Pela primeira vez, em quase 100 anos de história, a UFRJ será conduzida por uma mulher. Na manhã da última segunda (8/7), a professora Denise Pires de Carvalho assumiu o cargo de reitora da Universidade. A transmissão oficial de cargos aconteceu no auditório do Centro de Tecnologia (CT) e reuniu mais de 1.200 pessoas, entre docentes, discentes, técnicos-administrativos e autoridades públicas. Foram transmitidos também os cargos de vice-reitor, para o professor Carlos Frederico Leão Rocha, e de pró-reitores. A nova gestão irá até 2023.
Representantes da UFRJ e de outras instituições parabenizaram a nova reitora, desejando sucesso na condução da maior universidade federal do país. Para Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a ocupação do cargo máximo da Universidade por uma mulher “valoriza a participação feminina em toda a UFRJ e é decisiva para a renovação que a instituição busca e precisa”.
Membros de entidades científicas (Associação Brasileira de Ciências e SBPC), da indústria (Firjan), bem como dos sindicatos dos técnico-administrativos (Sintufrj) e dos professores (Adufrj) e o movimento estudantil da UFRJ (DCE Mário Prata e Associação de Pós-Graduandos), destacaram a necessidade do fortalecimento e união da instituição, tanto interna quanto externamente, para resistir à atual conjuntura política e econômica que o Brasil atravessa.
“Nunca enfrentamos um momento em que o valor da Universidade é posto em questão. Estaremos juntos porque a universidade pública sempre será o lugar do conhecimento, do combate ao preconceito, de resistência a qualquer barbárie. Viva a UFRJ!”, disse João Carlos Salles, reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
A eleição de uma mulher como reitora e a realização da transmissão de cargos de forma democrática e republicana são motivos de orgulho e celebração para a comunidade universitária. O ex-reitor Roberto Leher classificou a cerimônia como um gesto de celebração da autonomia universitária, que deve ser comemorado em especial no momento em que as instituições públicas de ensino vêm sofrendo ataques.
“Nos momentos mais delicados, a Universidade não se furtou a manter sua unidade, seu protagonismo e sua coragem”, lembrou Leher, agradecendo à comunidade pelo apoio prestado durante a gestão 2015-2019. “Fico honrado com a oportunidade de ter sido reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ser reitor de uma universidade que tem uma história como a da UFRJ é algo que só pode ser celebrado como um momento importante da nossa condição de professores e servidores públicos”, concluiu, desejando sucesso à nova reitora e sua equipe.
Em seu primeiro discurso oficial como vice-reitor, Rocha reafirmou o papel social da UFRJ. “A Universidade é um veículo de transformação, questionadora em sua essência e nunca foi tão necessária a este país por seu potencial crítico e capacidade inovadora, contra o obscurantismo que paira.”
Denise, por sua vez, iniciou sua fala celebrando a força feminina na figura de sua vó e de sua mãe, professora aposentada da rede pública de ensino. Segundo a nova reitora, foi por meio do exemplo delas que decidiu seguir carreira na educação, aceitando os desafios de liderar a maior universidade federal do Brasil.
Além de dar continuidade a projetos importantes, como o VivaUFRJ e a recuperação do Museu Nacional, a nova gestão terá grandes desafios a enfrentar em termos de ensino, pesquisa e extensão. Com a meta de reduzir as taxas de evasão na Universidade, Denise Carvalho reafirmou o compromisso com o fortalecimento das políticas de assistência estudantil.
Ela lembrou que, nos últimos anos, ainda que refém de cortes no orçamento, a UFRJ tornou-se mais democrática, inclusiva e diversa, devendo continuar assim daqui para a frente. “Atuaremos baseados sempre em princípios republicanos e democráticos. Nossa Universidade continuará pública, destinada ao povo e à coletividade. Gratuita, de qualidade, inclusiva, democrática e laica”, garantiu.
Outro objetivo é a aprovação de uma política de inovação, visando modernizar a estrutura de ensino, pesquisa e extensão e ampliar o protagonismo da UFRJ em termos nacionais e continentais. “Pretendemos ser os agentes articuladores da modernização desta instituição secular. A qualidade acadêmica tem sido garantida desde a sua criação, há quase um século. A excelência, por outro lado, deve estar sempre em nosso horizonte”, disse Denise.
O esforço será aproximar a Universidade da sociedade, incorporando a transversalidade de um modo menos vertical e hierárquico de produzir e lidar com o conhecimento. “A UFRJ será diferente. Não há mais espaço no mundo atual para o exílio da academia. As instituições de ensino são reconhecidas pela sociedade e estão evoluindo, cada vez menos encasteladas, participando das transformações sociais. E a UFRJ vai ser assim: cada vez mais atuante”, concluiu Denise.
WebTV UFRJ transmitiu evento
A webTV UFRJ fez cobertura ao vivo da cerimônia, entrevistando, inclusive, representantes da UFRJ e de outras instituições. Assista.