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Nos bastidores da Ópera

As escolas de Música (EM), de Comunicação (ECO) e de Belas Artes (EBA), entre outras unidades da UFRJ, se uniram para trabalhar de forma integrada. Surgiu, assim, a Ópera da UFRJ. O projeto, que em 2019 alcançou a sua 22ª montagem, apresentou O Elixir do Amor, de Gaetano Donizetti, compositor do Romantismo italiano. Nos meses de junho e julho, a reportagem do Conexão UFRJ acompanhou o envolvimento de alunos e professores nos bastidores da produção.

O projeto foi criado em 1994 por iniciativa dos alunos da EM da UFRJ. Desde essa época, é um espaço em que os alunos conseguem ter experiências interdisciplinares e conhecem como funciona uma produção profissional, com a orientação de professores. O figurino, o cenário, a iluminação e até a regência ficaram sob a responsabilidade dos estudantes.

Seis estudantes posam para foto no centro do palco, com o cenário do espetáculo montado.
Conexão UFRJ acompanhou o trabalho dos estudantes nos preparativos da ópera O Elixir do Amor, apresentada em junho e julho de 2019. Foto: Ana Marina Coutinho (Coordcom/UFRJ)

Liberdade e responsabilidade

Sob a orientação da professora Desirée Bastos, a equipe de figurino vestiu os mais de 50 integrantes da ópera. Julia Oliveira, 19 anos, 3º período; Igor Nascimento, 19 anos, 3º período; e Rafael Torres, 20 anos, 5º período, todos do curso de Indumentária da EBA, foram os responsáveis pelo projeto.

Os três já haviam trabalhado em edições anteriores como assistentes e explicam que existe certa hierarquia a ser seguida. É preferível que os responsáveis pelo projeto já tenham trabalhado anteriormente como assistentes ou estagiários, para assim conhecerem como funciona todo o processo e sua lógica.

Os alunos ressaltam a importância de ter a oportunidade de participar de um projeto com nível profissional, com todos os desafios que uma grande produção apresenta. Encontrar o equilíbrio entre ser criativo e administrar os recursos (pessoais, de tempoxa0 ou financeiros) nem sempre é uma tarefa fácil. Por isso, eles reconhecem o crescimento pessoal e o profissional após terem feito parte da ópera.

Dois estudantes estão diante duas máquinas de costura, fabricando a vestimenta que será usada na ópera O Elixir do Amor
Estudantes costuram a vestimenta usada em cena. Foto: Ana Marina Coutinho (Coordcom/UFRJ)

“Quanto mais você se arrisca, mais você consegue ter destaque lá fora. Eu mesmo fazendo ópera já fui fazer entrevistas para estágio e sempre me perguntavam como era essa tal ópera, por que isso estava no meu currículo. Tinha tantas outras coisas lá e as pessoas sempre me perguntavam sobre a ópera. Então isso dá um peso e é um destaque no meu currículo”, afirma Igor Nascimento.

A professora Desirré Bastos tem uma relação muito próxima com o projeto. Ela começou a fazer parte da equipe em 2001, ainda como aluna e, em 2011, quando passou a integrar o quadro de professores da Universidade, tornou-se orientadora.

“É realmente um projeto importante da UFRJ, especialmente pensando que as pessoas sempre falam muito das ciências, das tecnologias e falam muito pouco da produção artística da UFRJ. Então eu acho importante a gente valorizar e falar que a gente faz realmente coisas de alto nível, mesmo no âmbito acadêmico.”

Cenário e regência

Jovanna dos Reis Souza, 20 anos, aluna do 5º período do curso de cenografia, foi a responsável pelo projeto. Entre suas funções, estavam a de coordenar a equipe composta por assistentes, estagiários e cenotécnicos, administrar a verba designada à composição do cenário e prestar contas de todo o valor gasto.

Para ela, o mais significativo foi o conhecimento técnico que acumulou: “O que eu mais aprendi foi o conhecimento de técnica principalmente. Por exemplo, antes de ter contato com a (equipe de) pintura, eu jamais teria colocado um azul no meio das plantas, para destacar as cores, para dar profundidade. Esse lado técnico da pintura foi muito legal, aprender como se faz, as diferenças que cada pincelada dá, um resultado diferente, um efeito diferente. Então realmente essa troca foi muito legal e saber realmente como funciona o curso deles também, porque às vezes a gente passa pelo ateliê e vê cada salinha e não tem ideia de como eles fazem aquilo. Ver como é que eles fazem isso, porque que eles fazem isso e entender agora é muito legal”.

Imagem em preto e branco. Uma orquestra é regida por um estudante, ao fundo.
Felipe Damico, ao fundo, transformou a regência da Ópera em Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Na foto de Ana Marina Coutinho, os músicos ensaiam

Essa edição contou ainda com a regência de um aluno. Felipe Damico apresentou como recital de formatura a regência de O Elixir do Amor. Ele destaca: “É um projeto de grande notoriedade tanto para a instituição quanto para os alunos, pois ele atrai o público para dentro da universidade e isso nos traz a possibilidade de (nos) integrarmos com a comunidade. Fora que uma ópera é o encontro de todas as artes. Então, para mim, esse é o ponto mais importante, pois dá a oportunidade para todos os cursos da classe artística participarem”.

Um dos diferenciais do projeto é a interdisciplinaridade entre diferentes cursos e áreas da Universidade. O processo criativo durou cerca de quatro meses e teve início com reuniões entre os setores para planejamento. Depois disso, partiu-se para o alinhamento entre os projetos das equipes e os objetivos da direção. A ópera O Elixir do Amor ficou em cartaz entre os dias 27/6 e 30/6, no Salão Leopoldo Miguez, na EM da UFRJ. Durante os quatro dias de apresentação, cerca de 1.500 pessoas assistiram ao espetáculo.

Artistas em cena, no palco, ao fundo. À frente, uma orquestra. As pessoas encenam a ópera O Elixir do Amor
Enfim, a ópera O Elixir do Amor em cena. Foto: Diogo Vasconcellos (Coordcom/UFRJ)