O Centro de Documentação de Línguas Indígenas (Celin) do Museu Nacional (MN) recuperou manuscritos inéditos referentes ao povo Yawalapiti, do Alto Xingu. São cadernos de campoxa0de 1976, oriundos de uma pesquisa que integrou o projeto Estudo Sincrônico de Línguas Indígenas do Alto Xingu.
Os manuscritos escaparam do incêndio que atingiu o Palácio Imperial de São Cristóvão em 2018 e, um ano depois, passaram por um processo de recuperação digital, seguido de tratamento editorial e artístico. O resultado está disponível ao público em forma de livro, com 257 páginas e uma vasta documentação linguística doxa0Yawalapiti. Os primeiros registros desta língua foram feitos em 1894 pelo etnólogo alemão Karl von den Steinen.
A aldeia Yawalapiti está próxima ao rio Tuatuari, em Mato Grosso, e tem população de 262 indivíduos. Também vivem no Alto Xingu as etnias Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai e Wauja.
Continuidade
Juntamente com as línguas Waurá e Mehinaku, a língua Yawalapiti pertence à família Aruak. Para Charlotte Emmerich, professora titular aposentada do MN e coordenadora do projeto que propiciou o levantamento, a divulgação desse material linguístico é importante “por se tratar de uma língua ainda pouco conhecida e muito pouco estudada”. Ela escreve, no prefácio da obra: “A vida e a vitalidade da língua e de seus falantes são indubitavelmente de importância primordial para a cultura, a memória e a história de um povo. Considerando que os Yawalapiti são mencionados, desde os primórdios do contato, como um grupo étnico forte e presente na região do Alto Xingu, todo esforço em prol da sua vida, cultura e revitalização linguística é sobremaneira meritório”.
Marília Facó, professora do MN e curadora dos acervos linguísticos da unidade, lembra que muitas línguas atualmente no mundo estão ameaçadas e, portanto, vários povos originários vêm desenvolvendo políticas para enfrentar essa situação. “São ações para a retomada das línguas às quais vinculam suas epistemologias, seus saberes, sua memória, sua cultura”, explica. Os Yawalapiti estão nesse grupo. Assim, esse material linguístico de 40 anos atrás pode fazer a diferença. “Considerando que, na atualidade, aumenta o número de estudiosos que são, eles próprios, membros de povos nativos, não é difícil avaliar o impacto positivo de uma publicação como essa para os próprios povos originários, seja para o povo cuja língua se encontra em foco, seja para outros, como exemplo e fonte de inspiração – o que inclui todos os povos do Alto Xingu e de outros lugares”, observa.
Divulgação
A recuperação desses manuscritos integra as ações de curadoria do Celin e se articula a outras atividades do Setor de Linguística do MN, como a divulgação científica. O produtor cultural Nicolas Alexandria, um dos responsáveis por essas atividades, enxerga na publicação um estímulo para outras iniciativas. “Nós estamos muito felizes com a salvaguarda do material linguístico dos Yawalapiti. Precisamos valorizar as iniciativas dos próprios povos indígenas, com seu protagonismo, para manutenção das suas línguas e culturas. O que fazemos no Setor de Linguística é procurar uma intersecção positiva entre a nossa produção cultural e a dos indígenas do/no Brasil com a produção científica de ponta, inclusive proporcionando a inserção de alunos indígenas nesse universo acadêmico”, afirma.
O livro Documentos do Projeto Estudo Sincrônico de Línguas Indígenas do Alto Xingu (Rio de Janeiro: Museu Nacional, UFRJ, 2019) pode ser acessado neste link. Vale a leitura!