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Pesquisadores da UFRJ descobrem caminho para tratar mal de Alzheimer

O mal de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa e uma das mais frequentes da espécie humana. Ela produz alterações do funcionamento cognitivo, afetando a memória, a linguagem, o planejamento, as habilidades visual-espaciais e o comportamento. O mal de Alzheimer afeta tanto a pessoa doente como os que vivem ao seu redor. Isso porque os efeitos colaterais vão desde apatia e agitação à agressividade e delírios.

Além disso, essas alterações limitam progressivamente a pessoa nas suas atividades da vida diária, sejam elas profissionais, sociais, de lazer ou mesmo domésticas e de autocuidado. Embora acompanhe os humanos há bastante tempo, até então não havia notícias, no meio científico, acerca das possibilidades reais de cura ou de tratamento intensivo para o mal de Alzheimer.

No entanto, no mês de junho deste ano, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) anunciaram a descoberta de uma estratégia para diagnosticar e tratar o mal de Alzheimer. A pesquisa foi um dos destaques numa das principais publicações científicas especializadas, a revista Journal of Neuroscience, e teve repercussão nacional e internacional.

Experiência em animais restaurou funções do cérebro

Segundo os pesquisadores que se dedicam ao estudo há 7 anos, os testes realizados em animais demonstraram que a estratégia deteve o processo de perda de funções do cérebro causado pela doença em sua fase inicial. Foi possível restaurar a memória a partir do restabelecimento da comunicação interrompida de sinais nervosos.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, Flavia Alcântara Gomes, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ, a descoberta não significa a cura, mas sim uma estratégia para conter o avanço da doença.

“Os astrócitos são as células responsáveis pela sustentação e a nutrição dos neurônios. No mal de Alzheimer, essas células sofrem algumas alterações de tamanho. E, quando afetadas, diminui-se a concentração de uma substância essencial para a comunicação neural. Ao restaurarmos os níveis normais da substância, o cérebro de animais também recuperou funções perdidas devido à doença”, afirma a cientista.

De acordo com a pesquisa, os astrócitos, sendo menores do que o seu tamanho normal, produzem menor concentração de uma substância chamada TGF-b1.

“A substância é fator de crescimento essencial para as sinapses, isto é, a comunicação de sinais nervosos. Isso ocorre porque esses astrócitos doentes são atacados pelos oligômeros, compostos ligados à inflamação. Nós injetamos quantidades de TGF-b1 nos animais testados e, com isso, eles recuperaram a memória e outras funções cerebrais”, esclarece Flávia.

Ainda segundo a coordenadora do estudo, essas descobertas mostram que pode ser possível detectar e diagnosticar a doença em sua fase inicial e, com isso, evitar que a doença se desenvolva ou se agrave.

“Mais importante do que achar a cura da doença, é conseguirmos identificar a doença em momentos precoces, ou seja, bem cedo. O que acontece é que, muitas vezes, a gente acaba diagnosticando no momento em que já é mais difícil frear a doença. Então esse modelo de estudo é interessante porque foram feitos testes com animais. Com isso, conseguimos entender o mecanismo e validá-lo mesmo em animais”, explica a pesquisadora.

Ilustração Alzheimer
Foto: Pixabay

Estudo é 100% brasileiro

Por ter tido uma enorme repercussão internacional, os cientistas responsáveis afirmam que é importante frisar que a pesquisa é 100% brasileira.

De acordo com Flávia, a pesquisa é multidisciplinar e vem sendo feita por vários grupos de pesquisa da UFRJ. Os grupos são formados por Flávia Gomes, do Instituto de Ciências Biomédicas; Fernanda de Felice e Sérgio Ferreira, do Instituto de Bioquímica Médica; e Jorge Marcondes, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

Além disso, ela é financiada pelos governos federal e estadual, sendo a maior parte pelo governo do estado do Rio de Janeiro. Porém, embora já tenha chegado a resultados que surpreenderam a comunidade científica nacional e internacional, Flávia Gomes teme que o corte de verbas do governo federal para o setor de educação, ciência e tecnologia possa afetar, no futuro, a a continuidade da pesquisa.