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Nei Lopes agora é doutor honoris causa pela UFRJ

Multiartista e ex-aluno da Universidade, Nei é um dos mais importantes nomes do samba e da música popular brasileira

Por unanimidade e sob aplausos. Foi assim a aprovação da concessão do título de doutor honoris causa ao compositor, cantor, escritor, advogado, estudioso das culturas africanas e ex-aluno da UFRJ Nei Braz Lopes. A decisão pela outorga aconteceu na sessão ordinária do Conselho Universitário (Consuni) desta quinta-feira, 24/2.

Já condecorado com o título pelas universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), além da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),  Nei acumula, pelo menos, 20 obras pautadas sobre a luta contra a discriminação da população negra, que entrelaça violação de direitos sociais, culturais e econômicos com desrespeito de seus direitos civis e políticos. O livro História e cultura africana e afro-brasileira, publicado em 2008, foi um dos que conquistou o Prêmio Jabuti. 

“Em suas obras, o autor demonstra como as ideias positivistas em voga no século XIX contribuíram para que uma suposta ideia de inferioridade das culturas afro-brasileiras adentrasse no inconsciente nacional. O racismo estrutural é, indubitavelmente, objeto dos estudos de Nei Lopes – que aborda e cataloga com maestria a cultura afro-brasileira ao mesmo tempo que analisa o resultado de sua opressão nas relações sociais”, lembrou a professora Elaine Rodrigues, parecerista do processo no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE).

Do Nei Lopes, músico desde a década de 1970, nascido em Irajá, seu reconhecimento no país é firmado também pela parceria com o cantor Wilson Moreira, nascido em Realengo, ambos do subúrbio carioca. “Possuidor de uma discografia ampla, Nei Lopes teve a oportunidade de fazer um dueto com Chico Buarque com a música Samba de Irajá. São várias as suas parcerias com músicos como Ivan Lins, Zé Renato, Ed Motta, entre outros. Destaca-se também o seu envolvimento com as escolas de samba cariocas. Na Acadêmicos do Salgueiro como compositor e membro da Velha-Guarda e, na Vila Isabel, como dirigente. Atualmente, mantém com essas agremiações relações afetivas”, afirmou o professor Fabio Lessa, relator do processo no Consuni. 

O novo doutor honoris causa pela UFRJ também recebeu em 2012 a medalha da Ordem de Rio Branco, pelo Ministério das Relações Exteriores. Ao site Literafro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nei conta sobre sua experiência com os estudos na área de interesse.

É bom frisar que todos os estudos que publiquei foram criados a partir de uma busca por explicações para a questão do negro no Brasil e no mundo. E essa busca foi meramente existencial e política, sem nenhum objetivo acadêmico, pois sou detentor apenas de um grau de bacharel em Direito (embora essa graduação na época se referisse a “Direito e Ciências Sociais”). Em quase 30 anos de estudos e pesquisas, acumulei muito conhecimento. Então, chegou um momento em que senti necessidade, talvez por uma espécie de catarse, de manipular esse conhecimento, de colocá-lo do meu jeito. E aí veio a ficção, sempre meio fantástica, mas tangenciando a realidade, bem-humorada como eu.

Nei Lopes

Lessa destacou a importância da representatividade de Nei Lopes para o Brasil. “Podemos inferir a relevância da trajetória de Nei Lopes em prol da reflexão sobre as questões do negro na sociedade e na cultura brasileiras. Como advogado, pesquisador, músico e literato, a sua luta está sempre pautada na construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática”, concluiu o docente.