Na fronteira entre os estados do Rio Grande do Norte (RN) e do Ceará (CE), está localizada a Formação Açu, uma formação geológica da Bacia Potiguar que remete ao início do período cretáceo – 145 a 66 milhões de anos atrás. Ao longo dos últimos 10 anos, a equipe do Laboratório de Macrofósseis do Departamento de Geologia da UFRJ vem desenvolvendo pesquisas na região, em uma parceria que envolve outras universidades, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern).
Um dos resultados mais recentes da pesquisa de campo trata da descoberta de 43 novos fósseis de dentes de abelissaurídeos, dinossauros carnívoros médios encontrados na região. O achado é raro, já que normalmente são encontrados apenas os dentes isolados, quase nunca em um grande número como neste caso. O fato indica uma predominância do grupo na região, o que pode demontrar a ausência de dinossauros de grande porte naquele território, bem como propor novos caminhos de investigação. O trabalho é parte da pesquisa de mestrado do biólogo Theo Batista – graduado pela UFRJ e atualmente doutorando em Ecologia e Evolução na Uerj. Foi a partir desse processo que foi desenvolvido um aplicativo para identificação dos dentes de dinossauros.

Normalmente, o processo de identificar os fósseis leva em consideração um grande número de dados: altura, largura e comprimento do dente, entre outros. Para isso, muitos pesquisadores vinham se utilizando de tecnologias machine learning, um campo da inteligência artificial, ainda que de maneira experimental. Sem conhecimento avançado em programação para que pudesse aplicar aquelas técnicas, Theo entrou em contato com o seu primo, o engenheiro Luiz Velipe Veque, que, em poucos dias, desenvolveu um aplicativo on-line para identificação dos dentes de dinossauros. O Dino Toothfier agora está disponível gratuitamente para todos os interessados.
O funcionamento é simples. O usuário insere as medidas dos fósseis em uma planilha-modelo, a envia ao aplicativo, que está hospedado em plataforma web, e o algoritmo compara os dados com uma base já existente, retornando com os grupos de dinossauros mais prováveis. Com uma interface simples, o aplicativo traz consigo a possibilidade de democratizar um conhecimento que até então poderia ser inacessível para muitos pesquisadores. Até o momento, testes preliminares têm demonstrado acerto superior a 90%.
A investigação foi destaque na revista da Sociedade Americana de Paleontologia de Vertebrados (Journal of Vertebrate Paleontology), em junho deste ano, sobretudo por possibilitar a classificação de dentes isolados de forma mais ágil e fácil. “O objetivo foi justamente este: democratizar esse tipo de análise, porque muitas pessoas, pesquisadores e entusiastas, às vezes não estão tão familiarizados com o nível de linguagem de programação que você tem que saber para fazer uma análise dessas. (…) Você só coloca ali no aplicativo e, num piscar de olhos, ele te entrega quase imediatamente”, explica Theo.


Para Lílian Bergqvist, coordenadora do Laboratório de Macrofósseis e uma das orientadoras da pesquisa de Theo, o método também expande a confiabilidade da descoberta: “É uma forma de agilizar o trabalho e dá uma certa confiabilidade, porque deixa de ser a interpretação do pesquisador para ser algo que é matemático”, defende ela.
Além de Lílian, a investigação também conta com a orientação de Paulo Brito, do Laboratório de Ictiologia Tempo e Espaço da Uerj, e com a participação do técnico de laboratório da UFRJ Paulo Victor Pereira, bem como de outros parceiros nacionais e internacionais.
Para acessar o aplicativo, clique aqui.
