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Astronomia: estudantes da UFRJ conquistam a Nasa

O Universo tem cerca de 14 bilhões de anos e possui 100 bilhões de galáxias. E em apenas uma delas está o nosso mundo, esse quase-infinito que tem sido habitado pelos seres humanos há cerca de 350 mil anos. Diante de números tão grandiosos, chega a ser curiosa a comemoração de um feito como a primeira ida do homem à Lua, que completou 50 anos no último mês de julho. Especial também foi a chegada de duas estudantes da UFRJ ao maior centro de pesquisa espacial: a Nasa.

Camilla de Sá e Carolyne Oliveira, duas mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Astronomia da UFRJ, conseguiram neste ano duas bolsas para um intercâmbio nos Estados Unidos concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A partir da indicação feita pela orientadora de Carolyne, a pesquisadora Karín Menendéz, as estudantes ficaram cerca de três meses na cidade de Greenbelt, onde estiveram em contato com diversos acadêmicos. Entre eles, está a cientista Antara Basu-Zych, especialista da Nasa cuja área de estudo é convergente com a das jovens pós-graduandas.

As pesquisas de Carolyne e de Camilla estão dentro da área de Astrofísica Extragaláctica, que estuda outras galáxias para além da que estamos: a Via Láctea. Enquanto o projeto de Carolyne estuda galáxias próximas que sejam similares a outras mais primitivas, Camilla investiga como as galáxias morrem, estado que é identificado quando elas param de formar estrelas. Com pesquisas relevantes em nível internacional, as duas jovens têm trajetórias diferentes.

Perfil das estudantes

Carolyne se descreve como uma menina da Baixada Fluminense, mais especificamente de Duque de Caxias, e filha da dona Jô. Entrou na UFRJ ainda com seus 17 anos, no curso de Matemática, totalmente perdida. Não se adaptou, mudou para Física e durante a segunda graduação descobriu a Astronomia. A partir de então procurou iniciação científica na área. Depois de um ano, trocou de curso, em 2013, emendando no mestrado logo em seguida.

Já Camilla veio de sua cidade natal, Volta Redonda, direto para estudar no Observatório do Valongo, onde o curso de Astronomia é oferecido. Nascida em uma cidade do interior, ela teve a possibilidade de crescer com um céu noturno bem limpo e com estrelas mais brilhantes do que parecem ser nas grandes cidades. Desde pequena, nutriu interesse pela Ciência e teve o apoio dos pais para descobrir como seria o curso e a experiência.

Carolyne e Camila posam para a foto
Carolyne e Camila no Observatório do Valongo, depois da viagem. Foto: Diogo Vasconcellos (Coordcom/UFRJ)

Apesar de hoje serem pesquisadoras que se destacam e que viveram experiências muito relevantes na área, como o intercâmbio na Nasa, as duas jovens se ressentem pela não valorização da disciplina e pela falta de investimento na área no Brasil. Camilla explica que a Astronomia é uma ciência básica e que, por isso, não é fácil encontrar usos e aplicações dela no cotidiano. No entanto, é a ciência básica que alimenta a ciência aplicada. “Se a gente pensa o que historicamente a Astronomia trouxe, a gente pode pensar em GPS e em câmera fotográfica, que foi desenvolvida para observações astronômicas, por exemplo. Um país que não investe em ciência básica vai ficar atrasado na ciência aplicável”, explica Camilla.

A ida do homem à Lua trouxe como consequência avanços notáveis, como o forno micro-ondas, o computador e a criação das lentes de contato – as bases foram tecnologias utilizadas nas aeronaves ou para os astronautas, como as lentes utilizadas para protegê-los da luz ultravioleta. Fato é que a Astronomia é responsável por essas e diversas outras inovações que permeiam a vida dos humanos na Terra.

“Fuga de cérebros”, uma preocupação

Karín Menendéz, professora responsável pelo projeto que levou Carolyne e Camilla à Nasa, explica que o Programa Geral de Cooperação Internacional (PGCI) era da Capes e foi extinto. O projeto dela foi aprovado há dois anos e ainda terá mais dois de atuação. Depois, as colaborações internacionais, muito relevantes na Astronomia, ficarão prejudicadas devido ao fim do programa e outros cortes na pesquisa.

Em meio a esse cenário, quando perguntadas sobre os próximos planos após o mestrado, tanto Carolyne quanto Camilla são enfáticas ao afirmar que pretendem tentar o doutorado em países da Europa ou nos Estados Unidos, devido à valorização da pesquisa nesses lugares. “São quatro anos de estudo e ficar aqui sem ter certeza se haverá ou não bolsa durante todo esse período é uma loucura”, ressalta Carolyne.

Uma jovem mulher negra está posicionada de perfil, conversando. Ao fundo, uma tela de computador exibe imagens aleatórias
Carolyne demonstra preocupação com o futuro. Foto: Diogo Vasconcellos (Coordcom/UFRJ)

Karín, a orientadora, lamenta o fim do programa e a diminuição dos investimentos na pesquisa, porque o resultado muitas vezes é a perda de mentes brilhantes, como possivelmente acontecerá com as duas jovens estudantes. “Saem daqui alunos e pesquisadores de muita qualidade, mas sem dinheiro e sem financiamento eles ou deixam a pesquisa por completo e abandonam a Ciência ou passam a fazer um trabalho em Ciência, mas em outro país. As duas opções são muito ruins para o Brasil“, finaliza.

Relembrando…

A operação de chegada à Lua foi realizada pelos astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Buzz Aldrin, a bordo da nave Apollo 11, em uma operação liderada pela agência do Governo Federal dos Estados Unidos responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial. Resultado de muitas tentativas anteriores e de um revide norte-americano à conquista soviética de enviar pela primeira vez uma pessoa ao espaço, a ida à Lua significou, nas palavras de Neil Armstrong, “um grande passo para a humanidade”. Após este dia, ficou provado que as descobertas astronômicas e o desenvolvimento tecnológico caminham juntos.

Close-up da pegada de um astronauta no solo lunar
Pegada de um astronauta em solo lunar. Fonte: NASA Image and Video Library