Durante a pandemia do coronavírus, a Universidade precisou pensar em formas de se reinventar na formação de seus estudantes e na comunicação com a sociedade. Com esse intuito, o Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde desenvolveu, durante uma de suas aulas de pós-graduação, o podcast “Planejamentos e educação em saúde”, com áudios curtos em que os alunos falam sobre suas experiências no enfrentamento à COVID-19 para profissionais da saúde – e para toda a população.
Juliana Dias e Rita Vilanova, professoras do Nutes, são as responsáveis pela elaboração do projeto junto com os alunos da disciplina Planejamento Curricular e Ensino, oferecida para os cursos de pós-graduação da Faculdade de Medicina desde 1978. O conteúdo produzido para o podcast dialoga com a metodologia Narrativas Médicas, utilizada há dois anos pelas pesquisadoras.
“O objetivo dessa metodologia é narrar experiências da formação e prática profissional em saúde, com ênfase nas dimensões afetivas e empáticas. Com o canal, criaram-se oportunidades de trabalhar as narrativas a partir da oralidade, além da escrita. Com isso, ampliaram-se as possibilidades de narrar as vivências em saúde e refletir sobre os processos de educação, formação e comunicação”, ressaltam.
Inicialmente, os estudantes realizaram uma atividade que denominaram “Cartas aos futuros profissionais da saúde – lições sobre a COVID-19”, com discussões e leituras de textos. A atividade transpareceu e estimulou o compartilhamento das situações vivenciadas na prática pelos profissionais, com suas angústias, esperanças e conselhos para os futuros colegas de profissão.
Dóris Blanquet é enfermeira do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e, atualmente, cursa o mestrado na Clínica Médica sobre pesquisas clínicas. Há mais de 20 anos na Universidade, Blanquet relata que está em constante busca por novas experiências que possam auxiliar no desenvolvimento do conhecimento e no estímulo aos novos profissionais da área.
“Eu, na verdade, já poderia estar aposentada, mas a minha vontade de ter novas experiências faz com que eu me recicle, conte histórias que possam fazer essa juventude de hoje não esquecer do que foi o ontem e de como seremos importantes para o amanhã.”
Segundo Blanquet, o podcast proposto em sala de aula permitiu que compartilhasse sua experiência profissional e pessoal com os companheiros de disciplina, mas, também, para além da UFRJ. “Precisamos estimular, antes de tudo, um pensamento crítico. Saber fazer escolhas e usar a tecnologia em seu aprimoramento de conhecimento, além de saber dizer ‘não’”, conta.
Thalyta Georgia, fonoaudióloga e estudante da pós-graduação do HUCCF, relata que foi uma experiência nova e desafiadora produzir seu episódio do podcast. “Quando a professora pediu para transpor nossas narrativas para o áudio, pensei que seria simples, como gravar um áudio no WhatsApp. Mas tive de regravar algumas vezes até transmitir a mensagem que gostaria,que tivesse um material com qualidade suficiente para enviar.”
Para ela, as atividades propostas por Dias e Vilanova têm levantado muitas discussões que sozinha não teria alcançado. “Eu usava os podcasts apenas como lazer, mas essa disciplina me fez pensar nisso como uma fonte de informação, com fontes confiáveis e que eu possa divulgar para os meus pacientes, não apenas questões sobre saúde, mas conhecimentos que perpassem suas vidas como um todo.”
Narrativas que constroem o futuro
Embora a tecnologia dos streamings e plataformas de áudio esteja sendo muito utilizada devido ao isolamento social, ela pode ser uma maneira de criar uma ponte entre a universidade e a sociedade. As professoras afirmam que a comunicação é uma das competências das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Saúde e, com isso, o podcast pode criar possibilidades para exercitar esse diálogo,na medida em que esses conteúdos produzidos entram na rede e podem ser acessados sem restrição de público.
“Certamente, vivemos em um mundo híbrido entre o real e o virtual. A convergência das mídias faz parte das práticas e processos comunicacionais em que a ubiquidade, a conectividade e a mobilidade medeiam nossa relação entre corpo e ambiente. Em função da pandemia, os processos educativos têm incorporado essas ferramentas que nos permitem acessar a cultura digital. No entanto, esse uso deve ser problematizado e ressignificado constantemente para construir e compartilhar sentidos na educação em saúde”, explicam.
Para os estudantes, a disciplina vem permitindo uma maior reflexão sobre todas as questões de saúde, sociais, econômicas e políticas que perpassam a pandemia, gerando uma transformação interna, permitindo uma melhor percepção dos problemas dos pacientes e melhorando o atendimento que prestam.
“Além disso, a vivência é um momento de troca e uma oportunidade para que outros profissionais que escutem esse podcast possam entender o que está acontecendo conosco e se sentir acolhidos em suas trajetórias”, conclui Georgia.