicada no nascimento para prevenir formas graves de tuberculose em crianças. A investigação sobre a eficácia da BCG no combate ao coronavírus partiu de uma hipótese baseada em dados que mostram que países que mantêm o uso da vacina apresentaram menor incidência de COVID-19 em comparação com os que suspenderam o uso da BCG universal, como, por exemplo, os Estados Unidos, a Espanha e a Itália.xa0

A pesquisadora Fernanda Mello coordena a pesquisa | Foto: Neila Rocha/Ascom-MCTI

Fernanda Mello, professora de Tisiologia e Pneumologia do Instituto de Doenças do Tórax (IDT/UFRJ), coordena a pesquisa. A cientista explica que os estudos buscam responder se a vacina ajuda tanto na prevenção da infecção quanto na ocorrência de formas graves da COVID-19. “Temos evidências que, na verdade, neste momento, a revacinação traria uma nova carga de estimulação para essa imunidade inata, de forma que ela poderia se tornar mais eficiente para resposta a outros desafios, como, por exemplo, o vírus SARS-CoV-2”, afirmou.

Fernanda destacou, ainda, a importância do estudo junto aos profissionais de saúde: “Ao avaliarmos o efeito da vacina BCG entre profissionais de saúde, esperamos verificar seu potencial para evitar o adoecimento e as formas graves da doença entre eles, que representam o braço operacional da linha de cuidado aos pacientes com COVID-19. A manutenção dessa força de trabalho é fundamental para que seja garantido o melhor cuidado aos portadores do coronavírus”.

UFRJ agora pode fazer 300 testes por dia

A UFRJ também inaugurou as instalações do laboratório de campanha para testes diagnósticos no campus Cidade Universitária. O objetivo é aumentar a capacidade de realizar testes diagnósticos da COVID-19.

O cientista Amilcar Tanuri coordena o laboratório de campanha da UFRJ | Foto: Neila Rocha/Ascom-MCTI

O professor Amilcar Tanuri, também consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS), é coordenador do laboratório de campanha da UFRJ, que foi reformado com capacidade NB-2 de biossegurança e agora terá a capacidade de fazer 300 testes moleculares do tipo PCR por dia. Ainda que seja focado em testes moleculares, o laboratório também pode realizar exames sorológicos e antigênicos. Tanuri frisou que a UFRJ já realizou mais de 30 mil testes diagnósticos de coronavírus e a relevância da Universidade centenária no cenário brasileiro.

O professor destacou outros fatores importantes da iniciativa: “É interessante, nesta concepção de laboratório ligado à universidade, que os testes se tornam parte da pesquisa”, afirmou. “Não são meros testes, como são feitos em laboratórios privados, nos quais o paciente só recebe o resultado”.

Segundo ele, a estrutura moderna do laboratório está dando apoio ao estado do Rio, especialmente à comunidade da UFRJ, que soma mais de 70 mil pessoas, entre alunos, professores, técnicos-administrativos e terceirizados. A expectativa é dar mais segurança quando houver a retomada das atividades na Universidade. “Já estamos atuando na retomada de cursos que não podem ser on-line, como residência médica e internatos de Odontologia e Medicina, por exemplo.”

UFRJ no combate ao coronavírus

A reitora da UFRJ pontuou o trabalho árduo da Universidade no enfrentamento da pandemia. “Estamos há sete meses enfrentando essa doença, que é uma doença que acomete uma parte da população de forma muito grave. Desde o início, no mês de fevereiro, o GT Coronavírus da UFRJ já tinha emitido o primeiro boletim, sob a liderança do professor Roberto Medronho”, disse Denise, lembrando que, quando os álcoois tinham sumido das prateleiras dos mercados, a UFRJ produziu mais de 80 toneladas, distribuídas nas nove unidades de saúde da Universidade, bem como nos laboratórios.

A reitora da UFRJ, Denise Carvalho, enumerou a série de ações da Universidade no combate à pandemia | Foto: Neila Rocha/Ascom-MCTI

Denise citou algumas das ações da UFRJ no enfrentamento da doença. “Nós não só fizemos os 30 mil testes diagnósticos até aqui, como esses testes ajudaram a conhecer melhor essa doença, o curso clínico. Mais do que isso, ajudaram a validar outros tipos de testes. Em colaboração com outras instituições públicas, a validação de testes sorológicos e de testes de antígeno vem acontecendo com muita seriedade, com a excelência característica da nossa Universidade, que, obviamente, será muito importante não só para o Brasil, mas para o mundo”. 

“A UFRJ é uma instituição-modelo para as outras instituições de ciência e tecnologia, assim como a USP. Todas as nossas instituições federais de ensino superior do país foram capazes de desenvolver mais de 3 mil ações de enfrentamento da COVID-19, mostrando que o conhecimento gerado nas nossas instituições se irradia para a sociedade, e nós, como modelo, ficamos muito orgulhosos de estar no caminho certo”, disse Denise.

Marcos Pontes, ministro do MCTI, finalizou o evento frisando a importância da ciência | Foto: Neila Rocha/Ascom-MCTI

Marcos Pontes concluiu a cerimônia. “É difícil falar que uma pandemia tem um lado bom. Mas se tem um lado bom disso aqui é que, primeiro, ressaltou a importância da ciência e, segundo, ressaltou a importância da união para que a gente trabalhe junto para conseguir resolver esse problema”, disse. “Nós temos hoje no país um conhecimento dessa doença já muito acelerado, graças ao esforço dos nossos pesquisadores, esforço de muita gente em conjunto”.